Cientistas apontam El Niño e desmatamento como culpados por seca histórica na Amazônia

Com a Amazônia passando pela pior seca no último século, especialistas debatem os efeitos do El Niño e do desmatamento sobre o bioma

  • Data: 26/10/2023 19:10
  • Alterado: 11/12/2023 12:12
  • Autor: Rodilei Morais
  • Fonte: Agência FAPESP
Cientistas apontam El Niño e desmatamento como culpados por seca histórica na Amazônia

Seca no Rio Negro é a pior no último século

Crédito:Alex Pazuello/Secom

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Com os menores índices de chuva em quatro estados da região Norte desde a década de 1980, a Amazônia enfrenta a pior seca do último século, com o Rio Negro atingindo seu nível d’água mais baixo desde 1902. O tema foi debatido por especialistas da área em seminário virtual promovido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) no dia 17 deste mês, concluindo que o fenômeno El Niño, o desmatamento florestal e as mudanças climáticas são os fatores responsáveis pela crise.

Um ciclo natural do planeta Terra, o El Niño é um fenômeno em que a temperatura da água na superfície do Oceano Pacífico aumenta temporariamente. Esse fator tem consequências que se refletem ao redor de todo o globo, trazendo diferentes impactos em cada localidade. A diretora do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) explica que “em anos de El Niño, o fenômeno costuma provocar chuvas abaixo da média na região da Amazônia, não apenas no Amazonas, mas também nos outros Estados da região Norte, bem como na região Nordeste.”

O aumento da temperatura do Pacífico que caracteriza o fenômeno El Niño tem impactos no clima de todo o planeta (Imagem: Divulgação)

Ativo desde junho de 2023, o El Niño também foi apontado como possível causa das fortes chuvas que atingiram a região Sul do Brasil nos últimos meses — enquanto no Norte a precipitação é baixa, o extremo oposto do país vem sofrendo com inundações e alagamentos.

Impactos socioeconômicos

De acordo com Regina Rodrigues, professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), uma pesquisa recente estimou que a economia global teve um prejuízo de cerca de US$ 5 trilhões durante a ocorrência do El Niño em 1982 e em 1997. A cientista alertou que “estamos nos encaminhando para outro evento deste porte.”

Na Amazônia, os impactos já são sentidos pelos habitantes locais. Populações ribeirinhas estão isoladas devido a dificuldade de deslocamento com o nível atual dos rios, peixes têm morrido e a produção de energia elétrica está comprometida. Além disso, de acordo com o Cemaden, dezenas de municípios na região estão com mais de 80% de suas terras agrícolas afetadas e as indústrias na Zona Franca de Manaus estão com problemas de transporte de matérias-primas e produtos.

População ribeirinha na Amazônia tem sofrido com os baixos níveis dos rios na região (Imagem: Omer Bozkurt/CC BY 2.0)

Em frente a estas questões, os pesquisadores afirmam que diferentes órgãos do governo devem se organizar para monitorar a crise e diminuir os impactos na população. “Temos um conhecimento muito claro dos impactos climáticos e do ônus que o El Niño ocasiona”, afirmou Tércio Ambrizzi, cientista do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP). “Portanto, é possível se preparar com antecedência de três a seis meses, especialmente no caso das defesas civis.”

Outros agravantes da situação

Embora a ocorrência do El Niño e a falta de chuva estejam fora do controle da humanidade, as ações humanas na Amazônia não têm sido favoráveis ao clima. Os altos índices de desmatamento e queimadas na região ocasionam uma queda na evapotranspiração: a emissão de vapor d’água pelas plantas que contribuiria para a formação das chuvas.

Outra preocupação dos especialistas é a saúde pública da população, já que o tempo seco e as queimadas provocam uma péssima qualidade do ar. 

O webinar em que as questões foram discutidas foi gravado na íntegra e pode ser visto na página do YouTube da Agência FAPESP.

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  • Data: 26/10/2023 07:10
  • Alterado:11/12/2023 12:12
  • Autor: Rodilei Morais
  • Fonte: Agência FAPESP









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