A Atração dos Ultraprocessados: Entendendo a Preferência por Alimentos Não Naturais
Por que preferimos ultraprocessados? Entenda a luta entre saúde e prazer na alimentação das crianças e suas consequências alarmantes.
- Data: 01/02/2025 09:02
- Alterado: 01/02/2025 09:02
- Autor: redação
- Fonte: Folhapress
A Feira conta com diversas opções gastronômicas, entre elas, o tradicional hambúrguer
Crédito:Divulgação/PMETRP
Quando a fome surge no meio da tarde, muitos se deparam com uma escolha difícil: um sanduíche natural repleto de legumes e uma fruta, ou um pacote de salgadinhos acompanhado de bolachas recheadas e refrigerante. É comum que a maioria opte pela segunda alternativa, atraída por sua aparência apetitosa.
Esse fenômeno levanta questões sobre o porquê de tantas pessoas, especialmente crianças, preferirem alimentos considerados “não saudáveis” em detrimento das opções mais nutritivas. De acordo com a nutricionista Maria Alvim, do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da Universidade de São Paulo, essa preferência está intimamente ligada ao apelo sensorial desses produtos. “As indústrias alimentícias utilizam tecnologia avançada para criar alimentos que são visualmente atrativos e saborosos. Entretanto, esses produtos são frequentemente carregados de aditivos químicos que os tornam artificiais”, explica.
Por exemplo, o picolé de morango que muitos apreciam pode não conter morangos reais, assim como muitos doces de frutas disponíveis nos supermercados. Esses itens são classificados como ultraprocessados, caracterizados pela predominância de ingredientes artificiais que intensificam o sabor, cor e textura.
A abundância de açúcar nos doces e sal nos salgadinhos gera uma combinação irresistível. Segundo a especialista Caroline dos Santos, nutricionista infantil, nosso cérebro é programado para buscar essas experiências prazerosas: “Quando consumimos alimentos ricos em açúcar e gordura, nosso cérebro libera substâncias que nos fazem sentir bem, criando um ciclo de desejo por esses produtos”.
Além das respostas fisiológicas, a publicidade desempenha um papel crucial na formação das preferências alimentares. Anúncios frequentemente retratam momentos felizes associados ao consumo de alimentos ultraprocessados, criando um desejo inconsciente por essas opções em detrimento de alternativas saudáveis.
Entretanto, essa palatabilidade não implica em benefícios para a saúde. Os ultraprocessados oferecem energia temporária mas carecem de nutrientes essenciais que sustentam o organismo. A falta de atenção durante as refeições — frequentemente consumidas em momentos automáticos — também contribui para hábitos alimentares prejudiciais.
Estudos indicam uma correlação crescente entre o consumo excessivo de ultraprocessados e doenças como obesidade e diabetes em idades cada vez mais jovens. No Brasil, a situação é alarmante: cerca de 10% das crianças até 5 anos apresentam sobrepeso e estima-se que até 2035 metade dos adolescentes poderá ser afetada pela obesidade.
Para reverter esse quadro e aumentar a ingestão de alimentos saudáveis, mudanças no paladar são possíveis ao longo da vida. Expor-se a vegetais em diferentes preparações pode tornar esses alimentos mais agradáveis. Cozinhar junto à família ou participar das compras no supermercado são boas práticas para desenvolver uma relação positiva com a alimentação saudável.
A hora da refeição também pode ser transformada em um momento lúdico. Criar jogos ou dinâmicas durante as refeições pode ajudar a tornar essa experiência mais divertida e consciente. Além disso, evitar distrações como televisão ou dispositivos eletrônicos permite que os indivíduos estejam mais atentos aos sinais do corpo sobre saciedade.
Por fim, a escolha por alimentos ultraprocessados não afeta apenas a saúde pessoal; ela tem repercussões ambientais significativas. A produção desses itens gera grande quantidade de resíduos plásticos que poluem os oceanos e impactam negativamente a vida marinha, conforme destaca Maria Alvim.