Estudo revela aumento do câncer de intestino em jovens
Descubra como hábitos diários e estilo de vida podem aumentar o risco entre jovens
- Data: 22/01/2025 12:01
- Alterado: 22/01/2025 12:01
- Autor: Redação
- Fonte: G1
Saúde
Crédito:Marcello Casal Jr - Agência Brasil
A professora Sarah Allinson, do Departamento de Biomédica e Ciências da Vida da Lancaster University, explora como os hábitos cotidianos impactam a crescente incidência de câncer de intestino, também conhecido como câncer colorretal.
O câncer de intestino é caracterizado por sintomas como dor abdominal, presença de sangue nas fezes, alterações nos hábitos intestinais e perda de peso inexplicada. Segundo dados recentes, quase 2 milhões de novos casos são diagnosticados anualmente, posicionando-o como o terceiro tipo mais comum de câncer globalmente.
Embora a maioria dos diagnósticos ocorra em indivíduos com mais de 50 anos, estudos recentes indicam um aumento preocupante na taxa de casos entre jovens. Um levantamento realizado em 2019 apontou que em sete países desenvolvidos onde historicamente as taxas de câncer de intestino eram elevadas, os índices entre aqueles acima dos 50 anos começaram a se estabilizar ou até mesmo a cair, resultado do sucesso dos programas de triagem que identificam lesões precoces.
No entanto, esse mesmo estudo revelou que a doença se tornava mais prevalente em pessoas com menos de 50 anos. Um exemplo significativo é encontrado na Noruega, onde o risco de desenvolver câncer retal para indivíduos nascidos em 1990 era cinco vezes maior em comparação com aqueles nascidos em 1920.
Um estudo mais abrangente, que examinou dados de 50 países, corroborou essa tendência alarmante. O aumento nos diagnósticos foi identificado não apenas na Europa, mas também na América Latina, no Caribe e na Ásia, com uma maior incidência em indivíduos abaixo dos 50 anos.
Os especialistas ainda investigam as causas desse crescimento entre os jovens. Contudo, suspeita-se que estilos de vida menos saudáveis estejam contribuindo para essa realidade.
Causas Evitáveis
A relação entre estilo de vida e o desenvolvimento do câncer de intestino é bem documentada. Um estudo seminal realizado em 1968 demonstrou que cidadãos americanos descendentes de japoneses apresentavam taxas significativamente mais altas da doença em comparação à população japonesa nativa, sugerindo que a adoção de um estilo de vida ocidentalizado favorece o surgimento do câncer.
Desde então, diversos fatores têm sido identificados como influentes nesse cenário. A inatividade física, dietas ricas em gorduras e carnes processadas, obesidade, consumo excessivo de álcool e tabagismo estão todos associados a um risco elevado do câncer intestinal. Estima-se que mais da metade dos casos no Reino Unido sejam atribuídos a causas evitáveis relacionadas ao estilo de vida.
A transição do Japão para uma dieta ocidentalizada nos últimos anos resultou em um aumento notável nas taxas da doença no país, que agora figura entre os locais com maior incidência global.
O aumento da obesidade mundial também se destaca como um fator crítico. Atualmente, estima-se que 2,2 bilhões de pessoas estejam acima do peso e cerca de 890 milhões sejam obesas. A incidência tem crescido desproporcionalmente entre crianças e adolescentes, com umaumento dez vezes maior na faixa etária entre cinco e 14 anos desde a década de 1970.
Essa condição é preocupante devido à associação conhecida entre obesidade e alterações metabólicas que podem impulsionar o desenvolvimento do câncer. O diabetes tipo 2, frequentemente relacionado à obesidade, também tem se tornado comum entre jovens e está ligado a um aumento do risco para o câncer intestinal.
A alimentação moderna impacta não apenas a saúde individual mas também o microbioma intestinal — um ecossistema complexo composto por trilhões de micróbios benéficos e nocivos. Estudos indicam que uma dieta ocidental pode provocar disbiose intestinal, favorecendo micróbios prejudiciais enquanto prejudica os benéficos. A pesquisa sugere que essa disbiose pode afetar ainda mais pacientes mais jovens do que os mais velhos.
Infelizmente, o diagnóstico precoce do câncer intestinal em indivíduos abaixo dos 50 anos tende a ocorrer em estágios avançados. Isso se deve à priorização das triagens para pessoas com mais idade e à falta de conscientização sobre os sinais da doença entre jovens e médicos.
Reconhecer os sintomas é crucial para melhorar as chances de tratamento bem-sucedido. Sintomas como dor abdominal persistente, fezes sanguinolentas ou mudanças nos hábitos intestinais devem ser investigados rapidamente para descartar a presença do câncer.
A mensagem é clara: para minimizar o risco do câncer intestinal em qualquer idade, recomenda-se adotar uma alimentação saudável, evitar alimentos ultraprocessados e álcool em excesso, não fumar e manter uma rotina regular de exercícios físicos.
Sarah Allinson é professora do Departamento de Biomédica e Ciências da Vida na Lancaster University.
Este artigo foi originalmente publicado no site da The Conversation Brasil.