A Corrupção é um Direito dos Políticos? Os Ratos de Escobar e Hamelin
Paulo enviou-me este texto como presente de aniversário. É meu! Não deveria dividi-lo. Mas, como os ratos, preciso da força de meus parceiros. Pensemos, oremos! Obrigado!
- Data: 23/01/2017 09:01
- Alterado: 23/01/2017 09:01
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Paulo Porto é roqueiro do ABC. Músico, Compositor, Pesquisador Cultural e Advogado
Olha essa notícia que li em uma rede social: “Um brinde a sociedade corrupta que reclama da corrupção!” Nem li… Certamente plantada por pessoas que querem que você se conforme com o estado das coisas. Que pense em ser você mesmo o culpado pela corrupção no Brasil. É só gente inconformada pela perda da teta da vaca divina do governo. Gente que não imaginava que “mexeriam em seu queijo”. E o povo – coitado do povo – generaliza o problema, compra e vende essa notícia, numa feira que quer enfiar por minha goela aquilo que só a fome extrema me faria engolir… Desculpa aí, não engulo essa e nem mais nenhuma outra sua…
Ao desavisado, não deixa de ser uma bela chamada na chincha praqueles que reclamam dos políticos corruptos, não? Não passam de estúpidos que plantam matérias como essa para dizer que a culpa da corrupção é minha também, que é assim mesmo, fazer o quê? Ahã…
Li, certa vez, que o bandido traficante Pablo Escobar escondia dólares por toda a Colômbia e que, todo ano, minimamente, 02 bilhões deles eram simplesmente devorados por ratos. Era esse o “prejuízo” de seu escuso negócio. Sim, porque, por muito menos dinheiro, ele mantinha ou eliminava de seu caminho quem ousasse questioná-lo, conforme seu humor e capricho. Uma tática corrupta, sem dúvidas.
No Brasil a corrupção tem outra vertente, porque ela é praticada no núcleo da democracia e por seus guardiões legislativos, executivos e judiciários, o que faz dos líderes dessa nossa nação, ninguém menos que os ratos de Escobar.
E eles se apodrecem por dinheiro; transforma em lixo toda e qualquer conduta reta, firmada nos princípios da Constituição que os colocou lá e para quê? Para brindar, por meio de matérias e publicações esdrúxulas, a minha corrupção? Pra dizer que ele é corrupto por minha causa?
Logo eu, que furo um sinal vermelho, que dou ali uma comissãozinha por uma indicação que me gerou um negócio, enfim, que faço um esforço danado para seguir meu líder e, quem sabe um dia, virar rato, sou o culpado disso agora? Seria eu e você os únicos humanos dessa história, visto que só eles podem ser ratos? Não aceito e nem me desculpo por isso…
Na verdade, a esperteza deles tem um nome. Uma tática tão funcional que ainda não ouvi ninguém dar luz sobre ela: a demagogia! Falarei eu, então. Acompanhe-me:
Para Aristóteles, em sua obra “A Política”, a demagogia é justamente a corrupção da democracia. Conseguem entender, portanto, a fórmula de onde ela nasce? Demagogia + Política = Corrupção.
Demagogia é a arte de poder conduzir o povo. Ela atua na manipulação de aparentes argumentos de senso comum – as tais promessas, no entanto, em desunião falaciosa, ou seja, sem razão, quase sempre apelativa e emocional, visando apenas proveitos próprios para se chegar ao poder. Nem é ruim isso, como se sabe lá na Grécia antiga, desde que, uma vez no poder, o líder passasse a agir com a verdade.
E essa forma de manipular a maioria é, senão, a falha da democracia, visto que, da demagogia, se origina a bajulação de “cortesãos” e de certos “súditos” aos líderes dessa nação, envaidecendo-os com o poder e, assim, fazendo-os a pensar apenas neles (quando deveria prestar seus serviços à soberania do povo). Assim, tal estratégia se converte em ações que beneficiam a si próprios.
E o Brasil, evidente, é uma bela referência negativa, lotada de constatações (exemplo é pouco), senão vejamos: Não existe democracia social no Brasil. Não mesmo. Desculpa aí todos os partidos que têm o “S” de socialismo no nome. Desculpem-me também todos os outros que defendem em suas bandeiras a social democracia…
Mas vamos esquecer esses partidos e esses caros políticos todos. Apenas para levar a sério o que pretende o regime político-partidário do Brasil. Sem demagogia e sem hipocrisia! Por amor ao argumento e às sínteses, exercitemo-nos…
Você se colocou diante de dois reduzidos e simples poderes para decidir quem o comanda. Direita e esquerda, coxinha e mortadela, Beatles e Rolling Stones, ou seja, os bonzinhos e os maus, independente de quem sejam quais e de quem você quis ouvir e preferir, porque o importante é odiar o outro. A arte da demagogia permitiu que você e seu poder de voto – como assim a vaidade deles queria – ficassem na mão de ambos pelos tempos em que a vida nos carrega, ora um, ora outro. Mas, se eles se despissem dessa vaidade e envolvimento em si mesmos, pela obsessão do poder, como eles agem crus?
Ambos oprimem: O capitalismo da direita é a força opressora que produz trabalho escravo ao oprimido e o socialismo da esquerda haverá de ser o resultado inverso da força oprimida que produz trabalho escravo ao opressor… E você é a tal “força” dos dois.
Ambos são cíclicos: O capitalismo funciona até onde o oprimido não se importe mais nem com a sua morte, até o ponto de fazer dela a ferramenta de romper com o sistema. Essa é a época de colheita para o socialismo que, por sua vez, compra bem a preço de custo essa falta sua de desejar viver e, assim, aglutina o povo e usurpa os que produzem riquezas até o ponto em que se empobreçam, deixando de fazer valer até as suas próprias vidas… Foi assim com você que rompeu, lembra-se? A força que desejou a mudança causou isso… E aí se inverte de novo, sendo você e sua esperança a tal “força” dos dois.
Ambos exploram: Você ouve de mim que a força do capitalismo da direita tira do homem mais do que o homem pode dar e tira da terra mais do que a terra pode dar. No capitalismo, o impacto do homem no meio ambiente é 20% maior do que a capacidade da terra se regenerar. E nessa mesma toada, ouvi de um amigo que visitou os bastidores da Cuba esquerdista do ditador que, há 50 anos, a cana de açúcar tinha uma bitola de 5cm e que, hoje, a bitola da mesma cana não passa de 2cm e você é a tal “força dos dois sistemas”.
Você, povo democrático que delega poderes à direita e à esquerda, diante das dessas duas situações, o que mudou pra você? Vamos ver:
O democrata capitalista de direita acaba com o homem e o meio ambiente em que ele vive. No território estadunidense, sobraram apenas 4% de florestas, aquecimento global e piorando. Já o democrata socialista de esquerda deseja que o sistema funcione enquanto “ele” vive e não você e, assim, sem se dar conta, acaba com o futuro do homem porque faz você sobreviver com o que o meio ambiente te dá e do jeito em que ele se encontra e piorando. Tolhe os investimentos, incapacita os capazes, empobrece os ricos e nivela, por baixo, a sociedade.
O democrata capitalista de direita usa o teu dinheiro para fazer lobby no governo e, assim, se manter na vanguarda das decisões do governo para se perpetuar dentro poder econômico, a ponto de se fazer maior que o poder da sociedade (via governo) e as leis, dessa forma, deixam de ser para o povo. Já o democrata socialista de esquerda toma, ele mesmo, o poder econômico de assalto, se perpetua ele próprio no poder do povo e da grana, com assim fazem os ditadores. E as leis, igualmente, deixam de ser para o povo.
E o que mudou, então, com o predicado democrata? Nada. Os dois sistemas são, portanto, mesma coisa do ponto de vista do povo. E, ambos, corruptos até a alma. E a sua vida continua caótica, posto que à mercê destes… Continuemos:
O democrata capitalista de direita dribla você, da carroça que você puxa, te lança à cenoura, te cega as laterais da visão (diminuindo seu horizonte) e o faz caminhar numa estrada que é dele, não sua. No entanto, ele te possibilita uma carroça melhor, mais confortável, com air bag, bancos de plumas de ganso e tal, a baixos juros, fazendo você acreditar no poder da conquista de um homem livre.
O democrata socialista de esquerda é um tanto estoico (mais ou menos), ou seja, retira de você todos os seus desejos de conquista para te dizer que você é feliz sem eles. Ele não tem cenoura pra te oferecer e nem novas e modernas carroças. Não reduz teu horizonte, no entanto, coloca em você um quepe, um boné, para que, como porcos, você não veja o céu, desconhecendo assim, seus limites. Embora lhe reste o horizonte, por certo, este lhe será diminuído até as cercas de seu chiqueiro, que é o local onde ali vives. Sem pejorar, nesse caso, apenas uma real constatação. Se em seu chiqueiro tiver uma bica d’água, por exemplo, em poucos anos ela deixará de existir e você passará a depender do ditador para não morrer de sede e, assim, criar odes e poesias e ele.
Enfim, a história tem mostrado que o democrata capitalista de direita consegue ludibriar muitas pessoas por pouco tempo e o democrata socialista de esquerda consegue enganar poucas pessoas por muito tempo. E, no enlace das duas vertentes de vida, os dois conseguem enganar você por durante o tempo de sua própria vida.
Nos dois últimos séculos, no mundo, o democrata capitalista de direita venceu o democrata socialista de esquerda. Isso não foi bom e nem ruim para o povo. Aliás, foi ruim, porque para carregar a própria vida, você passou a depender de terceiros, quais sejam, eles. No entanto, existe uma coisa boa nessa história que eles não contam: hoje, ambos são democratas! E, do ponto de vista do poder, sucumbiram burramente a isso… Azar deles…
E democracia, vamos lá – de novo – é o governo do povo, pelo povo e para o povo. E assim, o povo, por esses dois regimes, apesar de ser quem ainda é quem sofre sempre, é quem pode ganhar quanto a isso e aos poucos…
Agora posso voltar à minha indignação, naquela matéria que não preciso ler: “Um brinde a sociedade corrupta que reclama da corrupção!”.
Primeiro que a sociedade não reclama da corrupção. A sociedade reclama da corrupção de seus outorgados ou líderes. Justamente porque sabe que a corrupção não a sustenta e nem a progride, mas apenas a oportuniza a serem ratos, assim como a seus líderes.
Líder, do verbo em inglês lead, tem diversos significados e todos levam para onde quero chegar. No dicionário da Cambridge University, algumas definições: ir à frente de um grupo; mostrar o caminho; ser a razão ou o motivo para alguma ação (…).
Os nossos líderes são os ratos de Escobar. Assim, que não se culpe o povo que se corrompe para seguir seu líder e tentar ser, igualmente, rato, visto ser a única oportunidade vertical de crescimento que os ratos lhes dão.
Nosso País hoje junta as moedas necessárias para pagar o “Flautista de Hamelin” – aquele que hipnotizou os ratos de tal cidade, para que se afogassem no Rio Weser, como diz a história. E já sem ratos no comando, com nosso País em uma nova perspectiva horizontal e vertical, acaso venham a ser igualmente corruptos, como os ratos, os homens desse País, negando ao Flautista o devido pagamento dessa mudança, podem esperar… Nosso Flautista voltará vingativo, dessa vez para hipnotizar, levar e esconder nossas crianças em uma caverna tão escura como a visão da matéria que citei, jogando sobre nosso futuro um manto de tristeza e silêncio. Como diz a história de Hamelin…