Conferência dos Oceanos – Caminho do lixo e setor privado
1/3 do plástico produzido no Brasil tenha o oceano como destino
- Data: 30/06/2022 09:06
- Alterado: 17/08/2023 01:08
- Autor: Redação
- Fonte: Fundação Grupo Boticário
O professor Alexander Turra durante apresentação na Conferência dos Oceanos
Crédito:Divulgação
Estima-se que cerca de 1/3 do plástico produzido no Brasil tenha o oceano como destino. Com esta informação, cada brasileiro seria responsável, anualmente, por 16 quilos de plástico que chegam aos mares. Os dados fazem parte de um estudo inédito desenvolvido pelo projeto Blue Keepers, do Pacto Global da ONU no Brasil, com apoio do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP). A pesquisa foi apresentada nesta quarta-feira, 29, durante a programação paralela à Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que ocorre nesta semana em Lisboa, Portugal.
“O estudo traz estimativas sobre a realidade brasileira em relação ao caminho que os resíduos percorrem até chegar ao mar, sinalizando estratégias que podem ser analisadas com os municípios com maior urgência e eficácia”, afirma o professor da USP, Alexander Turra, responsável pela Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN).
Além da prevenção e combate ao lixo no mar, a COO do Pacto Global da ONU no Brasil, Camila Valverde, lembra que a descarbonização do transporte marítimo e o mapeamento e uso de recursos marinhos também são pautas que interessam o setor privado e precisam avançar no Brasil. “O setor privado tem uma missão de contribuir para o atingimento de todos os ODS, que estão todos interligados. Contribuindo com o ODS 14, de Vida Marinha, também contribuem com saneamento (ODS 6), produção e consumo sustentável (ODS 12) e estabelecimento de parcerias (ODS 17)”, diz Camila.
Atividades econômicas x impactos ambientais
O desenvolvimento de atividades econômicas sustentáveis é um dos destaques na programação dos eventos paralelos da Conferência dos Oceanos. Reunindo universidades, empresas, ONGs e fundações, os debates trazem reflexões sobre a produção de energia eólica offshore, a mineração em alto mar e o aumento do transporte de cabotagem, entre outros temas. “Tudo isso é muito positivo, pois existe a grande necessidade de descarbonizar a economia e o oceano pode permitir o desenvolvimento de atividades mais limpas. Por outro lado, é preciso debater em profundidade os impactos que as iniciativas ligadas à economia do mar podem provocar na biodiversidade”, alerta Ana Paula Prates, engenheira de pesca, conselheira da Liga das Mulheres pelo Oceano e colaboradora do Observatório do Clima.
A especialista ressalta que a mineração em alto mar pode provocar impacto ambiental de graves proporções. “Nós ainda nem temos a noção exata do que pode ser perdido em termos de biodiversidade, porque a maioria dos ambientes em que se pretende minerar são ainda desconhecidos. É preciso muito cuidado”, frisa. “Nós precisamos e podemos usar o oceano para minimizar os impactos das mudanças climáticas, mas não tentar solucionar um problema criando outro, de proporções ainda desconhecidas”, completa.
Ana Paula observa também que é necessário planejamento para a expansão do transporte de cabotagem. “Apesar da diminuição da emissão de carbono em relação a caminhões, a atividade gera impactos importantes, como a necessidade de ampliação de portos e mais navios no mar, aumentando a possibilidade de acidentes. Para a sustentabilidade de todas essas atividades econômicas é necessário um planejamento espacial marinho muito bem feito, usando como base a biodiversidade. Precisamos saber muito bem onde a atividade pode ser feita e de que forma será mais segura”, finaliza.