Autotransfusão de sangue: a alternativa mais segura nas cirurgias

OMS destaca benefícios da técnica para reduzir riscos e acelerar recuperação em procedimentos de alta complexidade.

  • Data: 19/01/2025 09:01
  • Alterado: 22/01/2025 12:01
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: FOLHAPRESS
Autotransfusão de sangue: a alternativa mais segura nas cirurgias

Duração do procedimento depende do tamanho e da posição do nódulo, mas raramente ultrapassa 30 minutos e é feita sem os riscos associados à anestesia geral e sem necessidade de internação

Crédito:Governo de SP

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem enfatizado a autotransfusão, que utiliza o próprio sangue do paciente, como uma alternativa mais segura em procedimentos cirúrgicos. Essa prática não só diminui as inflamações que podem surgir com transfusões convencionais, mas também reduz o tempo de internação e o risco de mortalidade associado a essas intervenções.

O procedimento de autotransfusão é parte do gerenciamento de sangue do paciente, conhecido como PBM (Patient Blood Management), que visa minimizar ou eliminar a necessidade de transfusões sanguíneas. O PBM se fundamenta em três pilares principais, sendo um deles o uso de equipamentos especializados durante cirurgias que apresentam grande perda sanguínea, como transplantes ou intervenções em casos de traumas severos.

Isabel Cristina Céspedes, responsável pela implementação do PBM no Hospital São Paulo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que “a máquina coleta o sangue perdido durante a cirurgia, processa para remover coágulos e resíduos cirúrgicos, e então concentra as células vermelhas para reinfusão no paciente“.

Além da coleta intraoperatória, o PBM também envolve a identificação e tratamento de condições como anemia e deficiência de ferro antes dos procedimentos cirúrgicos, assegurando que os pacientes estejam em condições ideais para a operação. Após a cirurgia, essa técnica reduz a necessidade de reposição de sangue proveniente de doadores.

Em uma recomendação emitida em 2021, a OMS sublinhou a importância da implementação global do PBM. A entidade alerta que crises sanitárias, como a pandemia da Covid-19, ressaltam a urgência por alternativas seguras na medicina transfusional. Durante períodos de distanciamento social e restrições à doação de sangue, muitos serviços de emergência podem ser gravemente afetados.

Outro aspecto mencionado pela OMS é o envelhecimento da população, que tende a aumentar a demanda por transfusões devido à prevalência de doenças crônicas. Simultaneamente, a disponibilidade de doadores está diminuindo, visto que pessoas acima dos 69 anos não são elegíveis para doar sangue.

Céspedes ressalta os benefícios da autotransfusão para pacientes vulneráveis: “Quando um indivíduo recebe sangue de outra pessoa, há riscos de reações inflamatórias e alterações no sistema imunológico devido à introdução de células estranhas. A autotransfusão atenua esses efeitos“.

Um exemplo prático dessa abordagem é o caso de Maria Raquel Bernardes, 53 anos, que passou por um transplante de fígado no Hospital São Paulo e se beneficiou da autotransfusão. Diagnosticada com uma rara doença hepática policística em 2024, Maria precisava urgentemente do transplante após o agravamento da condição. Ela expressou alívio ao saber que utilizaria seu próprio sangue em um procedimento tão complexo.

Maria foi operada em 10 de janeiro e teve alta da UTI três dias depois. De acordo com Jaquelina Ota Arakaki, diretora clínica do hospital, sua recuperação rápida deve-se ao PBM; contudo, ainda não existem dados consolidados sobre o impacto dessa técnica desde sua implementação no hospital em 2019.

A autotransfusão é utilizada em todas as cirurgias cardíacas com circulação extracorpórea e também em transplantes hepáticos. “Esse método diminui nossa dependência das bolsas de sangue disponíveis“, afirma Arakaki. O Hospital São Paulo é pioneiro na adoção do PBM no Brasil e possui duas máquinas dedicadas à autotransfusão.

No estado de São Paulo, uma nova comissão interdisciplinar foi formada para expandir o uso do PBM nas instituições de saúde. Atualmente, o serviço já está sendo aplicado em cirurgias cardiovasculares e transplantes variados.

No Ceará, um centro especializado oferece serviços semelhantes para hospitais realizando grandes operações. Emanuelle Nobre, advogada de 38 anos, também se beneficiou da autotransfusão após um grave acidente automobilístico e relatou uma recuperação significativamente mais rápida utilizando essa técnica.

Em termos nacionais, o Ministério da Saúde informa que a autotransfusão é uma prática cada vez mais reconhecida nos serviços de hemoterapia. Entretanto, a recuperação sanguínea durante as cirurgias ainda não foi incorporada na Tabela de Procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS), aguardando avaliação das autoridades competentes.

O projeto Saúde Pública conta com apoio da Umane, uma associação civil focada na promoção da saúde pública no Brasil.

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  • Data: 19/01/2025 09:01
  • Alterado:22/01/2025 12:01
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