Chile – Vacinação considerada exemplo no mundo não impede os novos casos de covid
Moradores vacinados contam que se sentem mais protegidos, mas precisam pensar em quem não foi imunizado. Isso se chama SOLIDARIEDADE
- Data: 04/04/2021 13:04
- Alterado: 04/04/2021 13:04
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
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Dados mais recentes publicados pelo jornal The New York Times, mostram que o Chile é o quinto país que mais imunizou contra a covid-19 no mundo. Já são 3,8 milhões de pessoas que completaram o seu processo de vacinação e isso deu mais segurança em relação à doença para algumas delas. Apesar do sucesso e da liderança na América Latina, o país passa por um período bastante complicado, com aumento expressivo de casos diários e restrições cada vez mais severas impostas pelo governo.
Há 25 anos, Patricia França resolveu deixar São Paulo e se mudar para Santiago com o então namorado. Na capital chilena, constituiu família e se formou em psicologia. Em março de 2020, ela foi uma das várias pessoas que tiveram a sua vida alterada por conta da pandemia da covid-19. Trocou o consultório pelo jardim de sua casa e o atendimento passou a ser online. No início do mês passado, a brasileira tomou a segunda dose da vacina Sinovac, o que a deixou mais tranquila. Porém, ela diz que segue tomando alguns cuidados.
A psicóloga de 44 anos mora na região de Maipú, que desde o dia 25 de março está em quarentena total. Após ser imunizada, ela mudou alguns pequenos hábitos. “Sei que se eu for contaminada, não vou desenvolver a forma mais grave da doença. Antes de voltarmos para a fase de confinamento, eu estava indo com mais frequência ao supermercado, ao shopping. No trabalho, apenas entre nós médicos não usamos mais máscaras e voltamos a tomar café da manhã juntos”, conta.
Assim como Patricia, o advogado Raul Riveros também completou o seu processo de imunização e agora se sente “um pouco mais livre”. Ele vive em Antofagasta, norte do Chile, e estava pronto para voltar ao escritório no próximo dia 5 de abril. Mas, por conta da gravidade da pandemia na cidade, um comunicado enviado de última hora postergou o retorno para maio. Por enquanto, ele segue participando das audiências desde a sua residência.
“A vacina te dá uma certa proteção diante dos outros, mas é preciso também ter a precaução e a consciência de que você pode transmitir a doença para quem não está vacinado. Eu não ando mais com álcool em gel para todos os lados, por exemplo. A preocupação com você é menor, mas com os outros segue”, afirma o chileno de 45 anos.
Um estudo americano do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), mostra que após uma pessoa ser vacinada, ela pode voltar a se encontrar com outras e dispensar o uso de máscara. A infectologista e acadêmica da Universidad de Chile, Claudia Cortes, alerta que o trabalho foi feito com base nos imunizantes Pfizer e Moderna. Portanto, essas recomendações não deveriam ser aplicadas no país sul-americano. “A vacina que vem sendo administrada em maior quantidade no Chile é a Sinovac, que tem um nível de proteção mais baixo em relação a essas duas”.
Desde fevereiro, o país vive uma segunda onda da covid-19, mais agressiva que a primeira. Para a Dr. Claudia, isso se deve, principalmente, a três fatores: à falha comunicacional do governo, que comemorou muito o início da vacinação massiva, e isso fez com que a população acreditasse que a pandemia estivesse perto do fim e relaxasse as medidas de proteção; às permissões concedidas para o período das férias, promovendo muitas locomoções dentro do país; e às novas variantes do vírus, sobretudo a brasileira. Ainda de acordo com a infectologista, estima-se que 80% da população estará vacinada ao final do primeiro semestre e isso “pode melhorar muito a situação”.
Segundo o balanço mais recente divulgado pelo Ministério da Saúde do Chile, até o momento, 44% da população objetivo já recebeu ao menos uma dose da vacina. No sábado, o governo anunciou que em 24 horas houve 8.022 novos casos e 103 mortos. O país contabiliza um total de 1.019.478 casos e 23.524 falecimentos desde o início da pandemia.