Amazônia ganha 1ª torre para medir gases do efeito estufa em floresta alagável
A estrutura é capaz de fazer pelo menos dez medições por segundo das concentrações de metano e gás carbônico na atmosfera.
- Data: 24/01/2025 07:01
- Alterado: 24/01/2025 07:01
- Autor: Redação
- Fonte: Everton Lopes Batista (FOLHAPRESS)
Crédito:Agência Brasil
Uma nova torre foi instalada na Amazônia para medir o balanço de gás carbônico e metano em uma área de floresta de várzea -que pode ficar alagada por vários meses. O equipamento, construído dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no município de Uarini (a cerca de 725 km de Manaus), entrou em funcionamento em dezembro.
A estrutura de monitoramento tem 48 metros de altura e, ao longo do comprimento, estão painéis solares, que fornecem energia para o sistema, dispositivos de armazenamento de dados e diversos sensores para coletar dados, como detectores de temperatura e radiação solar, e os analisadores dos gases metano e carbônico.
O metano, assim como o gás carbônico, colabora para a modulação do clima e para o efeito estufa. O gás carbônico é produzido na respiração dos seres vivos e na queima de combustíveis fósseis, como a gasolina. Já o metano é gerado em processos como decomposição do lixo orgânico, digestão de animais e metabolismo de alguns tipos de bactérias.
Embora as concentrações de gás metano na atmosfera sejam bem menores do que as de gás carbônico, cientistas estimam o potencial de aquecimento do metano como sendo 28 vezes maior.
Grande parte das emissões naturais de metano no planeta vem de áreas úmidas, diz Ayan Fleischmann, coordenador do projeto e pesquisador titular no Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, que é vinculado ao MCTI (Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação). Quando a área está alagada, a água, o solo e até o tronco encharcado das árvores emitem o gás.
“Essa emissão é um processo natural de um sistema que está em equilíbrio. Assim como a floresta emite metano, ela também absorve carbono. Tirar a floresta não é uma opção para parar de emitir metano, mas esse ambiente tem particularidades que precisamos conhecer para entender o clima global”, explica Fleischmann.
Segundo o pesquisador, 20 torres do tipo estão em funcionamento na amazônia, mas a estrutura da reserva Mamirauá é a primeira instalada em uma floresta de várzea do bioma.
A estrutura foi construída com financiamento da Fundação Gordon and Betty Moore. O projeto é conduzido por uma parceria entre Instituto Mamirauá, UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) e Universidade Stanford (EUA).
O novo equipamento faz parte da chamada Rede FLUXNET-CH4, que conta com mais de 80 torres de fluxo instaladas em diferentes ecossistemas pelo mundo.
Torres desse tipo quantificam a entrada e a saída dessas moléculas no ecossistema. “A diferença entre essas entradas e saídas corresponde ao fluxo líquido de um determinado gás, o balanço. O processo físico responsável por esses fluxos entre o ecossistema e a atmosfera é a turbulência, caracterizada pelo movimento das partículas do ar causado por flutuações rápidas na velocidade e na direção do vento”, explica Débora Regina Roberti, professora do departamento de física na UFSM, onde coordena o Laboratório de Gases do Efeito Estufa.
Especialista em analisar informações provenientes de torres de fluxo em áreas de produção agrícola, a cientista será a responsável pelo processamento dos dados coletados na torre de Mamirauá.
Segundo a cientista, a estrutura é capaz de fazer pelo menos dez medições por segundo das concentrações de metano e gás carbônico na atmosfera. Esses dados, somados a outras variáveis coletadas pela torre, vão compor o balanço anual dos gases do efeito estufa na floresta. A área coberta pela torre varia de 500 metros a 1 quilômetro.
O clima cada vez mais imprevisível chegou a atrapalhar a construção da estrutura. Fleischmann conta que a ideia inicial era que a torre fosse construída ainda em janeiro de 2024. “Mas a cheia, que deveria acontecer em fevereiro, veio antes e o nível do rio subiu muito rápido”, diz.
Adiada para agosto de 2024, a obra sofreu novo revés. Para chegar com os materiais e equipamentos até o local da torre, são necessárias dez horas de navegação com balsas a partir da cidade de Tefé (AM). “Quando começamos a levar [os materiais] o nível do rio começou a baixar e veio a pior seca da história, o que dificultou a navegação”, conta o pesquisador.
“O equipamento foi construído justamente para podermos entender melhor a rapidez das mudanças climáticas, e foram fenômenos agravados por elas que dificultaram a construção da torre“, conclui Fleischmann.