A Experiência BBB na informação da Covid-19

Em tempos de coronavírus até profeta sai das cavernas e volta a postar. Um artigo denso que nos força a refletir sobre o poder da comunicação e seus reflexos no nosso dia a dia

  • Data: 01/04/2020 16:04
  • Alterado: 01/04/2020 16:04
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Paulo Porto, roqueiro do ABC. Músico, Compositor, Pesquisador Cultural e Advogado
A Experiência BBB na informação da Covid-19

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O BBB é o maior e melhor exemplo de quando se fala em alienação nesses dias virais de isolamento social, mais rígido ou mais frouxo conforme impõem os pequenos ditadores de cada região ou Estado. Vi por cima que, nessa semana, alcançou a marca de 1 bilhão de votos!?! Sim, 1 BILHÃO! 5x mais a própria população do País…

Trata-se, como se sabe, de um programa de TV da vida real, entretanto voltado apenas para o fuxico e a palpitaria da sua audiência perante a bisbilhotice da vida alheia das pessoas, decidindo quem deve morrer (“ir ao paredon”) e quem deve viver nessa sociedade confinada, de acordo com essa premissa, digamos, social.

Mas o que é o fuxico e qual o seu poder em uma sociedade? Do que ele é capaz?

Dicionário: Fuxico: comentário que é espalhado com base em suposições e inverdades, quase sempre desleal; futrica, intriga, mexerico.

Santo Tomás de Aquino, o filósofo, definiu que natureza humana seria um princípio de movimento com disposição ao bem e com tendência a união, desde que não haja obstáculos.

É uma lei escrita no coração dos homens e reconhecida pela razão do homem. Há um consenso na história de que o direito natural existe independente de seu uso ou não, tanto quanto, por exemplo, as leis da matemática. Simplesmente, existe. Não há nem lei, nem nada que se possa fazer contra isso.

Assim, vê-se que o fuxico, a futrica, não faz parte da natureza humana. Na verdade, é um hábito perigoso, tendo em vista que o hábito é uma rotina de comportamento que se repete sempre, com tendências, além de tudo, a ocorrer subconscientemente.

É Perigoso porque, se mal interpretado, um hábito vira costume e, costume de muitos, regra social velada, preconceito. Não que hábito possa vir a ser uma cultura. O que estou dizendo, é que o hábito é justamente um obstáculo àquela tendência de união e ao bem do homem, levantada por Tomás de Aquino. E, Confúcio já sabia disso: “A natureza dos homens é a mesma, são os seus hábitos que os separam”.

São configurações não lineares. Podemos dizer que a cultura existe por conta de rituais; os costumes, pela força das tradições e; o hábito, para ser suportado…

Sendo o fuxico, então, um hábito segregador de uma força em repetição, é importante questionar se isso nos leva ao caminho de Santo Tomás de Aquino – aquele natural, da felicidade, que induz ações em consonância com a virtude. Ou se não é; sob pena de? Claro, alienação.

Dicionário: Alienação: estado resultante do abandono ou privação de um direito natural.

Tá vendo aí? Quando abrimos mão de nosso direito natural, apesar de nós mesmos, nos alienamos. No marxismo, alienar é, além do afastamento da nossa natureza (como o caminho para a felicidade), também tudo o que produzirmos a partir desse estado, pois ele passa existir, independentemente se esse tudo é contrário aos seus interesses ou, claro, à sua natureza.

Alienar é, portanto, reproduzir para a vida coisas que não partem de sua própria consciência ou natureza. E, repetidas à exaustão, têm o poder de esvaziar de nossa mente os processos que questionam. Seu poder de argumentação, de ver a vida real – ou de Ter a vida real – desaparece.

Assim, você é a opinião dos outros, pela visão dos outros, pelo que te mostram à exaustão, que você passa a reproduzir, julgando-se viver quando, na verdade, sem se dar conta, pode estar em algum universo paralelo. Mas a sua natureza ainda existe, lembra? Igual às regras da matemática. Você pode não usar, mas ela está lá.

Assim, quando a gente vê mais de 1 BILHÃO de votos em um programa de TV, cuja premissa é a bisbilhotice da vida alheia, a gente passa a entender o poder de alienação de um meio de comunicação e sua capacidade de se introduzir hábitos que a população, sem exata noção, possa praticar para sua vida, em especial em assuntos tão delicados como a Covid-19.

E isso não é nada inocente ou casual, porque a gente vê agora, na prática, a aplicação desse conceito alienador a qualquer momento que você ligue a TV, não é? E, pior, direcionado para os interesses deles e nunca o seu. É alienadora a massificação de informações acerca da Covid-19 e que, claro, exige atenção e cuidado, entretanto, não seria de igual importância uma orientação multidisciplinar a se seguir, com vistas ao futuro e não somente ao caos que nos é imposto?

Mas, como diria outro pensador do direito natural, Thomas Hobbes: o que você busca (a felicidade) pode ser polêmico, mas o que você teme (a morte pela mão do outro) pode gerar um amplo consenso. E o que buscaria essa massificação de informação baseada no terror, senão um amplo consenso? Seria ele dirigido justamente para o alienado?

Incomoda a tranquilidade com que a TV impõe seu ritmo de terror, de segregação e mais, com o devido zelo e direção para que a sua indignação seja comigo, que o inimigo seja eu e não o vírus. Para que não haja consenso na base da sociedade e, logo, muito menos união. Claro, direito natural pra quê? Já temos para quem falar.

Assim, a tranquilidade está justificada: 1 bilhão de votos num BBB, é um perfeito exemplo do sucesso desse trampo de alienar pessoas a partir de hábitos que nos afastam. Sem dúvidas, foi e vem sendo bem feito por décadas. Boa parte da população está realmente dominada e pronta a seguir as determinações dessa TV, independentemente disso contrariar a sua natureza.

Eu não me espantaria se, nesse 1 bilhão de votos, a parte inconformada possa fazer abaixo assinados em prol de uma CPI no Congresso Nacional – sim, os representantes dos anseios do povo – para saber se foram votos mesmo ou se foram robôs. Tampouco me espantaria se algum nobre deputado encampasse essa empreita. Afinal, o fuxico parece que já é do jogo. Gastamos um bom tempo nesse vácuo. É nosso “jeito” de viver a vida… Será?

O mundo que você anda vendo por aí é real ou você anda produzindo coisas para, nelas, acreditar? Estaria você reproduzindo o mesmo fuxico que aprendeu no BBB em assuntos que interessam os caminhos da sociedade? Sua “opinião” foi fabricada por alguém ou nasce de teu próprio questionamento? Ela junta ou separa? Bom pra refletir…

Quando os Estados Unidos declararam sua independência, Thomas Jefferson tomou como verdades evidentes o que chamou de direitos inalienáveis, citando a vida, a liberdade e a busca da felicidade. Direitos Naturais, em outras palavras. Não custa, às vezes, nos atentarmos a elas: as verdades evidentes.

Vejo muitos bons em discordar e até atacar pessoas com base naquilo que ele mais se acostumou a concordar, do que naquilo que deveria nascer de seu próprio pensamento ou conclusão, ou seja, daquilo que lhe é “natural”.

Você tem todo o direito, claro, à informação. Mas isso não significa só aquela coisa confortável e habituada de ser informado no sofá da sua sala, mas também o valoroso trampo de se informar. E cuidado ao reproduzir sem pensar, aquilo ou aquele que você nem sabe se realmente defende ou acredita. Lembre-se de usar o seu direito natural, mesmo que sue um pouco: Questione, pense, pondere e pense de novo. Não se aliene. Não seja você a experiência BBB…

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  • Data: 01/04/2020 04:04
  • Alterado:01/04/2020 16:04
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Paulo Porto, roqueiro do ABC. Músico, Compositor, Pesquisador Cultural e Advogado









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