Congresso de cannabis medicinal joga luz a conservadorismo médico, dizem especialistas

Principal feira profissional e científica da América Latina sobre o uso da cannabis medicinal começou na última quinta (23) e vai até sábado (25)

  • Data: 24/05/2024 10:05
  • Alterado: 24/05/2024 10:05
  • Autor: Redação
  • Fonte: Geovana Oliveira/Folhapress
Congresso de cannabis medicinal joga luz a conservadorismo médico, dizem especialistas

Crédito:Divulgação/Freepik

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O estado de São Paulo recebeu neste mês um primeiro lote dos remédios à base de canabidiol (CBD) que serão distribuídos pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Agora, é questão de meses para que eles fiquem disponíveis à população, depois de cinco anos de discussão do projeto de lei que tornou isso possível. Mas especialistas em cannabis ainda não estão satisfeitos com a medida.

Na abertura do 3º Congresso Brasileiro de Cannabis nesta quinta-feira (23), o neuropediatra Eduardo Faveret foi aplaudido pela plateia ao reclamar das restrições na lei 17.618 – que engloba pacientes de síndrome de Dravet, síndrome de Lennox-Gasteau e complexo da esclerose tuberosa na distribuição de CBD no SUS. Os especialistas esperavam poder incluir ainda pessoas com autismo, epilepsia e doenças crônicas na legislação.

Segundo Faveret, o preconceito e o conservadorismo de profissionais de saúde e políticos “negam a ciência”. Ele também chamou de negacionista o presidente da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), Antônio Geraldo da Silva. Junto ao CFM (Conselho Federal de Medicina), a ABP publicou no ano passado uma nota de posicionamento afirmando que “o consumo da maconha – mesmo sob alegação medicinal – representa riscos à saúde de forma individual e coletiva.”

O deputado estadual Caio França (PSB-SP), autor da política estadual de fornecimento gratuito da cannabis, afirmou que os médicos são os mais resistentes à ampliação do uso dos remédios. Ele, Faveret e o CEO da Ease Labs Gustavo Palhares dividiram uma palestra sobre SUS e canabidiol no início da tarde.

Na plateia, a ativista Cidinha Carvalho, mãe de uma menina portadora de síndrome de Dravet, também foi aplaudida ao afirmar que a maioria dos médicos que lutaram para restringir a lei não tinha nenhuma experiência clínica com canabinóides, nem havia estudado o assunto. “É importante que médicos que conheçam [o CBD] peçam para participar [do grupo de trabalho da política]”.

O congresso, realizado paralelamente à Feira de Cannabis Medicinal, tenta equilibrar os negócios com um incentivo à pesquisa sobre o tema. Segundo Daniel Jordão e Fernando Pensado, sócios da Sechat, plataforma responsável pelo evento, a resistência dos médicos a prescreverem os medicamentos é um dos desafios do segmento canábico.

Nos estandes da feira, há uma série de produtos que visam auxiliar médicos e dentistas na prescrição dos medicamentos, além de cursos de medicina canabidiol para os profissionais de saúde.

A Greens Corp, farmacêutica especializada em medicamentos derivados da cannabis, distribui nos três dias de feira um “Manual do prescritor” com 14 páginas. Outros, como a Cannamed, ofereciam plataformas para conectar os médicos que prescrevem CBD a pacientes que os procuram.

No estande da biofarmacêutica canadense Thronus Medical, Camila Theobald, mãe de um menino autista, participava da feira com intenção de auxiliar outras mães que procuram soluções alternativas para seus filhos. Foi no evento, no ano passado, que ela começou a comprar o CBD.

“Meu filho tem 5 anos. Ele é uma criança que se desenvolveu nos marcos no tempo certo. Estava adquirindo habilidades, se comunicando bem, até que começou a regredir [no desenvolvimento]. A gente demorou para ter ajuda porque o mercado está desinformado. Os pediatras e neuropediatras não buscam informação”, disse.

Seu primeiro contato com a informação de que o CBD poderia auxiliar na comunicação do filho foi nas redes sociais, a partir de outro pai de criança autista. Biomédica, ela participou da feira no ano passado para tirar dúvidas sobre a medicação.

“Tinha muito preconceito com dar medicação para o meu filho, ainda mais canabidiol. A gente entende que vem da maconha e que não é correto, mas é uma grande ignorância”, disse Theobald.

Na feira do ano passado, ela optou pelo CBD de nanopartículas para o filho – esse não é um óleo e pode ser diluído em água e sucos para a criança. Neste ano, estavam disponíveis uma variedade de remédios a preços entre R$ 60 e R$ 800.

Por causa da legislação brasileira, os produtos à base de CBD só podem ser representados pelas embalagens ou vistos em panfletos nos estandes.

Além dos remédios para ajudar no tratamento de condições como artrite, câncer, alzheimer, autismo, epilepsia e parkinson, na feira são apresentados produtos para bem-estar, cosméticos e outros direcionados a animais de estimação.

No estande da Humora, são apresentados fitoterápicos para TPM, alívio (analgésico, redução de dores agudas, calmante), disposição e sono (combate à insônia).

A feira e o congresso continuam até sábado (25), onde as conferências serão voltadas apenas para médicos, que vão discutir a cannabis no esporte, para tratamento de dores crônicas e doenças degenerativas e para uso de pessoas no espectro autista.

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  • Data: 24/05/2024 10:05
  • Alterado:24/05/2024 10:05
  • Autor: Redação
  • Fonte: Geovana Oliveira/Folhapress









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