Consultório na Rua humaniza cuidado a pessoas em situação de vulnerabilidade
quipe acolhe e atende as demandas de saúde da população em situação de rua. Matriciamento com a rede de Atenção Básica e Saúde Mental ajuda no acompanhamento e no vínculo do paciente
- Data: 18/05/2023 17:05
- Alterado: 18/05/2023 17:05
- Autor: Renata Nascimento
- Fonte: PMD
Crédito:Mauro Pedroso
Para quem está em situação de rua algumas tarefas do cotidiano como entrega de guias médicas, coleta de exames ou mesmo curativo pode se tornar um desafio. Facilitar o cuidado e aproximar essa população à Unidade Básica de Saúde (UBS) é o principal objetivo da equipe do Consultório na Rua, sediado na UBS Parque Real, e referência no cuidado para toda a cidade.
A equipe é formada por sete profissionais: um coordenador, um enfermeiro e um psicólogo, dois agentes sociais, um técnico de enfermagem e um motorista. Eles ainda recebem o reforço, quando necessário, de outros profissionais da Atenção Básica para ações intersetoriais.
“Como as UBSs contam com médico, assistente social, dentista, auxiliar de saúde bucal e nutricionista, esses profissionais nos apoiam em determinado cuidado já que a equipe do Consultório na Rua I não contempla essas categorias profissionais”, explica Diego Lagatta, que é o coordenador do serviço.
Durante ação realizada na região do Taboão, a equipe formada pelo enfermeiro Valter Pinhão, as agentes sociais Francisca da Silva e Thayla Teodoro e o motorista Alexandro Souto percorreram as ruas do bairro para acolher e atender as demandas de saúde desse público. “Nossa função é aproximá-los do cuidado e nosso vínculo com a UBS é muito bom. Na hora em que a gente chega tem porta aberta e muito apoio, seja para encaminhar uma pessoa, consulta ou curativo”, explica Valter. O matriciamento de casos com a rede de Atenção Básica e de Saúde Mental também ajudam a tratar e acompanhar o paciente. “Levamos a discussão para a UBS, para a equipe e o agente comunitário de saúde (ACS) da área conhecerem o caso. Porque mesmo sem ter família, é importante buscar essa rede de apoio, um vizinho, um amigo ou alguém que possa ajudar desse munícipe. A gente procura fazer essa ligação da rede de apoio”, enfatiza.
Confiança
O trabalho do Consultório na Rua é amplo e envolve várias questões que perpassam a promoção do cuidado em saúde, como trabalhar o empoderamento, verificar as questões ligadas à documentação, como a emissão do cartão do Sistema Único de Saúde (SUS), orientar sobre cuidados com a saúde de modo geral, como alimentação, local de moradia, entre outros. De modo geral, a equipe é o elo deste usuário com a rede municipal de saúde.
“As visitas nos territórios são pensadas nesse processo de vínculo, para que a equipe possa entender melhor a situação de cada pessoa, fazer um diagnóstico da necessidade e se aproximar dessa pessoa que precisa de cuidado, ofertar acesso à rede de saúde”, explica Diego.
A confiança, nesses casos, fundamenta a relação entre cidadão e profissional de saúde. “A equipe trabalha após a construção de vínculo com as pessoas em situação de rua que vivem em determinado local. No dia a dia, um “morador” vai apresentando a equipe aos outros e, com isso, conseguimos fazer o trabalho que é promover o cuidado com a saúde. Damos orientações de saúde, como cuidado com a higiene pessoal e do local onde vivem, por exemplo, não ficar com roupas molhadas para evitar o adoecimento, evitar outras situações de risco à saúde, falamos sobre a importância da limpeza do local para evitar o surgimento de ratos e outros animais, que possam transmitir doenças”, ressalta Francisca da Silva.
A equipe também tem contato com apoio da rede de saúde mental. O psicólogo do CAPS Álcool e Drogas, Luciano Vieira da Silva, traz o cuidado sob outro aspecto. “Uma das propostas é acolher, abraçar a pessoa do jeito que ela está. As pessoas ainda têm preconceito e quem está em situação de rua pode não se sentir parte daquele contexto ou lugar. Isso acaba a excluindo ou dificultando seu acesso a serviços que têm direito”.
Atendimento
Os agravos de saúde mais frequentes entre as pessoas em situação de rua são o uso de substâncias psicoativas, entretanto, a equipe também atende casos de saúde mental, tuberculose, HIV, câncer, sífilis e diabetes, além de realizar o apoio e acompanhamento das gestantes. “Visando essa prevenção são realizadas testagem rápida para HIV e sífilis, e, em caso positivo, a pessoa é encaminhada para o serviço de referência municipal”, afirma Diego.
Consultório na Rua
O Consultório na Rua (CnR) é uma modalidade de equipe da Atenção Básica que tem como proposta ampliar o acesso da população em situação de rua aos serviços de saúde através da oferta oportuna de atenção integral à saúde para esse grupo populacional, o qual se encontra em condição de extrema vulnerabilidade.
Segundo a política do Ministério da Saúde, as equipes de Consultório na Rua podem ser implementadas pelo gestor público nos municípios cuja população em situação de rua seja de, pelo menos, 80 (oitenta) pessoas e existem três modalidades de equipe: I, II e III, sendo que cada uma delas tem uma configuração diferente de equipe.
Segundo o último censo realizado pela Secretaria de Assistência Social apontou que o município conta com 141 pessoas em situação de rua. Em Diadema, o programa foi recriado em 26 de maio de 2021 pela atual gestão dentro do escopo do contrato de gestão estabelecido com a Organização Social Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM)/PAIS e a equipe é modelo I. Neste mês, o Consultório na Rua completa dois anos de atividades consecutivas.
Pop Rua
Diadema também conta com o Centro Pop, como é chamado o Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua, localizado na Avenida Antonio Piranga, 1088, no Centro. O serviço contribui para a construção de novos projetos e trajetórias de vida de forma integrada, viabilizando o processo de saída das ruas e a garantia dos direitos dessa população. São disponibilizados café da manhã, almoço, banho, uso de lavanderia, atendimentos técnicos e encaminhamentos para acolhimento noturno e para a rede de atendimento.