E-book reúne soluções para a resiliência climática em regiões costeiras
Por meio de exemplos práticos e projetos de referência já implantados no Brasil e no mundo, o estudo elaborado pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica pretende inspirar tomadores de decisão dos setores público e privado
- Data: 14/11/2024 11:11
- Alterado: 14/11/2024 11:11
- Autor: Redação
- Fonte: Assessoria
“Cidades Azuis: Soluções Baseadas na Natureza para a Resiliência Climática Costeira”
Crédito:Divulgação
O ano de 2024 caminha para ser o mais quente da história e, possivelmente, com 1,5 grau Celsius acima da média – exemplos de catástrofes provocadas por enchentes, secas, queimadas e furacões cada vez mais frequentes indicam o que está por vir nas próximas décadas. As cidades brasileiras localizadas em zonas costeiras estão mais vulneráveis às mudanças climáticas e precisam se tornar mais resilientes a eventos extremos, que devem ser mais intensos e frequentes, conforme estudos divulgados pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. Para enfrentar esse desafio, a Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica apresenta o estudo “Cidades Azuis: Soluções Baseadas na Natureza para a Resiliência Climática Costeira” (https://maredeciencia.eco.br/materiais/cidades-azuis-solucoes-baseadas-na-natureza-para-a-resiliencia-climatica-costeira/).
O material tem como objetivo apoiar gestores públicos e privados para que desenvolvam ações inovadoras cientificamente embasadas nos municípios, estados e nível nacional. O documento foi lançado nesta segunda-feira, 11, durante a programação da COP29, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, que acontece em Baku, no Azerbaijão.
De forma didática e propositiva, a publicação faz um mapeamento dos principais riscos enfrentados pelas zonas costeiras brasileiras e apresenta exemplos de Soluções Baseadas na Natureza (SbN) para adaptação das cidades ao novo cenário. O objetivo é apoiar tomadores de decisão, gestores públicos, legisladores, investidores e todo o público interessado com informações baseadas na ciência e em experiências bem-sucedidas para enfrentar a elevação do nível do mar, ventos fortes, ressacas e tempestades, alagamentos, erosão, deslizamentos de encostas, ilhas de calor e perda da biodiversidade, entre outros desafios.
A publicação lançada pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, organização coordenada pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a UNESCO, contou com a cooperação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
“Precisamos desenvolver soluções inovadoras e cientificamente fundamentadas para responder aos desafios das cidades costeiras de forma integrada e eficaz, beneficiando tanto a sociedade quanto o meio ambiente”, afirma Ronaldo Christofoletti, professor da UNIFESP e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN). “Para superar a rigidez da infraestrutura cinza, as soluções verdes e azuis – como a recuperação de manguezais e dunas, criação de parques lineares e telhados verdes – promovem a resiliência das cidades e criam lugares mais saudáveis e sustentáveis para a população”, completa.
De acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais da metade da população brasileira (111 milhões) vive a até 150 quilômetros da costa. Se considerarmos apenas os moradores que vivem no litoral, o número é superior a 50 milhões, ou seja, um a cada quatro brasileiros.
Soluções em diversas escalas
Os projetos de SbN catalogados na publicação lançada na COP29 mostram desde soluções que podem ser aplicadas por empresas e cidadãos, como telhados e tetos verdes, jardins de chuva e parques de bolso, que contribuem para absorção de água da chuva e conforto climático, até projetos mais complexos como soluções de eco engenharia para conter a força das ondas do mar, redesenho de linhas costeiras, parques alagáveis, parques lineares, jardins filtrantes, corredores ecológicos e biovaletas. Também podem ser consideradas SbN a conservação e recuperação de ecossistemas naturais costeiros como florestas, manguezais, marismas, restingas e recifes de corais.
“Mais do que sensibilizar a sociedade para os riscos das mudanças climáticas, que são cada vez mais conhecidos, precisamos inspirar os tomadores de decisão a adotarem as melhores soluções existentes. É fundamental conhecer mais e melhor os benefícios que a natureza oferece para as cidades, muitas vezes de forma mais econômica que as intervenções convencionais, que claramente são insuficientes para os novos tempos. Além disso, vale considerar que as Soluções Baseadas na Natureza também podem trazer benefícios para a saúde e o bem-estar da população”, afirma Juliana Baladelli Ribeiro, gerente de projetos da Fundação Grupo Boticário.
Proteção, recuperação e criação de soluções inovadoras
O estudo ressalta que a proteção de ecossistemas e ambientes marinhos naturais como dunas, restingas, planícies de inundação, florestas urbanas e manguezais deve ser priorizada. Onde esses ambientes estiverem degradados, devem ser promovidas ações de recuperação e restauração, como reflorestamento de zonas úmidas e margens de rios e reabilitação de ecossistemas costeiros. “Combinadas a essas iniciativas de proteção e restauração, também podem ser implementadas soluções inovadoras de eco engenharia, como intervenções projetadas para estabilizar encostas, controlar a erosão e melhorar a infiltração de água em áreas com declives, tudo isso considerando a própria natureza como solução”, realça Christofoletti.
Os especialistas ressaltam ainda que, além de contribuírem para a adaptação das cidades, as SbN podem mitigar a emissão de gases de efeito estufa, os principais responsáveis pelo aquecimento global. Um estudo recente publicado na plataforma científica Global Change Biology mostra que as SbN — especialmente a proteção de ecossistemas naturais e a restauração florestal — têm o potencial de mitigar até 78% das emissões de carbono necessárias para que o Brasil atinja suas metas de emissões líquidas zero, contribuindo de forma significativa para os compromissos climáticos do país.
Além de promoverem a captura de carbono, como no exemplo demonstrado no estudo Oceano Sem Mistérios – Carbono Azul dos Manguezais – os ecossistemas naturais fortalecem a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos, beneficiando as comunidades locais. Em diversos fóruns internacionais, as Soluções Baseadas na Natureza vêm sendo consideradas fundamentais para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa e adaptação dos territórios às mudanças do clima. Elas ganham cada vez mais espaço nas Conferências de Mudanças do Clima e da Biodiversidade da ONU, as COPs, e também estão presentes nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
SbN em destaque na COP29 O estudo “Cidades Azuis: Soluções Baseadas na Natureza para a Resiliência Climática Costeira” foi apresentado no painel “Cultura e educação oceânica como catalisadores para a transformação social na ação climática” , na manhã desta segunda-feira (horário de Brasília), dia 11. Além de marcar o lançamento da publicação, o evento destacou como a cultura oceânica para tomadores de decisões se alinha com o movimento de educação das Escolas Azuis. Coordenado por Christofoletti, o painel teve participação da Secretária de Programas e Políticas Estratégicas do MCTI, Andrea Brito Latgé; da Coordenadora de Cultura Oceânica da UNESCO, Francesca Santoro e da representante do Programa de Oceano do WRI, Micheline Khan.
Sobre a Aliança Pela Cultura Oceânica
A Aliança pela Cultura Oceânica é uma rede de Municípios, Estados, instituições privadas e sociedade civil organizada, engajada e mobilizada na implementação de ações locais alinhadas às metas nacionais e globais da Década do Oceano, com foco na promoção da Cultura Oceânica para o desenvolvimento sustentável, em um processo crescente para a construção de Cidades Azuis. A Aliança é coordenada pelo programa Maré de Ciência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e Unesco Brasil.
Sobre a Fundação Grupo Boticário
Com mais de 30 anos de história, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma das principais fundações empresariais do Brasil que atuam para conservar o patrimônio natural brasileiro. Com foco na adaptação da sociedade às mudanças climáticas, especialmente em relação à segurança hídrica e à proteção costeira, a instituição atua para que a conservação da biodiversidade seja priorizada em todos os setores. Alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, considera que a natureza é a base para o desenvolvimento social e econômico do país. Sem fins lucrativos e mantida pelo Grupo Boticário, a Fundação Grupo Boticário contribui para que diferentes atores estejam mobilizados em busca de soluções para os principais desafios ambientais, sociais e econômicos. Já apoiou mais de 1.700 iniciativas em todos os biomas no país. Protege duas reservas naturais de Mata Atlântica e Cerrado – os biomas mais ameaçados do Brasil pelo desmatamento –, somando 11 mil hectares, o equivalente a 70 Parques do Ibirapuera. Com 1,4 milhão de seguidores nas redes sociais, busca também aproximar a natureza do cotidiano das pessoas. A instituição é fruto da inspiração de Miguel Krigsner, fundador e presidente do Conselho do Grupo Boticário, criada em 1990, dois anos antes da Rio-92 ou Cúpula da Terra, evento que foi um marco para a conservação ambiental mundial. | www.fundacaogrupoboticario.org.br | @fundacaogrupoboticario (Instagram, Facebook, LinkedIn, Youtube, TikTok).