COLOMBO DESCOBRIU A AMÉRICA?

Esta pergunta hoje nos parece óbvia, pois aprendemos que a América foi descoberta por Colombo em Outubro de 1492 e, avistada por Cabral em Abril de 1500. Mas será que foi só isso?

  • Data: 29/08/2018 09:08
  • Alterado: 29/08/2018 09:08
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Jorge Silva
COLOMBO DESCOBRIU A AMÉRICA?

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Bem, já é senso comum falarmos da descoberta da América por Cristóvão Colombo em 12 de Outubro de 1492 e, respectivamente dialogarmos a respeito da chegada de Pedro Álvares Cabral em terras tupiniquins, na data de 22 de Abril de 1500. Contudo, o que muitas vezes deixamos de pensar é: Será que Cristóvão Colombo realmente queria descobrir um novo Continente?

Eu te respondo: Não! O fato é que Cristóvão Colombo ao empreender a sua primeira viagem, imaginou que desta forma chegaria às Índias, pois para o conhecimento europeu da época, não existia essa parcela de terras que hoje conhecemos por “Américas”, localizada bem no meio do caminho, entre a Europa e a Ásia. Sendo assim, não podemos afirmar que Colombo descobriu as Américas, uma vez que nem ele sabia que essas terras eram independentes da Ásia, acreditando até a sua morte, ter chegado no Japão, dado que a inspiração para procurar tais terras teria sido derivada do livro de viagens de Marco Polo. Sim! Aquele que falamos em nosso primeiro artigo. 

Mas se Cristóvão Colombo morreu pensando ter chegado ao Japão e, posteriormente é que foi descoberto que na verdade este teria chegado a terras desconhecidas e novas aos olhos do mundo Europeu, como a história de que ele de fato descobriu as Américas passou a ser aceita hoje em dia? Se você se perguntou isso, então parabéns, pois como abordamos em nosso artigo anterior, é exatamente assim que pensa um historiador ao se deparar com o seu objeto de estudo.

O que aconteceu, na verdade, foi que uma série de escritores, após a morte de Cristóvão Colombo, começaram a escrever sobre o fato, ou seja, sobre a chegada dele aqui. Nota: Cristóvão Colombo chegou em sua primeira viagem, na ilha que hoje é conhecida por nós como CUBA. Desta forma, ao escreverem sobre o acontecimento, passaram a interpretar este fato das mais diversas maneiras. Por mais assustador que pareça, a primeira interpretação deste fato, não foi descrita visando atribuir a Colombo a noção de descoberta das Américas, mas sim a noção de que ele teria sido um instrumento de Deus, para chegar a essas terras, cheias de povos pagãos, ou seja, não conhecedores da fé cristã, pois assim o caminho da luz do verdadeiro Deus seria ensinado a eles. Tal descrição foi feita pelo Padre Bartolomeu de Las Casas, que advogava no sentido de que, a prova da intenção de Deus para com esses povos, foi que Colombo não tinha ideia de ter chegado a terras novas, contudo, como era da vontade do Soberano que ele as descobrisse, assim se fez.

Contudo, Dom Fernando (Filho de Cristóvão Colombo), historiador da época que também buscou relatar a chegada de seu pai nas Américas, diferente de Bartolomeu de Las Casas, tentou atribuir a Colombo a ideia épica de descoberta consciente. Sendo assim, as duas abordagens ficaram em voga no período, uma que colocava Cristóvão Colombo em primeiro plano, sendo cientista e extremamente inteligente, pois só assim poderia ter calculado a chegada em novas terras conscientemente e, uma outra abordagem que o colocava em segundo plano, sendo apenas um instrumento da vontade de Deus, Dom Fernando e Bartolomeu de Las Casas, respectivamente.

Não preciso dizer que a versão mais aceita foi a de seu filho, Dom Fernando, mas esta discussão se perpetuou durante os séculos que vieram a seguir. E foi só no século XIX que Navarrete, um historiador do período, irá dar visibilidade aos Diários de bordo utilizados e relatados por Cristóvão Colombo em suas viagens. E é a partir destes documentos que a tese de Dom Fernando, cai por terra. Nestes escritos, Cristóvão Colombo relatava que havia chegado às ilhas do Japão, sendo assim, a tese de que Colombo chegou as Américas conscientemente deixa de fazer sentido. Para tanto, Navarrete entende que, ainda que Colombo não tivesse conhecimento das terras que havia alcançado, o mesmo teria descoberto, posto que eram terras até então desconhecidas pelo Ocidente.

Já podemos perceber que a História do descobrimento de Colombo foi muito recontada e reinventada por vários autores ao longo dos séculos, mas afinal, por quê ainda o vemos como descobridor?

Um dos últimos teóricos que escreveu sobre a empreitada de Colombo foi Samuel Eliot Morison em 1942, ou seja, pertíssimo da nossa realidade, sendo muitos professores que nos deram aula, formados por esta teoria. Para ele Colombo descobriu a América por acidente, mas ainda que tenha sido por acidente, trata-se de uma descoberta, visto que quando se descobre o ouro aqui no Brasil, por exemplo, também foi um tipo de descoberta por causalidade e não totalmente intencional.

No entanto, os historiadores, a partir da metade do século XX começam a pensar neste fato, não mais como uma descoberta em si, mas como uma invenção da América, ou seja, a América teria sido criada e não descoberta. Mas como assim criada se ela já existia?

Sim! Ela já existia, contudo, era apenas uma parcela de terras, povoada por outros povos que certamente não a conheciam por América, mas sim por outros nomes, a depender da tribo ou civilização. Desta forma, quem de fato atribuiu o nome América à esta parcela de terra, foram os europeus a partir de sua colonização.

Percebe? A ideia de América, tal qual a conhecemos hoje, é na verdade uma invenção de nossos colonizadores, que para justificar a existência dessas terras, pois não eram terras que eles conhecessem, precisaram criar versões que explicassem a existência de povos do outro lado do Atlântico, posto que nem a bíblia, tida na época como a verdade absoluta, tratava desses povos ou dessas terras. Portanto, não fomos descobertos pelos europeus, mas sim inventados a partir de suas necessidades de explicar o que haviam encontrado. E digo isso, porque é claro que ainda que eles não tivessem chegado aqui, continuariam existindo diversas civilizações nessas terras, mesmo que com outra visão de mundo, outras crenças e costumes.

Agora vou deixar uma dica para você que se interessou pelo assunto e deseja se aprofundar mais. O principal livro que utilizei para escrever este artigo, foi o trabalho intitulado “A invenção da América” de Edmundo O’gorman. Neste livro o autor aborda tudo o que falamos em nosso texto, com uma riqueza de detalhes e uma narrativa muito cativante, recomendo para quem quer entender melhor essa questão e os principais difusores dessa ideia. Aguardo você semana que vem, em nossa próxima publicação.

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  • Data: 29/08/2018 09:08
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