DAN Galeria apresenta Pã sem Flauta, com pinturas inéditas de Cabral
Com curadoria de Luiz Armando Bagolin, mostra reúne 26 pinturas, inspiradas em situações cotidianas, literatura, mitologia, e filosofia, com ampla variedade de cores e composições vibrantes
- Data: 21/10/2024 13:10
- Alterado: 21/10/2024 14:10
- Autor: Redação
- Fonte: Assessoria
Pã sem flauta, 2023, óleo sobre tela, Cabral
Crédito:Nelson Kon
A DAN Galeria abre no dia 26 de outubro, a exposição “Pã sem Flauta”, um conjunto de 26 obras inéditas da produção mais recente do artista Antonio Hélio Cabral, que dá continuidade ao seu trabalho ininterrupto com a pintura, iniciado na década de 1970.
A mostra marca a nova parceria com a galeria, que passa a representar o artista.
Criadas, em sua maioria entre 2022 e 2024, as obras selecionadas abrem um leque de possibilidades em diferentes direções, sem abandonar a ironia, recurso já conhecido no trabalho do artista, seja nos títulos ou nos grafismos e desenhos. Com curadoria de Luiz Armando Bagolin, a mostra fica em cartaz até 8 de março de 2025.
Em combinações vibrantes de cores, as telas revelam movimentos de corpos e cabeças que surgem do próprio ato de pintar. Diferente da tradicional composição de pintura, na qual as figuras são o elemento principal e vão sendo construídas propositalmente, Cabral dá vida a essas formas sem planejamento e intensão representativa, por meio de justaposições, aglutinações e sobreposições de tintas e pinceladas.
“Penso a figura como derivada da pintura. O contrário disto, figura pintada, é tudo que não desejo”, afirma Cabral. “Trabalho a forma e o fundo juntos. Não costumo centrar a
pintura em cima de uma figura que tem um imaginário fechado”, explica. “Enquanto
crio, surgem, desaparecem e aparecem novamente outras subfiguras. Então, é um
imaginário que se movimenta, não é fixo a uma determinada imagem do começo ao
fim”, fala. “Muitas vezes, quando a pintura termina, ela não tem absolutamente nada a
ver com aquilo que foi a motivação para começar.”
A literatura, a filosofia e a mitologia são fontes de inspiração recorrentes de Cabral
para a produção de suas obras, além de situações do dia a dia, que causam impactos
visuais e geram outros disparos criativos. A tela Pã sem Flauta (2023), que dá nome à
mostra, por exemplo, faz referência ao deus dos campos, rebanhos e pastores, na
mitologia grega, sempre representado com uma flauta. “Essa é uma pintura que ficou
com uma cara de pastoral, um ambiente ligado a criaturas mitológicas. Então, pensei
no Pã e fiz essa brincadeira do Pã sem flauta”, comenta Cabral.
Lótus (2020) surge de um imaginário sobre o Oriente. “Na pintura tem um amarelo que
é quase colocado puro, na verdade, normalmente não costumo usar cores puras, mas
nesse quadro elas estão dessa forma. Com isso, uma das ideias do nome foi porque na
cultura oriental, o lótus é uma flor ligada a pureza”, afirma.
Outro gatilho que ajudou a compor o título da obra foi a história O Lótus Azul – cor
também presente na pintura –, da série As Aventuras de Tintim, produzida pelo belga
Hergé. O álbum aborda a viagem do jovem repórter Tintim e seu cão Milu, que são
convidados para ir a China no meio da invasão japonesa de 1931, onde ele revela as
maquinações de espiões japoneses e descobre um anel de contrabando de drogas.
O toque de magia contido na peça teatral A Tempestade, do dramaturgo William
Shakespeare, foi referência para denominar o óleo sobre tela Próspero (2023), nome
do protagonista da história. Duque de Milão e mago de amplos poderes, o personagem
foi raptado pelo irmão e, em um ato de traição política, jogado em uma Ilha deserta,
junto a sua filha Miranda.
Duas obras criadas neste ano receberam títulos de nomes de poetas italianos,
Leopardi, em referência a Giacomo Leopardi, um dos maiores expoentes da poesia de
seu país, e Petrarca, em alusão a Francisco Petrarca, que aprimorou o tipo de poema
chamado “soneto” e também tido como o pai do Humanismo. Segundo Cabral, a
sensação que a primeira pintura causa é semelhante à dos textos do poeta, conhecido
pelo ceticismo, pessimismo e melancolia em suas obras. “Já em Petrarca, no meio
daquela comoção de tintas, existe uma ideia de retrato quase que renascentista, uma
figura clássica, por isso a referência”, diz.
A coletânea de obras selecionadas para a mostra também é composta por telas mais
antigas, porém nunca expostas, como Fala D. João 13 (2015). Foi concebida a partir do
poema de número 13, que compõe uma série de 25 textos escritos por Cabral em
1995, acompanhados por litografias, e que posteriormente ganharam pinturas. “Esse
livro é como se eu entrasse na cabeça de D. João II, que foi um dos grandes arquitetos
das navegações portuguesas e flagrasse desde impulsos a ações mais bem boladas de
como ele arquitetava grandes movimentos”, relembra.
Ainda, o público entrará em contato com as pinturas Sète (2017), Figura Nácar (2017),
Autorretrato (2018), Pan Sírinix (2018), Filo (2020), Ícaro (2020), Silvos (2020), Sabinas
(2021), Ponty (2022), seis obras Sem título, Luas, Nácar, Sófia, Io – todas de 2023 –, e
Pino (2024).
Sobre Antonio Hélio Cabral
Nasce em 25 de outubro de 1948 na cidade de Marília, SP. Cursa arquitetura na
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), de
1970 a 1974. De 1974 a 1984, atua como professor e coordenador dos ateliês de arte
do Museu Lasar Segall e, de 1981 a 1984, orienta atividades de pintura e desenho na
Pinacoteca de São Paulo.
O trabalho de Cabral, iniciado em 1970 como um brutalismo que intercepta Dubuffet,
Giacometti e Picasso – em objetos, desenhos, pinturas, multimeios –, sofre
deslocamento em 1977, quando o artista passa a pesquisar a figuração feita em São
Paulo nos anos 1940, no horizonte da pintura moderna europeia. Cabral investiga as
bases observacionais, gestuais e matéricas da pintura, que vão se modificando como
visuais, até 1991.
A década de 1970 marca ainda o momento em que Cabral conhece Leon Kossovitch,
filósofo e amigo que passa a ser seu principal interlocutor. Parceiros desde então,
Cabral e Leon estabelecem um diálogo contínuo “sobre os ires e vires que surgem
constantemente em Cabral”, diz Kossovitch. A partir de 1991, a visualidade em Cabral
é eclipsada por pinturas, desenhos e objetos que explicitam o brutalismo inicial como
lance visionário, pois o olhar é liberado como pulsão no hiperbrutalismo, do qual se
destaca o processo de transmutação pintura-figura que, em 1994, já habita a matéria
e, como aparições, inclui o destinatário como desejante.
Desde 1999, ano em que realiza uma grande mostra na Pinacoteca de São Paulo, são
raras as aparições públicas de Cabral, visto que o artista opta por se recolher em seu
ateliê, para se dedicar exclusivamente à pesquisa que visa a desenvolver a interação
entre a pintura e a escultura. Destacam-se suas individuais em Lisboa nos anos de 2006
e 2008 [Galeria Art Lounge], Paris em 2015 [Galerie Agnès Monplaisir] e Zurique, esta
em 2021 [Galeria Kogan Amaro].
Sobre a galeria
A DAN Galeria foi fundada em 1972, em São Paulo, por Gláucia e Peter Cohn. Nos
primeiros anos de atividade, a galeria concentrou-se na arte moderna brasileira,
apresentando obras de importantes artistas do movimento modernista de 1920, tais
como Di Cavalcanti, Antonio Gomide, Ismael Nery, Tarsila do Amaral entre outros.
Ainda nos primeiros anos de funcionamento, artistas como Alfredo Volpi, Cícero Dias,
Antonio Bandeira e Yolanda Mohalyi foram incorporados ao grupo representado pela
galeria que, ao longo das últimas décadas, expandiu-se também para a produção
internacional e para a arte contemporânea.
O departamento de arte contemporânea foi criado em 1985 por Flávio Cohn, filho do
casal fundador. Posteriormente, seu irmão Ulisses Cohn também se associou ao
quadro de direção da Dan. Juntando pesquisa histórica e sintonia com o mercado
internacional, nos últimos vinte anos a galeria exibiu obras de Lygia Clark, Lothar
Charoux, Luiz Sacilotto, Gonçalo Ivo, Ascânio MMM, Macaparana, Sérgio Fingermann e
artistas internacionais como Sol LeWitt, Antoni Tapies, Jesus Soto, Cesar Paternosto,
Eduardo Stupía, Adolfo Estrada, Knopp Ferro, Ian Davenport, Max Bill, Joseph Albers,
além dos britânicos Tony Cragg, Kenneth Martin e Mary Martin.
A DAN Galeria incluiu mais recentemente em sua seleção, importantes artistas
concretos: Francisco Sobrino, François Morellet e Getúlio Alviani; bem como os artistas
geométricos abstratos históricos: Sandu Darié, Salvador Corratgé, Wilfredo Arcay e
Dolores Soldevilla, só para mencionar alguns dos cubanos do grupo Los Once (The
Eleven). O fotógrafo brasileiro Cristiano Mascaro; os artistas José Spaniol e Teodoro
Dias (Brasil); os internacionais, Tony Cragg (G. Bretanha), Lab AU e Jong Oh
(Coréia), se juntaram ao departamento de Arte Contemporânea da galeria.
A DAN Galeria sempre teve por propósito destacar artistas e movimentos brasileiros
desde o início da década de 1920 até hoje. Ao mesmo tempo, mantém uma relação
próxima com artistas internacionais, uma vez que os movimentos artísticos
historicamente se entrelaçam e dialogam entre si sem fronteiras.
Serviço
Pã sem Flauta
Abertura: 26 de outubro, das 10h às 16h
Período Expositivo: 26 de outubro de 2024 a 8 de março de 2025
Local: DAN Galeria – Rua Estados Unidos, 1638, Jardim América, SP
Horário: das 10h às 19h, de segunda a sexta; das 10h às 13h, aos sábados.
Entrada gratuita
Classificação indicativa: livre
Acesso para pessoas com mobilidade reduzida
E-mail: [email protected]