Aumento da Selic gera preocupações sobre endividamento e acesso ao crédito
Aumento de juros pode restringir crédito e elevar inadimplência
- Data: 31/01/2025 07:01
- Alterado: 31/01/2025 07:01
- Autor: Redação
- Fonte: G1
Crédito:José Cruz/Agência Brasil
A recente elevação da taxa de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil, divulgada na quarta-feira (29), era uma expectativa consolidada entre os analistas do mercado financeiro. Com a nova definição, a taxa Selic alcança o nível mais elevado desde setembro de 2023, o que gera preocupação em relação ao endividamento das famílias brasileiras.
Especialistas indicam que essa medida, somada à possibilidade de novas altas, poderá encarecer o crédito e restringir seu acesso, aumentando a probabilidade de um crescimento nas taxas de inadimplência. O Copom utiliza os juros como uma ferramenta de controle inflacionário, elevando-os para desestimular o consumo e, assim, conter a inflação.
O aumento das taxas ocorre em um momento em que o Brasil desfrutava de um desempenho econômico positivo, conforme apontam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Até o terceiro trimestre de 2024, o país experimentou 13 trimestres consecutivos de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), impulsionado pelo aumento no consumo das famílias e pela recuperação do mercado de trabalho.
No entanto, Merula Borges, especialista em finanças da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), alerta que essa situação pode se reverter. Ela enfatiza que a inflação persistente está forçando as famílias a destinar uma parcela maior de sua renda para despesas básicas, resultando em menos recursos disponíveis para consumo. Essa realidade, combinada com o aumento da taxa de juros, compromete ainda mais a capacidade dos consumidores em honrar suas dívidas.
Fernando Lamounier, educador financeiro e sócio da Multimarcas Consórcios, complementa que a nova elevação da Selic pode agravar o endividamento das famílias, dificultando sua habilidade de realizar pagamentos pontuais. Ele ressalta que “com o aumento da taxa de juros, as parcelas dos empréstimos tendem a subir, e muitos brasileiros poderão enfrentar dificuldades para manter suas obrigações financeiras em dia. Isso pode resultar em um incremento na inadimplência e complicar ainda mais o acesso ao crédito, afetando a recuperação econômica das famílias”.
Apesar do crescimento na concessão de crédito observado nos últimos meses e da inadimplência não ter registrado alta significativa até o momento, especialistas preveem que 2024 será um ano desafiador. O acesso ao crédito se tornará mais restrito e caro para os consumidores.
Caio Macedo, vice-presidente de estratégia e marketing da Equifax Boa Vista, explica que quando as taxas básicas aumentam, as instituições financeiras enfrentam duas opções: reduzir a concessão de empréstimos ou continuar emprestando na mesma proporção, mas assumindo um risco maior relacionado à inadimplência.
Diante desse cenário, especialistas sugerem que este é um momento oportuno para os consumidores revisarem seus orçamentos e contratos de crédito. Macedo recomenda que aqueles com contratos pós-fixados avaliem como a nova alta da Selic impactará suas parcelas mensais. “É essencial fazer as contas. Anotar receitas e despesas permitirá uma projeção realista sobre como as novas taxas influenciarão seus pagamentos”, acrescenta.
Para famílias que enfrentam uma diminuição na renda devido à perda de emprego ou outras circunstâncias adversas, buscar renegociações com instituições financeiras pode ser uma estratégia útil. Borges reforça a importância de acordos financeiros viáveis e alerta sobre os riscos de comprometer dinheiro destinado a despesas essenciais.
Com isso em mente, Lamounier sugere cinco passos práticos para ajudar os consumidores a reorganizarem suas finanças:
- Diagnóstico Financeiro: Realizar um levantamento detalhado das contas existentes, incluindo valores, taxas de juros e datas de vencimento.
- Priorizar Pagamentos: Focar no pagamento das dívidas com juros elevados primeiro e negociar melhores condições sempre que possível.
- Elaborar um Orçamento Mensal: Planejar gastos mensais priorizando despesas essenciais antes das não prioritárias.
- Uso Moderado do Crédito: Evitar depender excessivamente do cartão de crédito e quitar faturas integralmente para evitar juros altos.
- Cautela com Novos Empréstimos: Evitar contrair novos empréstimos para cobrir dívidas anteriores, pois isso pode agravar a situação financeira.
A conjuntura econômica atual exige prudência financeira por parte dos consumidores brasileiros diante das recentes mudanças nas taxas de juros definidas pelo Copom.