Governador rival de Milei se reúne com Lula e fala em criar vínculo com Brasil
Kicillof é adversário do presidente argentino, Javier Milei, que já chamou Lula de corrupto.
- Data: 13/08/2024 16:08
- Alterado: 13/08/2024 16:08
- Autor: Redação
- Fonte: FolhaPress/Matheus Teixeira
Crédito:Ricardo Stuckert/PR
O governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, reuniu-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta terça-feira (13), em Brasília, e defendeu a criação de um vínculo direto entre o Brasil e a província administrada por ele.
Kicillof é adversário do presidente argentino, Javier Milei, que já chamou Lula de corrupto. A única vez que o governador esteve no Brasil em seu mandato foi para se encontrar com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O governador também foi na contramão de Milei ao defender a adesão de seu país ao Brics, pauta que é rejeitada pelo atual chefe do Executivo argentino. “A Argentina deveria fazer parte, não por uma questão ideológica ou de orientação, mas porque é conveniente para o país. É um bloco muito importante”, disse.
Ele afirmou que conversou sobre diversos temas no encontro, entre eles questões relacionadas à energia e ao petróleo. Também disse que terá reunião com outros representantes do governo federal.
“Teremos mais uma reunião no Itamaraty para podermos criar um vínculo direto entre as necessidades e quem é o responsável a nível provincial de Buenos Aires e quem é o responsável a nível nacional no Brasil, para poder gerar uma ligação permanente”, disse.
Kicillof disse que quase 40% da população do país está em Buenos Aires e que há diversas parcerias entre empresas brasileiras e argentinas que podem ser fortalecidas.
O governador evitou responder a questionamentos sobre as acusações contra o ex-presidente da Argentina Alberto Fernández, que esteve à frente do país de 2019 a 2023, de que teria agredido sua esposa, Fabíola Yañez. Segundo o jornal Clarín, algumas das agressões teriam ocorrido inclusive durante a gravidez de seu filho Francisco, em 2022.
Kicillof disse que já comentou o assunto e que não trataria do tema em entrevista à imprensa concedida após a reunião com Lula no Palácio do Planalto. Ele tratou como um “imperativo e uma necessidade” o estabelecimento de relações entre Buenos Aires e o Brasil.
“A Argentina deveria aprofundar até onde seja possível, na medida do seu alcance, o vínculo e a relação com o Brasil”, afirmou. Ele também fez elogios a Lula e disse que tem admiração pelo trabalho do petista.
Além disso, criticou cortes de repasses de Milei à sua província e disse que a medida não prejudica apenas seu governo, mas toda população.
A agenda do peronista Kicillof também prevê reunião com o chanceler Mauro Vieira, no Itamaraty e com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
Kicillof foi um dos únicos nomes do peronismo que se saiu forte das urnas na onda que levou Milei ao poder. Ele foi reeleito com ampla margem para governador da província de Buenos Aires, que é separada do governo autônomo da capital e concentra quase 40% da população do país.
Ele foi ministro da Economia do país durante o governo de Cristina Kirchner. Também foi deputado.
Embora liderem as maiores economias da América do Sul e os principais sócios do Mercosul, Lula e Milei são adversários e nunca tiveram uma reunião ou ligação telefônica. A animosidade remonta à campanha argentina. Milei chamou Lula de corrupto e disse que não se reuniria com o petista, chamando-o de comunista.
No cargo, as relações bilaterais têm sido conduzidas por Vieira e pela chanceler argentina, Diana Mondino.
A viagem de Milei a Santa Catarina em julho e o encontro com Bolsonaro foi visto como uma provocação pelo Itamaraty, uma vez que ele sinalizou priorizar sua relação com o ex-presidente, que é oponente político de Lula.
A situação, no entanto, não escalou porque Milei poupou Lula de críticas em seu discurso na conferência Cepac, que ocorreu em Balneário Camboriú (SC).
Em pronunciamento, lido a uma plateia lotada de ativistas de direita, e com Bolsonaro no palco, Milei discorreu sobre os males do socialismo e denunciou a oposição a suas reformas econômicas na Argentina.