Dia Mundial do Refugiado: Aldeias Infantis SOS se aproxima da marca de 5 mil migrantes acolhidos
Por meio do projeto Brasil Sem Fronteiras, lançado em 2018, Organização apoia famílias venezuelanas e afegãs que sobrevivem em meio a crises, conflitos e perseguições
- Data: 18/06/2024 11:06
- Alterado: 18/06/2024 11:06
- Autor: Redação
- Fonte: Aldeias Infantis SOS
Espaço de eventos da Aldeias Infantis SOS em Poá
Crédito:Divulgação
Além de enfatizar a resistência e a coragem de pessoas que foram forçadas a deixar seus países de origem, seja por motivo de conflitos armados, crise humanitária ou perseguição, o Dia Mundial do Refugiado, celebrado em 20 de junho, também é uma oportunidade para refletir as ações adotadas por governos e organizações ao redor do mundo para mitigar o sofrimento humano. A data foi estabelecida pelas Nações Unidas em 2001.
Este ano, a data remete a um registro importante. A Aldeias Infantis SOS, que desde 2018 realiza o projeto Brasil Sem Fronteiras, apoiando e acolhendo famílias venezuelanas e afegãs que sobrevivem em meio a crises, conflitos e perseguições, se aproxima da marca de cinco mil migrantes e refugiados atendidos. O projeto, realizado em parceria com a ACNUR, agência da ONU para Refugiados, atendeu só em 2024, 141 novos acolhidos, entre 0 e 69 anos, sendo 29 famílias sob os seus cuidados.
A maioria dos refugiados e migrantes é da Venezuela. São pessoas que, desde 2018, cruzam a fronteira, localizada ao Norte do Brasil, em Roraima, em busca de uma oportunidade melhor de vida, diante da crise socioeconômica instaurada no país. Além dos refugiados e migrantes da América do Sul, a Organização passou a acolher afegãos, que, desde 2022, chegam em grupos no aeroporto de Guarulhos (SP), após golpe de Estado que reinstalou o grupo fundamentalista Talibã no governo de Cabul, capital do Afeganistão.
“Abraçamos essa missão porque acreditamos que ninguém pode se desenvolver e sobreviver dignamente em território estrangeiro se não tiver um apoio de base para se integrar à cultura e à comunidade locais. Além disso, em situações extremas, há sérios riscos de os filhos serem separados de seus país, e nosso compromisso é que nenhuma criança cresça sozinha”, afirma Sérgio Marques, Sub Gestor Nacional da Aldeias Infantis SOS.
Longe de casa
Conforme dados divulgados no Relatório de Tendências Semestrais da ACNUR, até setembro de 2023, 114 milhões de pessoas em todo o mundo foram forçadas a deixar suas casas – ou uma em cada 73 pessoas.
Aqui no Brasil, no intervalo de janeiro a novembro de 2023, o país aprovou pedidos de refúgio de 117.188 estrangeiros, sendo que 82% eram venezuelanos, de acordo com o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare).
Além disso, na última década, aumentou o número de mulheres, crianças e adolescentes que solicitaram reconhecimento da condição de refugiados em território nacional. De acordo com números da Polícia Federal, compilados pelo Observatório das Migrações Internacionais (Obmigra), somente no ano passado, dentre os 58.628 solicitantes de refúgio no Brasil, 24.319 eram mulheres (41,5%) e 14.244 eram jovens menores de 15 anos (24,3%).
No que se refere à nacionalidade, o Brasil conta com cerca 590 mil migrantes venezuelanos, de acordo com dados da ACNUR.
Acolhimento e cuidado
Nesse cenário, a atuação da Aldeias Infantis SOS é imprescindível para contribuir com os esforços de acolhida dos refugiados e migrantes forçados a viver longe de seus lares. Os serviços da Organização incluem moradia digna e segura, além de suporte para regularização de documentos, validação de diplomas, renovação de vistos, aprendizado do idioma português e elaboração de currículos traduzidos.
Ao chegar ao Brasil, as famílias com filhos são cadastradas pela ACNUR e, posteriormente, encaminhadas para Aldeias Infantis SOS, que apoia o processo de interiorização dos migrantes
Em média, as famílias ficam três meses sob o cuidado da Organização. Esse é o período necessário para a regularização de documentos, identificação de oportunidades de trabalho e definição de um local para morar de forma definitiva. No atual momento, os venezuelanos ficam nas cidades de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, enquanto os afegãos estão alojados em Poá, na Região Metropolitana de São Paulo.
As crianças são as que mais sentem o impacto do processo migratório e, muitas vezes, não compreendem a mudança drástica de rotina e as dificuldades impostas pela mudança de país. Além disso, ser jovem e ter de fugir do próprio país pode aumentar os riscos de abusos e exploração e reduzir as chances de acesso à educação. Esse cenário reforça a importância do trabalho da Aldeias Infantis SOS, que atua para que nenhuma criança sozinha.
Só no ano passado, das 698 pessoas acolhidas pela Aldeias Infantis SOS, 61% eram crianças e jovens com idade entre 0 e 17 anos. Neste ano, a proporção se repete: até o momento, das 141 pessoas apoiadas pela Organização, 60% têm esse perfil. A Aldeias Infantis SOS trabalha para que nenhuma delas cresça longe de suas famílias e obtenha as condições necessárias para se tornarem cidadãos.
Histórias reais
A venezuelana Keilys Del Jesus Gonzalez Paisan, uma das acolhidas pela Aldeias Infantis SOS, é mãe de três filhos. Para ela, o amparo da Organização foi fundamental para retomar sua vida e manter sua família. “Estamos muito felizes pelo emprego, por termos uma casa onde dormir, por meu filho estar matriculado na escola, por estarmos com saúde e termos o que comer”, conta.
Já Pedro Luis Zamora Malave, 25, foi um dos primeiros venezuelanos a chegar no Brasil, ainda em 2018. “Saí da Venezuela só com 100 reais no bolso e um lugar de um amigo onde morar, em Boa Vista (RR), sem saber o idioma direito. Me candidatei para diversas vagas de emprego e passei pela situação de ter meu currículo rasgado na minha frente, ao dizer que era venezuelano”, destaca.
Após esse período, ele ficou seis meses em um abrigo e conseguiu uma vaga de voluntário na Cáritas Diocesana de Roraima, integrando um projeto que visava construir banheiros e espaços de banho para venezuelanos em situação de rua. Em seguida, por meio da Operação Acolhida e do projeto Brasil Sem Fronteiras, ele foi acolhido pelo Aldeias Infantis SOS no Rio de Janeiro, onde ficou por três meses.
“Ao chegar no Rio, já sabia falar a língua portuguesa um pouco melhor e me inscrevi em um site de empregos. Fui chamado para trabalhar em uma loja de departamentos de forma temporária, no período de fim de ano. Depois de um tempo, a Aldeias Infantis SOS me contratou como colaborador e hoje atuo como educador social na Organização”, relata.
Entre os migrantes afegãos acolhidos pela Organização, está M. A., 32, que mora no Brasil desde 2022. No Afeganistão, ele atuava como professor assistente de agricultura e ajudava as mulheres em seus estudos. “A minha atividade não foi bem-vista pelo novo regime e tive que buscar refúgio em outros locais. No Brasil, tenho esperança no futuro, quero ter fluência na língua portuguesa para entrar no mercado de trabalho e sustentar minha família”, afirma.