Avanços na Detecção Precoce da Doença de Alzheimer Através da Análise de Saliva

Estudo revela que saliva pode ser a chave para diagnóstico precoce do Alzheimer, prometendo maior acessibilidade e eficácia na detecção da doença.

  • Data: 27/01/2025 10:01
  • Alterado: 27/01/2025 10:01
  • Autor: redação
  • Fonte: Folhapress
Avanços na Detecção Precoce da Doença de Alzheimer Através da Análise de Saliva

Crédito:Divulgação

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Um recente estudo internacional e interdisciplinar trouxe avanços significativos na identificação de biomarcadores para a doença de Alzheimer, através da coleta de saliva. Os pesquisadores envolvidos esperam que essa nova metodologia não invasiva possibilite o diagnóstico precoce da doença, antes mesmo do surgimento dos primeiros sintomas.

Atualmente, os testes disponíveis para detectar a presença de secreções corporais focam principalmente na identificação das placas amiloides, que indicam a ocorrência da doença após seu desenvolvimento no cérebro, ou na avaliação do risco genético em indivíduos. O diagnóstico clínico, que se baseia em relatos de esquecimentos e confusões por parte dos pacientes, ainda é predominante.

Os resultados do estudo foram publicados recentemente na revista Alzheimer’s & Dementia, vinculada à Alzheimer’s Association. O farmacêutico brasileiro Gustavo Alves, único representante da América Latina na pesquisa, enfatiza que o trabalho estabelece uma etapa crucial conhecida como “pré-analítica”, que determina os métodos adequados para a preparação da saliva antes da análise.

“Estamos investigando a saliva como um fluido diagnóstico e elaboramos diretrizes que orientam o preparo necessário antes das análises. Isso representa um avanço significativo”, declara Alves. Simultaneamente, os pesquisadores estão realizando investigações complementares com o objetivo de aprimorar o diagnóstico das demências.

Vale ressaltar que o teste desenvolvido pelo grupo ainda está em fase de validação e, portanto, não está disponível comercialmente e não deve ser utilizado como método diagnóstico neste momento.

Este avanço é considerado fundamental para aumentar a acessibilidade dos exames e permitir uma detecção mais precoce da doença. “A saliva contém biomarcadores, substâncias que podem estar associadas ao diagnóstico da doença de Alzheimer. O impacto dessa descoberta é significativo, pois a coleta de saliva é simples, indolor e econômica”, comenta Alves.

No artigo, os pesquisadores destacam a urgência por biomarcadores acessíveis e precisos para o diagnóstico do Alzheimer e outras demências. A proposta não visa substituir outros exames existentes, mas sim facilitar uma triagem ampla, especialmente em populações vulneráveis.

“Um teste validado poderia ser implementado na atenção primária à saúde, proporcionando agilidade no processo de diagnóstico”, acrescenta Alves. Além disso, os autores indicam que a saliva se mostra uma amostra altamente viável para o diagnóstico e monitoramento contínuo da doença devido à sua natureza minimamente invasiva e à simplicidade no processo de coleta, mesmo fora dos grandes centros de pesquisa.

Embora o modelo proposto não seja universal devido às características regionais diversas, ele permite a identificação de biomarcadores como Aβ, tau, isoformas pTau, NfL, GFAP e lactoferrina, ampliando as perspectivas para futuros diagnósticos relacionados às demências.

Os autores também ressaltam que a padronização dos protocolos é um passo inicial essencial. A disponibilização de ensaios validados para coletar, estabilizar e quantificar proteínas em amostras salivares será fundamental para o sucesso desse método.

Lucas Mella, psiquiatra especializado em neuropsiquiatria geriátrica e diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), reitera que os testes salivares ainda são uma “promessa” sem comprovações conclusivas quanto ao seu potencial diagnóstico; no entanto, podem transformar o cenário do tratamento se forem bem estruturados e confirmados. Ele observa que esses testes poderiam ser amplamente utilizados por clínicos gerais para identificar pacientes com resultados alterados e direcioná-los para avaliações mais detalhadas.

Mella destaca que atualmente o diagnóstico precoce da demência está restrito aos centros especializados. As alternativas existentes são menos acessíveis e incluem exames complexos como a análise do líquido cérebro-espinhal ou tomografias por emissão de pósitrons — ambos procedimentos caros.

A análise sanguínea representa um avanço em relação à coleta do líquido da medula óssea pela sua relativa facilidade; no entanto, ainda assim se mostra dispendiosa. “A análise de saliva se destaca por ser pouco invasiva e econômica, podendo contribuir significativamente para um diagnóstico precoce e início do tratamento em momentos oportunos”, conclui Mella.

Na esfera nacional, Gustavo Alves atua como pesquisador assistente na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e professor na Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic. Desde 2013, ele investiga o uso da saliva no diagnóstico do Alzheimer. “Em nossos estudos, analisamos saliva de diferentes faixas etárias com e sem a doença e já conseguimos identificar diferenças nas proteínas entre esses grupos. O próximo passo é validar nosso método nos próximos meses”, avalia Alves.

Os testes realizados até agora foram conduzidos em um grupo selecionado que incluía participantes diagnosticados com a doença e outros sem sintomas. O diagnóstico dos participantes foi determinado através de uma série de exames clínicos abrangentes.

“Nos meus estudos sobre biomarcadores na saliva, seleciono pacientes com Alzheimer com base nesses critérios rigorosos definidos por uma equipe médica. Os pacientes controle são geralmente mais jovens e assintomáticos”, explica Alves. O objetivo é desenvolver uma tecnologia eficiente para coleta salivar voltada ao diagnóstico do Alzheimer dentro do prazo estimado de um a dois anos.

Alves recorda que ao iniciar suas pesquisas sobre o uso da saliva como ferramenta diagnóstica durante seu doutorado enfrentou ceticismo. No entanto, as evidências subsequentes mostraram que era possível detectar moléculas relacionadas ao Alzheimer nesse fluido biológico. Atualmente, a saliva já é utilizada para diagnosticar doenças como HIV, hepatite e câncer; assim sendo, seu uso no contexto do Alzheimer pode se mostrar igualmente promissor dada a prevalência desta condição entre as demências.

“A doença pode começar a se desenvolver até 20 ou 25 anos antes dos primeiros sinais clínicos se manifestarem. Nosso projeto visa identificar alterações nos biomarcadores antes que as placas sejam acumuladas no cérebro”, conclui Alves.

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  • Data: 27/01/2025 10:01
  • Alterado:27/01/2025 10:01
  • Autor: redação
  • Fonte: Folhapress









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