Nunes dedica metade do plano de governo ao que já fez e não detalha promessas
Ex-governador Rodrigo Garcia, coordenador do programa, diz que metas específicas serão traçadas se prefeito for reeleito
- Data: 15/08/2024 13:08
- Alterado: 15/08/2024 13:08
- Autor: Redação
- Fonte: Carolina Linhares/Folhapress
Prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB)
Crédito:Wilson Dias/Agência Brasil
O plano de governo apresentado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) à Justiça Eleitoral se ocupa, em cerca de metade do seu conteúdo, da prestação de contas da gestão Covas-Nunes (2021-2024), enquanto traz propostas genéricas, sem detalhamento de quantidades, prazos ou custos.
O documento, de 67 páginas, elenca poucas iniciativas ou programas inéditos, que consigam ir além de expandir o que já existe. Não há menção sobre eventual ampliação da tarifa zero aos domingos, uma das principais bandeiras do prefeito. E tampouco são descritos planos específicos para a cracolândia, que é citada apenas na seção de medidas já realizadas.
Segundo o ex-governador Rodrigo Garcia, que é o coordenador do plano de governo de Nunes, há propostas que se destacam, como o compromisso de implementar ensino integral em toda a pré-escola e de instalar polos de ensino de empreendedorismo e trabalho nos 58 CEUs (centros educacionais unificados).
A segunda medida está expressa no plano protocolado, mas a primeira aparece apenas de forma vaga: “ampliaremos o ensino em tempo integral nas escolas municipais, desde a educação infantil até o ensino fundamental, priorizando os distritos mais vulneráveis”.
“Nessa largada, as diretrizes são grandes objetivos, mostrando o que já foi feito e que o caminho está dado. É algo geral, para que a gente consiga detalhar no plano de metas, ao vencer a eleição. Não existe uma ideia que já não tenha sido implementada pela prefeitura”, diz Rodrigo Garcia, complementando que foi uma escolha deixar as minúcias para a próxima etapa.
O atual plano de metas de Nunes, porém, foi revisado pela prefeitura, que desistiu de promessas e modificou ao menos 27 propostas. Até abril, menos da metade dos objetivos havia sido concluída, segundo contagem da reportagem.
Nunes não entregou, por exemplo, nenhum novo CEU, bandeira de Marta Suplicy (PT), que é vice de Guilherme Boulos (PSOL). O emedebista se compromete a terminar, nos próximos quatro anos, a construção de 5 CEUs já contratados.
Em uma carta que introduz o plano, Nunes afirma ser possível que o documento seja atualizado ao longo da campanha. Os postulantes são obrigados a oficializar o plano de governo quando registram suas candidaturas, mas a Justiça Eleitoral não impõe regras para formato ou conteúdo.
“É o ponto de partida de um processo dinâmico, democrático e aberto, que sofrerá os devidos ajustes, quando necessários, e os acréscimos que se fizerem devidos, durante a campanha eleitoral, mediante acordos e compromissos que vamos firmando com as entidades representativas da sociedade e com o cidadão”, escreve o prefeito.
Em relação aos adversários, Rodrigo Garcia diz que o diferencial de Nunes é “ter um cartão de visita”. “Você não vai achar uma proposta feita nos outros que já não seja realizada pela prefeitura com um nome diferente”, completou.
O documento apresentado por Nunes traz de volta um slogan da campanha de Garcia ao Governo de São Paulo em 2022, o “pra frente”, acrescido de “cuidando de gente”.
Há ao menos uma proposta, a de que a GCM (Guarda Civil Municipal) faça ronda nas escolas, que é igual à apresentada por Boulos. O deputado federal protocolou seu programa de governo na semana passada. Como mostrou a Folha de S.Paulo, o plano de Boulos não detalha prazos e custos, além de suavizar bandeiras da esquerda.
O texto da campanha do MDB tem ainda uma frase em destaque, que pode ser interpretada como crítica ao influenciador Pablo Marçal (PRTB): “mais importante do que entender de rede social é entender de ação social”.
Questionado pela reportagem, Garcia diz que o recado é “para todo mundo que acha que tem que usar mais rede social do que ação social para ganhar eleição”.
A campanha diz que o plano de governo de Nunes foi construído a partir de 40 mil colaborações pelo aplicativo Fala Aí SP, além de 32 reuniões regionais e 4 encontros gerais, com 12 mil pessoas no total.
Ao contrário do texto atual, o plano apresentado em 2020 por Bruno Covas (PSDB), de quem Nunes era vice-prefeito, quantificava uma série de promessas, como construção de 12 novos CEUs, aquisição de 12 mil equipamentos de vigilância em escolas, recuperação de 1,5 milhão de metros quadrados de calçadas, instalação de 20 mil novos pontos de iluminação, entre outros.
“Era outro momento”, diz Garcia. “A pandemia nos mostrou que a realidade pode alterar uma série de prioridades, como de fato ocorreu.”
O texto de Covas, por outro lado, também era permeado por generalidades e por trechos que descreviam entregas da gestão anterior.
No caso de Nunes, as promessas são gerais. O contraste fica evidente se a comparação é feita com a prestação de contas do emedebista, que aparece ao lado das propostas. No total, além de uma carta do prefeito, o documento dedica 21 páginas para narrar com precisão e números as entregas da prefeitura e 19 páginas para contar o que se pretende fazer nos próximos quatro anos.
Ao tratar de meio ambiente, as entregas listadas são: R$ 280 milhões para a criação de novos parques, aquisição de 235 hectares, requalificação de 32 parques, plantio de 191 mil novas árvores e entrega de 10 novos parques e 9 bosques. Já a promessa é ampla: “criaremos novos parques, revitalizaremos os existentes e expandiremos a arborização”.
Em relação às propostas com algum detalhamento, se destaca a área de transporte e mobilidade, com a previsão de 400 km de faixa azul, oito novos corredores de ônibus e BRTs, concessão de terminais do bloco leste, linha de VLT no centro e expansão do transporte aquático para as represas Billings e Guarapiranga.