Mulheres e homens têm impactos diferentes no trabalho após se tornarem pais

Leis, salários e estruturas sociais ainda não estão preparados o suficiente para dar o suporte que as famílias precisam

  • Data: 25/09/2024 12:09
  • Alterado: 25/09/2024 12:09
  • Autor: Redação
  • Fonte: Bia Nóbrega
Mulheres e homens têm impactos diferentes no trabalho após se tornarem pais

Teletrabalho

Crédito:Marcelo Camargo - Agência Brasil

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O nascimento de um filho representa um divisor de águas na vida pessoal e profissional dos pais, mas homens e mulheres experimentam essa transição de forma desigual no ambiente de trabalho. As legislações de licença-maternidade e paternidade, apesar de terem evoluído ao longo dos anos, ainda reforçam disparidades que impactam diretamente a carreira das mulheres. 

Enquanto a licença-maternidade no Brasil pode durar até seis meses, a licença-paternidade é bem menor, com apenas cinco dias úteis garantidos por lei, o que amplia o desafio da equidade de gênero no retorno ao trabalho. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ainda mostram que, em 2021, a taxa de participação feminina na força de trabalho foi de 51,6%, bem abaixo dos 71,6% dos homens. Essa diferença se agrava após a maternidade, com um aumento de até 50% no gap de participação entre mulheres e homens que têm filhos em comparação àqueles sem filhos. 

De acordo com Bia Nóbrega, especialista em Desenvolvimento Humano e Organizacional, ao longo dos últimos 30 anos, o mercado de trabalho passou por avanços importantes, mas as mulheres ainda enfrentam barreiras de todo o tipo após o nascimento dos filhos. “A maternidade continua a ser um dos maiores desafios na trajetória profissional feminina. As consequências são especialmente evidentes durante os primeiros cinco anos de vida da criança, período em que a dedicação ao cuidado infantil é mais intensiva”, conta.

Redução de jornada, horários flexíveis, ampliação de licenças, horário livre e pago para lidar com questões como consultas médicas e adaptação escolar, entre outros tópicos, ainda são temas com discussões bastante embrionárias no país. “Além disso, quando esses assuntos são conversados, foca-se em torná-los direitos femininos, quando deveriam ser estendidos a qualquer cuidador, justamente para sobrecarregar menos as mulheres quando o tema é cuidar da carreira e dos filhos”, explica. 

Nesse contexto, essas profissionais ainda enfrentam a difícil tarefa de equilibrar a vida profissional com responsabilidades domésticas em geral – vistas como responsabilidades femininas, e os efeitos desse desequilíbrio são amplificados pela falta de políticas de apoio adequadas, como a oferta de creches e escolas de tempo integral. É importante também ressaltar que mães solo são a segunda maior formação familiar no Brasil, o que leva para a mão delas ainda mais responsabilidades e desafios. 

Um mercado de trabalho nada equitativo

Além das questões de participação no mercado de trabalho, também existe uma disparidade considerável em termos salariais. Estudos mostram que, em 2021, as mães ganhavam cerca de 22,8% menos que os pais em funções similares. Isso reflete tanto uma desvalorização do trabalho feminino quanto a pressão cultural que coloca as mulheres como principais cuidadoras.

Para promover um ambiente corporativo mais inclusivo e equitativo, especialistas sugerem que as empresas adotem medidas como a flexibilização das jornadas de trabalho, ampliação da licença-paternidade e implementação de políticas de licença parental compartilhada. “É necessário criar uma cultura organizacional que apoie tanto homens quanto mulheres no equilíbrio entre vida profissional e familiar, para que a equidade vá além das vagas de escritório oferecidas em pé de igualdade a todos os gêneros”, defende a especialista. 

Os desafios enfrentados pelas mulheres após o nascimento de um filho são, em grande parte, reflexo de normas sociais enraizadas. No entanto, com a implementação de políticas públicas e empresariais focadas nesse assunto, o impacto dessas desigualdades pode ser reduzido. Iniciativas como creches acessíveis e a conscientização de que investir no apoio à primeira infância é também cuidar de uma comunidade futura mais saudável, com acesso a melhores condições de educação e trabalho, são passos fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade que valorize e apoie a diversidade.

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  • Data: 25/09/2024 12:09
  • Alterado:25/09/2024 12:09
  • Autor: Redação
  • Fonte: Bia Nóbrega









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