Aliados usaram fundo criticado por Bolsonaro
Incomodado com críticas sobre a destinação de R$ 2 bilhões para bancar campanhas, Bolsonaro tem pedido a apoiadores que não votem em candidatos que utilizam recursos públicos nas eleições
- Data: 16/01/2020 13:01
- Alterado: 16/01/2020 13:01
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
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O problema é que o “boicote” pode prejudicar seus próprios aliados. Levantamento do jornal O Estado de S. Paulo mostra que pelo menos 15 parlamentares bolsonaristas tiveram parte dos gastos eleitorais em 2018 custeada com dinheiro do fundo eleitoral. Ao todo, foram R$ 335 2 mil recebidos, o que representa 17% do total arrecadado pelos então candidatos.
Na lista estão os deputados federais e estaduais que pretendem migrar para o Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro tenta colocar de pé até abril, a tempo de disputar as eleições municipais de outubro. Inclui ainda o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), vice-presidente do Aliança pelo Brasil.
Flávio não recebeu repasses diretos do fundo eleitoral, mas, na prestação de contas enviada à Justiça Eleitoral, consta que seu ex-partido, o PSL, usou R$ 70 mil do dinheiro público para produzir adesivos e santinhos do então candidato ao Senado. O valor representa 10% dos R$ 712,2 mil arrecadados pelo filho “01” na campanha de 2018.
O fundo eleitoral é o principal mecanismo de financiamento público de campanhas e, em 2018, distribuiu R$ 1,7 bilhão. Ele foi criado em 2017 para compensar decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que proibiu doação empresarial.
Neste ano, na primeira eleição municipal abastecida majoritariamente com recursos públicos, o Congresso aprovou R$ 2 bilhões para financiar candidatos. Bolsonaro chegou a indicar que poderia vetar o valor. Depois, porém, mudou o discurso, sinalizando que deve sancionar a proposta. Ele tem até segunda-feira para decidir.
“Eu tenho um momento difícil pela frente que são os R$ 2 bilhões do fundão. Eu lanço a campanha: não vote em parlamentar que usa o fundão”, disse o presidente na sexta-feira passada. Nesta quarta-feira, 15, em frente ao Alvorada, voltou a dizer que o Aliança não usará recursos públicos. “A gente espera, brevemente criar um partido, que não vai ter fundão neste ano nem em 2022. A gente não vai usar, porque é um dinheiro que sai, realmente, do povo, que podia ser aplicado melhor em outro local”, afirmou.
Assim que formalizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Aliança deve ganhar a adesão de pelo menos 27 deputados federais que hoje estão no PSL. Destes, 10 se elegeram com ajuda do fundo eleitoral. A que mais recebeu foi a deputada Major Fabiana (PSL-RJ). Foram R$ 85,5 mil, 90% dos R$ 95 mil que ela arrecadou em 2018.
A colega de bancada Chris Tonietto (PSL-RJ) também teve quase todas a campanha custeada com o fundo. Foram R$ 73,3 mil dos R$ 78,4 mil que ela arrecadou – o equivalente a 93,5%.
Entre os deputados estaduais há quem tenha bancado 100% da campanha com dinheiro público. Todos os R$ 33 mil arrecadados por Capitão Assumção (PSL-ES) tiveram como origem o “fundão”. Parte foi depositada diretamente na conta do então candidato e a outra, via repasses de Carlos Mannato (PSL), que disputou o governo capixaba em 2018.
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Chris Tonietto disse que o dinheiro do fundo foi utilizado “exclusivamente” para bancar “publicidade em jornais”, mas que ela não vai mais utilizá-lo em campanhas.
A deputada Bia Kicis (PSL-DF), que arrecadou R$ 320 mil – apenas R$ 566 via fundo – afirmou que “deixou para trás” mais de R$ 1 milhão a que teria direito ao deixar o Patriota, seu partido na eleição. “Foi a campanha mais barata de deputado federal no Distrito Federal. Cada voto saiu a menos de R$ 4.”
O deputado estadual Torino Marques (PSL-ES) disse, primeiro, que não usou dinheiro do fundo. Confrontado com sua prestação de contas, alegou que o dinheiro foi apenas para “alguns santinhos e adesivos”.