Dólar fecha em R$ 6,04 após leilões do BC e discurso cauteloso de Trump
O mercado financeiro reflete as incertezas sobre as tarifas comerciais e a postura do novo presidente dos Estados Unidos.
- Data: 20/01/2025 20:01
- Alterado: 20/01/2025 20:01
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: FOLHAPRESS
Crédito:Valter Campanato/Agência Brasil
No encerramento da sessão desta segunda-feira, 20 de fevereiro, o dólar registrou uma desvalorização de 0,36%, cotado a R$ 6,042. Essa movimentação ocorreu em meio à realização de leilões de moeda norte-americana pelo Banco Central (BC) e ao discurso de posse mais cauteloso de Donald Trump em relação a tarifas comerciais.
Por outro lado, o mercado acionário apresentou uma leve alta de 0,41%, fechando aos 122.855 pontos.
O início do pregão foi marcado por certa estabilidade no valor da moeda americana, que chegou a operar com leve valorização enquanto investidores aguardavam a posse de Trump como presidente dos Estados Unidos. No entanto, a situação se inverteu após o BC anunciar a venda de US$ 2 bilhões em dois leilões de linha, resultando na queda do dólar.
A tendência de baixa se consolidou após o novo presidente não estabelecer prazos para a imposição de tarifas durante seu discurso inaugural. Em vez disso, Trump se comprometeu genericamente a revisar o sistema comercial existente, evitando compromissos imediatos.
Essa movimentação também refletiu o sentimento dos mercados globais, que reagiram positivamente à informação sobre uma abordagem mais analítica em relação às relações comerciais com México, Canadá e China, sem a intenção imediata de implementar novas tarifas.
À tarde, o dólar apresentou uma desvalorização de 0,9% em relação a uma cesta de seis moedas internacionais em Londres, indicando que poderia estar caminhando para sua maior queda diária em mais de cinco meses.
Uma reportagem do The Wall Street Journal mencionou que Trump planejava divulgar um memorando instruindo agências a investigar déficits comerciais e práticas injustas, mas sem a implementação de novas tarifas logo em seu primeiro dia no cargo.
Os investidores inicialmente esperavam ações rápidas e enérgicas da nova administração, especialmente no que tange às tarifas. Contudo, a sinalização de um período de avaliação prévio gerou frustração e contribuiu para a desvalorização da moeda americana.
A incerteza quanto à postura tarifária do presidente trouxe volatilidade ao mercado financeiro, afetando negativamente o dólar e influenciando outras moedas ao redor do mundo. O euro e a libra esterlina valorizaram-se em 1,1%, marcando seus melhores desempenhos desde o final do ano passado. O peso mexicano e o dólar canadense também subiram 1%, alcançando suas maiores altas em meses.
Ainda que Trump tenha adotado uma postura cautelosa inicialmente, há possibilidade de ações mais contundentes no futuro dependendo das avaliações comerciais realizadas.
A repercussão completa dos anúncios feitos pelo novo presidente deverá ser sentida apenas na terça-feira, 21 de fevereiro, já que os mercados americanos permaneceram fechados nesta segunda-feira devido ao feriado em homenagem ao Dia de Martin Luther King Jr.
Segundo Tiago Feitosa, fundador da T2 Educação, “A agenda foi relativamente tranquila; não houve outros fatores relevantes além da posse do Trump e dos leilões do Banco Central. Embora os decretos possam impactar o dólar, muitos fatores já estão precificados devido à quantidade de declarações feitas por ele.“
Trump tomou posse nesta segunda-feira ao lado do vice-presidente J.D. Vance. A cerimônia teve início com um culto na Igreja Episcopal de St. John, próxima à Casa Branca. Posteriormente, Trump participou do tradicional chá com o ex-presidente Joe Biden. Devido ao clima severo em Washington, com previsão de neve e frio intenso, o juramento ocorreu dentro do Capitólio.
Após isso, Trump se reuniu com apoiadores em um centro de eventos na capital antes de proferir seu primeiro discurso oficial. Na sequência, já na Casa Branca, ele assinou os primeiros atos oficiais da sua nova administração.
No cenário nacional, o BC executou dois leilões com um total vendido de US$ 2 bilhões como parte da primeira intervenção cambial sob a gestão do novo presidente da instituição, Gabriel Galípolo. Nesta modalidade conhecida como “linha”, as reservas internacionais são vendidas no mercado à vista com um compromisso de recompra posterior.
No primeiro leilão realizado entre 10h20 e 10h25 foram aceitas três propostas totalizando US$ 1 bilhão com taxa de corte fixada em 5,851% e data para recompra agendada para 4 de novembro de 2025. O segundo leilão ocorreu das 10h40 às 10h45 e também aceitou propostas somando US$ 1 bilhão com taxa de corte em 5,879%, com recompra programada para 2 de dezembro de 2025.
Ambas as operações ocorreram com base na taxa Ptax das 10h que era registrada em R$ 6,078. O Banco Central não especificou os motivos dessas intervenções no mercado cambial.
André Valério, economista sênior do Inter destacou que “o leilão foi uma surpresa; ninguém esperava essa ação agora. Além disso, não apenas Galípolo é novo presidente como também houve mudança na diretoria do BC.“
No mês anterior, sob a liderança anterior do BC com Roberto Campos Neto, foram vendidos cerca de US$ 32,6 bilhões através de diversos leilões cambiais. Essas operações visaram atender à demanda habitual por moeda estrangeira ao final do ano quando muitos fundos e empresas transferem recursos para fora do país.
Valério acrescentou ainda que “Dezembro foi um mês atípico onde o BC utilizou grande parte das reservas devido à alta demanda por dólares; janeiro geralmente é um mês favorável para entradas dessa moeda no Brasil.” Contudo, recentes dados sugerem que pode haver remanescentes da saída de divisas em janeiro; até o dia 10 deste mês houve um fluxo cambial negativo registrado em US$ 4,610 bilhões.
No mercado interbancário brasileiro as taxas dos Depósitos Interfinanceiros (DIs) também refletiram essa baixa nas taxas cambiais. Ao final da tarde desta segunda-feira as taxas apresentaram queda: para julho de 2025 registrou-se uma taxa em 14,04% ante ajuste anterior que era 14,031%. A taxa para janeiro de 2026 marcava 14,935%, com recuo ante os anteriores 14,963%.
Nos contratos mais longos também houve diminuição nas taxas: janeiro de 2031 estava em 15,02%, reduzindo-se em 13 pontos-base em relação aos anteriores; enquanto janeiro de 2033 apresentava taxa inferior ao ajuste anterior: registrando agora taxa em torno de 14,96% contra os anteriores 15,07%.