‘A Última Ceia’, do Grupo Mexa, discute finitude e sobrevivência na arte

"A Última Ceia" é ou não o último espetáculo do Grupo Mexa, coletivo formado em 2015, dentro de uma casa de acolhida no Bom Retiro.

  • Data: 19/10/2024 13:10
  • Alterado: 19/10/2024 13:10
  • Autor: redação
  • Fonte: Folhapress
‘A Última Ceia’, do Grupo Mexa, discute finitude e sobrevivência na arte

Crédito:Reprodução

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A possibilidade da finitude sempre esteve em jogo nos nove anos de trajetória do grupo e é essa questão que agora está no centro do debate proposto na montagem, em cartaz na Casa do Povo, com elenco formado majoritariamente por mulheres trans. 

A peça-jantar usa a imagem do quadro de Leonardo Da Vinci e suas inúmeras reproduções para refletir sobre o que será perpetuado e o que será esquecido na história de pessoas reunidas para tentar sobreviver enquanto produzem arte. 

Uma das reproduções da pintura aparece em vídeo que mostra uma das atrizes lembrando a sua primeira refeição em São Paulo, após três dias de viagem a partir do Maranhão comendo apenas maçãs. O jantar que a resgatou da fome foi servido no refeitório da casa de acolhida, decorado com uma imagem de “A Última Ceia”. 

O espetáculo é dividido em duas partes: na primeira, o elenco explora a relação com o quadro de Da Vinci e, em uma brincadeira entre realidade e ficção, aborda os conflitos entre os artistas durante o processo de criação da peça. 

Como na última refeição que Jesus dividiu com seus apóstolos, em Jerusalém, antes da crucificação, as possibilidades de traição, abandono e morte estão no ar e podem vir à tona a qualquer momento. 

Na segunda parte, 30 pessoas do público são convidadas a compartilhar uma ceia, com cardápio que inclui frango, cuscuz, uvas e vinho. Nessa etapa, os convidados do jantar viram protagonistas e são filmados ao vivo enquanto comem e confraternizam com os artistas. 

Como ocorre em muitas peças que adotam uma linguagem contemporânea, a encenação no palco é acompanhada de imagens exibidas em um telão ou captadas ao vivo por uma videomaker que faz parte do elenco. Sonoplasta e iluminadora não ficam nos bastidores e também entram em cena. 

João Turchi, escritor e diretor da peça, lembra que o Mexa costuma incorporar situações ocorridas nos ensaios em suas montagens. 

No caso de “A Última Ceia”, após uma leitura coletiva da Bíblia, as artistas escreveram em um papel qual personagem gostariam de interpretar. Todas escolheram Judas, o que levou a montagem a propor uma votação da plateia. Vence quem conquistar mais aplausos. 

“O quadro do Leonardo da Vinci se tornou a imagem mais significativa da última ceia de Cristo. Ela venceu essa narrativa. Então, se essa for a nossa última peça, queremos controlar qual é a imagem que vamos deixar para o mundo”, afirma o diretor. 

Canções de Mariah Carey, Elba Ramalho e Edwin Hawkins são interpretadas pelo elenco, em números que remetem às apresentações de divas em casas noturnas e cabarés. 

Antes da temporada em São Paulo, “A Última Ceia” foi apresentada em palcos na Bélgica e na Alemanha. 

As pesquisas do Mexa exploram as fronteiras entre realidade e ficção, autobiografia e teatro documentário. Entre os principais trabalhos do coletivo estão “69 Salas H&V” (2016) e “Terminal 10mg” (2017), este uma performance de dez horas de duração em um ônibus. 

Em 2023 o grupo estreou o espetáculo “Poperópera Transatlântica” em Bruxelas. O trabalho também foi apresentado em Berlim, Lisboa, Hamburgo e São Paulo. 

Os integrantes do Mexa atuam como artistas residentes na Casa do Povo desde 2016. 

A Última Ceia 

Quando: Quinta a sábado, às 20h e domingos, às 19h. Até 3 de novembro 

Onde: Casa do Povo – Rua Três Rios, 252, Bom Retiro, em São Paulo 

Preço: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada) 

Autoria: João Turchi 

Elenco? Aivan, Alê 

Tradução: Dourado, Patrícia Borges, Suzy Muniz e Tatiane Arcanjo 

Direção: João Turchi 

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  • Data: 19/10/2024 01:10
  • Alterado:19/10/2024 13:10
  • Autor: redação
  • Fonte: Folhapress









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