Expectativas de queda nas vendas de títulos locais no Brasil em 2024
Executivos financeiros preveem queda nas emissões de títulos brasileiros em 2024, devido ao aumento nos custos e à cautela das empresas.
- Data: 24/02/2025 17:02
- Alterado: 24/02/2025 17:02
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Assessoria
Executivos de instituições financeiras proeminentes no setor de capitais brasileiros projetam uma diminuição nas emissões de títulos locais para este ano, após um desempenho recorde em 2023. O aumento nos custos de captação está levando as empresas a adotar uma postura mais cautelosa, optando por adiar suas vendas.
Felipe Wilberg, diretor de renda fixa e produtos estruturados do Itaú BBA, comentou sobre o cenário atual, afirmando: “O ano passado foi extraordinário; as condições eram extremamente favoráveis, com spreads bem reduzidos. Muitas empresas aproveitaram essa janela e emitiram títulos mesmo sem uma necessidade imediata”. Ele destacou que, neste ano, muitas companhias não veem urgência em emitir novos títulos e podem optar por aguardar.
No ano anterior, as empresas brasileiras arrecadaram impressionantes R$ 498,24 bilhões através da emissão de títulos locais, quase dobrando o total registrado em 2022, conforme dados da Bloomberg. O Itaú BBA liderou este segmento, detendo aproximadamente 23% do mercado.
No entanto, os números de 2024 mostram um recuo significativo. A emissão total até agora caiu 29%, somando R$ 28,6 bilhões, em comparação ao mesmo período do ano anterior. Este declínio é atribuído ao aumento dos spreads e à redução nos prazos de vencimento dos títulos disponíveis.
Marcelo Marangon, presidente do Citi Brasil, apontou que já no final do ano passado foram percebidas dificuldades na distribuição de algumas transações devido à deterioração das condições econômicas e a expectativa de um aumento nas taxas de juros. O Banco Central iniciou um ciclo de aperto monetário em setembro do ano passado, elevando a taxa básica em quase três pontos percentuais desde então. Em dezembro, a alta do dólar e o aumento das taxas de juros futuras foram consequências da frustração dos investidores com os planos de corte de custos do governo.
Projeções econômicas indicam que o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 2,1% neste ano, uma queda em relação ao crescimento de 3,3% observado no ano anterior. Uma desaceleração na expansão econômica pode impactar os planos de investimento das empresas e suas necessidades de financiamento.
Um exemplo dessa nova abordagem é a Raízen, produtora de açúcar e etanol resultante da parceria entre Cosan e Shell. Durante uma teleconferência sobre resultados realizada em fevereiro, seu presidente Nelson Gomes revelou que a empresa está considerando a venda de ativos e suspendendo projetos para construção de novas usinas com o objetivo de reduzir a dívida em resposta ao aumento nos custos dos empréstimos.
Marangon acredita que operações de fusões e aquisições e o reperfilamento da dívida poderão estimular a emissão global de títulos brasileiros. Wilberg complementou que o mercado deve se estabilizar este ano em comparação ao desempenho recorde observado em 2023.
Em termos internacionais, emissores brasileiros venderam US$ 29,6 bilhões em títulos globais no último ano, representando um crescimento de 57% em relação a 2022. O Citi destacou-se como líder nessas transações. Até agora neste ano, as empresas brasileiras e o governo já arrecadaram US$ 11,7 bilhões em títulos internacionais, cifra que representa um aumento de 63% se comparada ao mesmo período do ano passado.
Marangon ressalta que “o mercado global não está acessível para todas as empresas”, enfatizando que ele tende a favorecer emissores frequentes ou aqueles com uma posição consolidada no mercado.”