Tarcísio prepara mergulho em campanha de Nunes, mas quer evitar agressividade contra Boulos

Governador deve se engajar na campanha do prefeito por entender que vitória do deputado seria pedra no sapato

  • Data: 01/06/2024 10:06
  • Alterado: 01/06/2024 17:06
  • Autor: Redação
  • Fonte: Ana Luiza Albuquerque/Folhapress
Tarcísio prepara mergulho em campanha de Nunes, mas quer evitar agressividade contra Boulos

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB)

Crédito:Isadora de Leão Moreira/Governo do Estado de São Paulo

Você está em:

Era aniversário da capital paulista, e algumas semanas haviam se passado desde o anúncio de que o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu partido, o PL de Valdemar Costa Neto, enfim apoiariam a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Naquele 25 de janeiro, o emedebista e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que vinha defendendo sua pré-candidatura, participaram lado a lado de agendas para anunciar medidas conjuntas para a cidade.

Os dois trocaram afagos, se chamaram de irmãos e consolidaram o discurso de alinhamento e sinergia entre prefeitura e estado que repetiriam nos meses seguintes, à medida que se aproxima o período eleitoral. “Quem conhecer teu coração vai te admirar cada vez mais, como eu já te admiro”, disse Tarcísio ao aliado.

O entorno do governador avalia que ele deve oferecer um apoio firme a Nunes ao longo da campanha – nos limites do que for viável, considerando que Tarcísio tem a máquina estadual para gerir. Alguns aliados apostam que ele deve participar de inserções na televisão e dividir palanque com o prefeito.

Se Guilherme Boulos (PSOL), principal adversário de Nunes e representante do presidente Lula (PT) na disputa, abrir vantagem nas pesquisas, é provável que Tarcísio se engaje ainda mais na campanha.

Pessoas próximas dizem que o governador irá trabalhar para que Boulos não saia vitorioso. A avaliação é que a eleição do deputado federal atrapalharia ações em conjunto com a prefeitura, já que Boulos representa e defende um projeto muito diferente do de Tarcísio.

Aliados afirmam que é importante que a relação com a administração municipal esteja pacificada. Desde janeiro, o governador tem repetido que as duas gestões precisam trabalhar juntas para alcançar sucesso.

“Eu já manifestei meu apoio à pré-candidatura dele”, disse Tarcísio na terça-feira (28) ao ser questionado pela Folha sobre sua participação na campanha de Nunes. “Tem sido uma pessoa muito fácil de trabalhar, tem ajudado. A gente está caminhando na mesma direção, o diálogo flui. Acho que isso é interessante para a cidade e para o estado de São Paulo.”

Por outro lado, aliados dizem que o governador não irá adotar um discurso agressivo contra Boulos. Isso porque, primeiro, Tarcísio deseja manter a imagem de racionalidade e moderação que o elegeu em 2022. Depois porque, se o rival for eleito, o governador precisará recebê-lo no dia a dia e construir uma relação – por isso, é importante evitar traumas ao longo da campanha.

Pessoas que conversam com Nunes e Tarcísio ressaltam que os dois têm feito agendas juntos, se falam com frequência, têm uma boa relação pessoal e estão alinhados.

O entorno do prefeito entende que o governador será um cabo eleitoral fundamental para a transferência de votos e que é importante que os dois continuem a fazer entregas e aparecer juntos.

“O apoio do governador à candidatura é muito importante do ponto de vista eleitoral”, diz o secretário municipal Enrico Misasi, presidente do MDB na capital. “Mais do que isso, é a garantia de que o governo e a prefeitura vão continuar trabalhando juntos.”

Em abril, um jantar de apoio à reeleição de Nunes reuniu integrantes de dez partidos, incluindo nomes de peso da política paulistana, como o próprio Tarcísio, o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, o ex-presidente Michel Temer (MDB) e o secretário Gilberto Kassab (PSD).

Aliados de Nunes avaliam que o encontro sinalizou a construção de uma frente ampla de direita, que terá como primeiro teste a eleição em São Paulo. Segundo essa avaliação, o pleito de outubro na cidade será um espelho para o resto do país. Nesse sentido, uma vitória indicaria o fortalecimento do grupo em oposição à gestão Lula, representada por Boulos.

Assim, eles acreditam que Tarcísio também tem interesse direto no sucesso de Nunes e dessa composição, que poderá integrar sua base de apoio em 2026, seja para a reeleição ou para a Presidência. Uma derrota do prefeito sinalizaria o fortalecimento da esquerda em âmbito nacional, o que iria de encontro aos planos e convicções do governador.

Em janeiro, Tarcísio já havia reverberado a ideia da frente ampla, defendida pelo entorno do prefeito. “A gente está construindo uma frente ampla de aliança, uma frente ampla de apoio ao Ricardo Nunes”, disse o governador à época.

Nunes e Tarcísio se conheceram quando o governador era ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, e as administrações federal e municipal negociavam a dívida da cidade com a União e o uso do aeroporto Campo de Marte. Os dois se aproximaram, porém, apenas no ano passado, ao longo do primeiro ano de gestão Tarcísio.

O governador, que costuma ser fustigado por bolsonaristas que o acusam de não defender valores ideológicos importantes para o grupo, embarcou na pré-candidatura de Nunes antes de Bolsonaro. Avaliado por pessoas próximas como uma pessoa pragmática, Tarcísio aderiu à tese de que a direita precisaria apoiar um candidato moderado para vencer Boulos na capital, onde Lula obteve 53% dos votos no segundo turno de 2022.

Bolsonaro chegou a sinalizar apoio à pré-candidatura de Ricardo Salles (PL), ex-ministro do Meio Ambiente de sua gestão, mas ele não conseguiu sustentação no partido para se viabilizar. O PL de Valdemar Costa Neto também não permitiu que ele deixasse a legenda para se candidatar por outra sigla, mantendo o mandato na Câmara dos Deputados.

“São Paulo merece realmente um nome de uma pessoa que vá fazer pelo município e não fazer por um partido”, afirmou o ex-presidente a jornalistas em dezembro do ano passado. “Salles prefeito”, emendou.

Algumas semanas depois, porém, Tarcísio, Bolsonaro e Valdemar pactuaram o apoio a Nunes, que foi anunciado pelo presidente do PL, com a expectativa de participar da indicação do vice. Segundo o entorno do ex-presidente, inelegível e na mira da Polícia Federal, ele não teve força naquele momento para bancar a pré-candidatura de Salles, o que significaria ir contra o governador e a direção da sigla.

No fim, o ex-ministro desistiu da corrida eleitoral a pedido de Bolsonaro e também porque quis evitar ser responsabilizado por uma eventual vitória de Boulos, caso conseguisse chegar ao segundo turno e perdesse para o aliado de Lula.

Compartilhar:

  • Data: 01/06/2024 10:06
  • Alterado:01/06/2024 17:06
  • Autor: Redação
  • Fonte: Ana Luiza Albuquerque/Folhapress









Copyright © 2024 - Portal ABC do ABC - Todos os direitos reservados