Eduardo Cunha revela tentativa de compra de votos para eleição de Hugo Motta
Delação não aceita e acusações de corrupção envolvem a eleição interna do PMDB em 2016.
- Data: 19/01/2025 09:01
- Alterado: 19/01/2025 09:01
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: FOLHAPRESS
Crédito:Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
No contexto da Operação Lava Jato, o ex-deputado Eduardo Cunha revelou, em sua proposta de delação não aceita, que tentou comprar votos para a eleição de Hugo Motta à liderança do PMDB (atualmente MDB) na Câmara dos Deputados em 2016. Esta afirmação surge em meio a uma série de declarações feitas por Cunha durante suas tentativas de acordo com os procuradores.
Hugo Motta, atualmente filiado ao Republicanos da Paraíba, é considerado um dos principais candidatos para presidir a Câmara a partir de fevereiro. Na época das alegações de Cunha, ele e Motta eram membros do PMDB, sendo que Cunha ocupava a presidência da Casa.
Em 2016, a disputa pela liderança foi vencida por Leonardo Picciani, do Rio de Janeiro, que superou Hugo Motta na votação. A proposta de delação apresentada por Cunha em 2017 incluía acusações contra aproximadamente 120 políticos e alegava que cerca de R$ 270 milhões foram arrecadados em um período de cinco anos, dos quais 70% teriam sido obtidos via caixa dois.
Os investigadores consideraram as alegações de Cunha insuficientes e superficiais, resultando na rejeição do acordo. Em julho de 2017, documentos referentes à proposta foram compartilhados entre procuradores em um chat no aplicativo Telegram, conforme reportado pelo site The Intercept Brasil e analisado pela Folha.
Na proposta, Cunha afirmava ter utilizado R$ 3 milhões solicitados ao empresário Joesley Batista para garantir a vitória de Hugo Motta nas eleições internas do PMDB entre 2013 e 2016. Segundo ele, o dinheiro foi dividido entre seis deputados. Entre os nomes mencionados estavam os ex-parlamentares Anibal Gomes, Hermes Parcianello e Vitor Valim, além do deputado Alceu Moreira.
As assessorias de Hugo Motta e Joesley Batista não forneceram comentários sobre as acusações. Já os deputados mencionados negaram qualquer envolvimento nas alegações feitas por Cunha. Parcianello afirmou que apoiou Picciani e que nunca teve conversas sobre compra de votos. Valim qualificou as declarações como “uma grande mentira,” enquanto Moreira reiterou que não compactuou com atos ilícitos.
Cunha detalhou ainda que Joesley tinha ciência do destino dos recursos e que o pagamento teria ocorrido cerca de duas semanas antes da eleição, utilizando um intermediário para a entrega em um supermercado no Rio de Janeiro.
Em resposta aos questionamentos da Folha, Eduardo Cunha negou ter qualquer anexo relacionado à sua delação ou reuniões sobre o tema, afirmando que as informações apresentadas não correspondiam à realidade. Contudo, ele havia discutido anteriormente sobre suas intenções de colaborar com investigações relacionadas à JBS e Odebrecht durante entrevistas enquanto estava preso.
A defesa de Cunha argumentou que sua proposta continha informações relevantes para diversas investigações do Ministério Público. Ele ficou encarcerado sob regime fechado entre outubro de 2016 e março de 2020; posteriormente, suas condenações na Lava Jato foram anuladas.
A força-tarefa da Lava Jato declarou em 2019 que havia consenso entre mais de 20 procuradores sobre a rejeição das alegações de Cunha devido à falta de consistência e evidências nas informações fornecidas. De acordo com o grupo, relatos considerados inconsistentes podem ser reavaliados apenas se novos elementos forem apresentados pelo colaborador.
A eleição interna do PMDB em 2016 era vista como crucial para as articulações políticas relacionadas ao impeachment da então presidente Dilma Rousseff. A disputa foi marcada pela divisão entre Picciani, apoiado pelo governo federal, e Motta, respaldado por Cunha. Picciani conquistou 37 votos contra 30 de Motta.
O ex-deputado Eduardo Cunha também faz menção a Hugo Motta em seu livro “Tchau, Querida“, onde narra episódios relacionados ao impeachment e destaca a importância daquela disputa interna no contexto político da época.
Atualmente em seu quarto mandato, Hugo Motta tem uma trajetória política marcada por sua ascensão após o apoio recebido durante o governo Cunha à frente do PMDB. Em meio ao cenário conturbado da política brasileira nos últimos anos, as implicações dessas revelações continuam a gerar discussões sobre corrupção e ética na política nacional.