Funarte realiza concerto em comemoração pelos 200 anos de Independência do Brasil
Nesta terça-feira (21), o espetáculo da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional com o tenor Saulo Laucas será apresentado na Concha Acústica do DF
- Data: 20/09/2021 10:09
- Alterado: 20/09/2021 10:09
- Autor: Redação
- Fonte: Fundação Nacional de Artes – Funarte
concerto
Crédito:Divulgação
A Fundação Nacional de Artes – Funarte, por meio do programa Arte de Toda Gente, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vai dar início às suas ações pelos 200 anos de Independência do Brasil com uma apresentação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro (OSTNCS), sob regência de Claudio Cohen e com participação especial do tenor Saulo Laucas. Com formação em canto lírico, bacharel pela Escola Nacional de Música da UFRJ, Laucas é autista e deficiente visual desde o nascimento e segue carreira com apresentações em diversas cidades do País. A cerimônia será realizada no dia 21 de setembro, às 20h, na Concha Acústica do Distrito Federal, em Brasília. No repertório, estarão obras clássicas relacionadas ao momento histórico.
A Concha Acústica do Distrito Federal, com capacidade para cinco mil pessoas, estará aberta para receber até 1.200 pessoas no espetáculo, em respeito às medidas de saúde pública. O espaço foi reaberto em agosto deste ano, após reforma. Os ingressos podem ser adquiridos gratuitamente, a partir do dia 16 de setembro, quinta-feira, pela plataforma www.oquevemporai.com. O concerto também poderá ser assistido pelo canal do Arte de Toda Gente no YouTube.
O repertório do concerto abrange obras de compositores brasileiros e estrangeiros que, de alguma forma, têm relação com a Independência e com D. Pedro I ou são contemporâneos deles. O programa contará com criações dos brasileiros José Joaquim de Souza Negrão, da Bahia; José Maurício Nunes Garcia, do Rio de Janeiro; João de Deus Castro Lobo, de Minas Gerais; e Antônio Carlos Gomes, de São Paulo. Já as composições internacionais são de Marcos Portugal, de Portugal; Gioachino Rossini, da Itália, e César Franck, da Bélgica.
A cerimônia marca o início das atrações da Funarte pelo bicentenário da Independência. O evento é realizado pela Fundação, pelo Ministério do Turismo e pela Secretaria Especial da Cultura, com apoio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal. Ele é fruto de ações dos três projetos que integram o Arte de Toda Gente (ATG), programa da Fundação com a UFRJ: Bossa Criativa, Um Novo Olhar (UNO) e Sistema Nacional de Orquestras Sociais (Sinos). Um dos objetivos do Bossa Criativa é promover ações de artes integradas em locais reconhecidos pela Unesco como patrimônio da humanidade — entre eles, Brasília. Por sua vez, o tenor Saulo Laucas está entre os artistas participantes do UNO, enquanto a produção do concerto faz parte das ações do Sinos. O ATG tem curadoria da Escola de Música da UFRJ.
Convidados especiais
A Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro (OSTNCS) foi fundada em março de 1979, pelo maestro e compositor Claudio Santoro, e é considerada uma das principais instituições do gênero no Brasil. Em sua trajetória, realizou milhares de concertos, temporadas de ópera e balé, acompanhou importantes artistas brasileiros e estrangeiros e realizou gravações e turnês nacionais e internacionais. Gravou diversos discos com repertório de música brasileira, com destaque especial para os títulos Sinfonias dos 500 anos e Clássicos do Samba.
Dirigida atualmente pelo maestro titular e diretor artístico Claudio Cohen, a OSTNCS também tem, em sua linha de atuação, atividades como concertos sociais e educacionais; festivais de ópera; seminários internacionais de dança; a série Concertos nos Parques; entre outras, com presença em diversos segmentos da sociedade.
Cidadão Honorário de Brasília, Claudio Cohen tem participação ativa no cenário musical do país e do exterior, como maestro e como artista convidado de festivais de música e orquestras. É membro fundador da OSTNCS e membro da Academia de Letras e Música do Brasil (ALMUB). É detentor da Ordem do Mérito de Brasília, da Ordem do Mérito Cultural do Distrito Federal e da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho, além de outras conquistas recebidas ao longo da carreira.
O tenor Saulo Laucas nasceu no Rio de Janeiro, em 4 de maio de 1984. Deficiente visual desde o nascimento, aos três anos de idade foi diagnosticado autista. Na infância, descobriu o talento para a música e, com apoio da família e de professores, começou a estudar piano. Depois, investiu no canto, aprimorando-se a cada dia. Hoje, bacharel em canto pela Escola de Música da UFRJ, segue carreira como tenor, com apresentações em diversas cidades brasileiras e participações na TV. Gravou seu primeiro CD Belle Canzoni Italiane em abril de 2020.
Repertório do concerto do dia 21 de setembro, às 20h, na Concha Acústica do DF
A Estrella do Brasil (1816), de José Joaquim de Souza Negrão (BA)
Abertura em Ré, de José Maurício Nunes Garcia (RJ, 1767-1830)
Abertura II Ducadi Foix (1805), de Marcos Portugal (Portugal/Brasil, 1762-1830)
Abertura em Ré, de João de Deus Castro Lobo (MG, 1794-1832)
Sonata para cordas, de Antônio Carlos Gomes (SP, 1836-1896)
La Scala di Seta (1812), de Gioachino Rossini (Itália, 1792-1868)
Panis Angelicus, de César Franck (Bélgica, 1822-1890), interpretada por Saulo Laucas
Sobre os compositores e suas obras
José Joaquim de Souza Negrão é um compositor baiano que viveu entre o final do século XVIII e as primeiras três décadas do século XIX. Poucos dados sobre sua vida e atuação chegaram aos nossos dias. Uma das referências é uma carta enviada, em 1818, por D. João VI ao então Governador e Capitão General da Bahia, criando na cidade de Salvador uma cadeira pública de música, para a qual o compositor foi nomeado, ocupando o posto até a sua morte, em 1832. De Souza Negrão, sobreviveram duas cantatas, O Último Cântico de David (1817) e A Estrella do Brazil, dedicada “ao Sereníssimo Príncipe da Beira, para o dia 12 de outubro de 1816”, ou seja, dedicada ao Príncipe D. Pedro I. A abertura da cantata foi localizada pelo maestro Ernani Aguiar, na Biblioteca da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A música de Souza Negrão é de estilo operístico italiano, condizente com o gosto musical imperante na Corte brasileira. A partitura foi editorada pelo Sistema Nacional de Orquestras Sociais, projeto da Funarte em parceria com a UFRJ, e agora está disponível para todas as orquestras brasileiras.
José Maurício Nunes Garcia (1767-1830) é reconhecido como o mais importante compositor não europeu de seu tempo. Mestre de Capela da Sé do Rio de Janeiro, foi nomeado para o mesmo posto na Capela Real por D. João VI na sua chegada ao Rio de Janeiro, em 1808. Sua obra é principalmente sacra e vocal, com destaque para as Matinas do Natal (1799); a Missa de N. Sra. da Conceição (1810); o Requiem (1816), composto para as Exéquias de D. Maria I; e a Missa de Santa Cecília (1826), sua última obra. Por ocasião da Independência, D. Pedro I manteve José Maurício como mestre de sua Capela Imperial. A Abertura em Ré é uma das poucas obras instrumentais de José Maurício. Composta em data ignorada, o único manuscrito sobrevivente se encontra no Centro de Ciências, Letras e Artes, em Campinas (SP), originário do acervo de Manoel José Gomes, pai do compositor Carlos Gomes.
Marcos Portugal (1762-1830) nasceu em Portugal e estudou na Itália. Tornou-se célebre em toda a Europa como autor de óperas, com títulos encenados em diversos países. Convocado por D. João VI, chegou ao Rio de Janeiro em 1811, onde se tornou professor de música da família real e diretor dos teatros da Corte. Foi o professor de música do Príncipe D. Pedro I, auxiliando o futuro imperador em suas primeiras composições. Por ocasião do retorno de D. João VI para Portugal, optou por permanecer no Brasil, tornando-se cidadão brasileiro após a Independência. A abertura II Duca de Foix, composta em 1805 para a ópera de mesmo nome, é uma de suas obras orquestrais mais executadas. Nela se revela o estilo da ópera buffa italiana, que predominava entre os compositores luso-brasileiros da época, dentre os quais, Marcos Portugal é um dos mais importantes, com papel significativo na história da música do Brasil e de Portugal.
João de Deus Castro Lobo (1794-1832) é um dos mais destacados compositores mineiros atuantes no Primeiro Reinado. Contemporâneo de Souza Negrão, José Maurício e Marcos Portugal, nasceu em Vila Rica, mas atuou profissionalmente sobretudo na cidade de Mariana, onde estudou no seminário local e se ordenou padre. Na cidade, foi organista da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência e mestre de capela da catedral. Não deixou uma obra numerosa, pois faleceu precocemente, aos 38 anos. Dentre as partituras que chegaram aos nossos dias, se destacam as da Missa e Credo a 8 vozes, Matinas do Espírito Santo e as Matinas de Natal. Sua Abertura em Ré se junta às obras de Souza Negrão e Nunes Garcia como exemplos da música instrumental composta no Brasil no período da Independência. Há registros da atuação de Castro Lobo como regente na Casa da Ópera de Vila Rica. O contato com o repertório lírico pode ter motivado a composição da Abertura em Ré, na qual se destaca um grande solo de violoncelo na introdução.
Sendo o repertório italiano predominante nas encenações operísticas no Brasil no período da Independência, são encontrados nos arquivos brasileiros vários exemplares de óperas de autores italianos em cópias manuscritas. O compositor italiano de maior repercussão internacional, inclusive no Brasil, no período da Independência, foi Gioachino Rossini (1792-1868), autor do célebre O Barbeiro de Sevilha, que estreou no Brasil em 21 de julho de 1821, no Teatro São João do Rio de Janeiro. Sua abertura La Scala di Seta foi composta em 1812.
No mesmo ano em que D. Pedro I declarava a Independência do Brasil, nascia César Franck (1822-1890), compositor belga com atuação em Paris. Panis Angelicus é uma de suas melodias mais conhecidas, interpretadas por cantores em todo mundo, não só em cerimônias litúrgicas, mas também em concertos.
Enquanto no Brasil o processo da Independência se firmava, o compositor Antônio Carlos Gomes (1836-1896) nascia em Campinas (SP). Após sua transferência para o Rio de Janeiro, ele estudou no Conservatório de Música, atual Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Carlos Gomes viria a fazer carreira internacional com o sucesso de sua ópera Il Guarany, no Teatro Scala de Milão, em 1870. Um dos mais importantes representantes do romantismo musical no Brasil, Carlos Gomes compôs sua Sonata para Cordas, a pedido do seu irmão Sant’Ana Gomes, em 1894, sendo uma de suas poucas obras para orquestra extraídas de uma de suas óperas.
Programa Arte de Toda Gente
O programa Arte de Toda Gente foi criado por meio da parceria entre a Fundação Nacional de Artes – Funarte e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com curadoria da Escola de Música da instituição. Ele é composto pelos projetos: Bossa Criativa, Um Novo Olhar (UNO) e Sistema Nacional de Orquestras Sociais (Sinos).
Bossa Criativa
No Bossa Criativa, arte, cultura e inclusão têm como palco a internet e patrimônios da humanidade. São mais de 350 artistas e educadores, de várias regiões do país, em apresentações, lives, mostras e oficinas de capacitação nas áreas de música, dança, teatro, circo, artes visuais, empreendedorismo e gestão cultural. Mais de 200 horas de conteúdo já estão no ar, com foco na diversidade e democratização da cultura. Quando as condições sanitárias permitirem, o projeto passará a oferecer, também, atividades presenciais, em nove cidades em que estão localizados pontos do patrimônio cultural brasileiro: Ouro Preto e Belo Horizonte (MG); Brasília (DF); Rio de Janeiro e Paraty (RJ); São Cristóvão (SE); São Luís (MA), Olinda (PE) e São Miguel das Missões (RS).
Um Novo Olhar (UNO)
O UNO atua em duas frentes estruturantes: reúne capacitações em arte-educação e acessibilidade e em regência de canto coral infantil. O intuito é promover a ação pedagógica em arte como forma de inclusão e capacitação para professores que atuam com crianças, jovens e adultos com deficiência. O projeto reúne mais de 70 artistas e educadores e mais de 200 horas de performances, apresentações, capacitações e lives, além de publicações, palestras e congressos com a participação de especialistas de diversos países. Os cursos de arte/educação + acessibilidade + inclusão contam com alunos de todo o Brasil.
Sistema Nacional de Orquestras Sociais (Sinos)
O Sinos é sustentado por uma rede de dezenas de profissionais de música, que atuam em cursos, oficinas, concertos e festivais. O objetivo é capacitar regentes, instrumentistas, compositores e educadores, apoiando projetos sociais de música, e contribuir para o desenvolvimento das orquestras-escola e bandas de música em todo o Brasil. Inúmeras parcerias estão em desenvolvimento e, desde o seu lançamento, já foram veiculadas, de forma on-line, mais de 500 vídeo-oficinas, com mais de 200 horas de conteúdo pedagógico, além de concertos e publicações (partituras para orquestras jovens, bandas e a revista Sinos).
Como forma de unificar todos esses projetos em um só evento, foi lançado, no mês de julho, o Festival Arte de Toda Gente, que será apresentado até o final de setembro de 2021. A programação reúne mais de 100 professores e mais de 400 artistas das mais diversas vertentes e origens geográficas. As ações ocorrem por meio de oficinas, mostras, encontros e apresentações, ao vivo e gravadas, transmitidas gratuitamente pela internet.
Abertura das ações da Funarte pelos 200 anos de Independência do Brasil
Concerto com a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro
Participação do tenor Saulo Laucas
Dia 21 de setembro, terça-feira, às 20h
Concha Acústica do Distrito Federal
Endereço: SCEN – Brasília, DF, 70297-400
(Localizada às margens do Lago Paranoá, no Setor de Clubes Esportivos Norte, ao lado do Museu de Arte de Brasília – MAB)
Evento gratuito
Ingressos disponíveis a partir de 16 de setembro em: https://www.oquevemporai.com/
Transmitido pelo canal Arte de Toda Gente no YouTube (https://www.youtube.com/artedetodagente)
Realização
Fundação Nacional de Artes – Funarte | Secretaria Especial da Cultura | Ministério do Turismo | Governo Federal | Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Curadoria: Escola de Música da UFRJ