Butantan considera incluir idosos em estudos da vacina contra dengue

No último ano, o Brasil registrou uma preocupante taxa de mortalidade por dengue, com mais de 6,6 mil óbitos, dos quais aproximadamente 64% ocorreram em indivíduos com 60 anos ou mais. Este cenário alarmante motivou o Instituto Butantan a considerar a inclusão dessa faixa etária em seus estudos clínicos sobre a vacina Butantan-DV, desenvolvida para combater a dengue.

Previsto para ser iniciado no segundo semestre de 2023, o estudo tem como objetivo avaliar a eficácia e segurança da vacina em pessoas com idades entre 60 e 80 anos. O anúncio foi feito pelo Dr. Jorge Kalas, um dos pesquisadores responsáveis pelo projeto, que destacou que a necessidade de dados concretos sobre a eficácia da vacina foi um fator determinante para o atraso no início das pesquisas nessa faixa etária.

Resultados promissores e novas expectativas

A vacina Butantan-DV demonstrou uma eficácia geral de 67,3% durante os ensaios clínicos de fase 3, que envolveram mais de 16 mil participantes na faixa etária de 2 a 59 anos ao longo de um período médio de 3,7 anos. Quando analisada apenas a proteção contra formas graves da doença, a eficácia atingiu impressionantes 89%. Esses resultados foram publicados na respeitada revista The Lancet Infectious Diseases em agosto deste ano.

Atualmente, a única vacina aprovada para uso no Brasil é a Qdenga, desenvolvida pela farmacêutica Takeda, que é indicada apenas para pessoas entre 4 e 60 anos. Diante do elevado número de mortes entre os idosos, a inclusão dessa faixa etária nos estudos é vista como crucial para proteger aqueles que são mais vulneráveis ao agravamento da dengue.

Avanço nas pesquisas e produção de doses

O novo estudo planejado pelo Instituto Butantan pretende imunizar um grupo selecionado de centenas de idosos e incluir um pequeno grupo controle que receberá placebo. O foco principal será avaliar tanto a imunogenicidade da vacina — isto é, a capacidade de gerar anticorpos — quanto sua segurança. Para isso, o instituto utilizará doses já em produção, mesmo antes da aprovação formal pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A expectativa é que até o final do ano sejam produzidos até um milhão de doses da Butantan-DV.

O avanço nesse sentido representa uma importante oportunidade para ampliar as opções de vacinação contra dengue no Brasil e garantir maior proteção à população idosa diante do aumento das taxas de incidência da doença.