Na briga com bolsonaristas por vice de Nunes, Milton Leite quer ser cacique nacional do União Brasil
Presidente da Câmara dos Vereadores de SP é citado também como possível candidato ao Senado em 2026; ele diz que já tem cargo na legenda e que é cedo para falar do pleito nacional
- Data: 24/05/2024 13:05
- Alterado: 24/05/2024 13:05
- Autor: Redação
- Fonte: Estadão Conteúdo
Milton Leite (União Brasil)
Crédito:Afonso Braga/Rede Câmara
Atualmente na briga com bolsonaristas para ser indicado ao cargo de vice na chapa do prefeito Ricardo Nunes (MDB) na corrida eleitoral de outubro, o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite (União), almeja voos maiores para o futuro. Um dos nomes mais influentes da política paulistana, ele quer ampliar seu poder e tornar-se um articulador nacional do União Brasil. O movimento, segundo aliados, passaria por mais espaço no partido e também por um cargo eletivo em Brasília a partir de 2026. A possibilidade mais citada é o Senado Federal.
Na Câmara desde 1997, Leite tem repetido nos últimos meses que não vai disputar o oitavo mandato como vereador e que seu objetivo na próxima eleição é ser vice do emedebista, mas a possibilidade é considerada remota neste momento. A vaga foi prometida ao PL e a indicação precisa ser aprovada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O nome preferido de Bolsonaro é o do ex-comandante da Rota, coronel Mello Araújo, mas o ex-presidente já disse à vereadora Sonaira Fernandes (PL) para ficar de prontidão. Também estão no páreo a vereadora Rute Costa (PL), a delegada Raquel Galinatti (PL), o secretário Aldo Rebelo (MDB) e o deputado estadual Tomé Abduch (Republicanos).
“O Milton seria um bom nome, conhece a cidade, conhece a Câmara, mas depende de uma construção partidária entre os partidos da base”, diz Isac Félix, líder do PL no Legislativo municipal, acrescentando que um dos objetivos do presidente da Câmara é aumentar a atividade no partido “Ele quer ser dirigente partidário a nível de Valdemar (Costa Neto, presidente do PL), de (Gilberto) Kassab, de Antônio Carlos Rodrigues”.
Milton Leite é apontado como uma espécie de sucessor de Rodrigues no Palácio Anchieta. O deputado federal foi presidente do antigo PR (atual PL), senador, ministro do governo Dilma Rousseff e presidente da Câmara Municipal da capital paulista por quatro anos.
Só foi ultrapassado pelo próprio Leite, que chegará ao total de seis anos como presidente ao final de 2024: após um mandato entre 2017 e 2018, ele está desde 2021 no comando da Casa. Para isso, alterou a Lei Orgânica duas vezes acabando com o limite de reeleições. Até então, a tradição era que os presidentes fossem reeleitos somente uma vez, totalizando dois anos na Presidência.
“Os partidos aliados decidirão isso no momento oportuno”, disse Milton Leite ao responder por escrito perguntas enviadas pelo Estadão. “Eu e meus filhos já somos membros da Direção Nacional do partido. Não posso conversar sobre cargos no partido se já os tenho”, acrescentou.
Um exemplo da atuação de Milton Leite se deu na privatização da Sabesp. No início de abril, ele disse em um café da manhã com jornalistas que o projeto não tinha votos para ser aprovado na Câmara Municipal e listou uma série de mudanças que precisavam ser feitas no texto – todas no sentido de aumentar os investimentos na capital e repasses à prefeitura.
Também dizia que era preciso que a privatização garantisse recursos para a construção de habitações sociais e regularização de moradias nas proximidades das represas Billings e Guarapiranga, na Zona Sul, base eleitoral do presidente da Câmara.
O próprio Leite capitaneou as negociações com o governo Tarcísio de Freitas, que escalou Kassab, secretário de Governo, para as conversas. Um mês depois, as reivindicações foram aceitas, o texto alterado e a privatização da Sabesp foi aprovada em dois turnos com uma margem de 20 votos. Uma liminar chegou a suspender o resultado da votação diante da falta de estudos e da realização de audiências públicas para discutir o tema, mas a decisão foi derrubada dias depois pelo presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).
A tendência é que a Família Leite, como o clã é conhecido na Zona Sul, cresça na próxima eleição: além dos filhos Alexandre Leite (União), deputado federal, e Milton Leite Filho (União), deputado estadual, o presidente da Câmara de SP lançou assessores como pré-candidatos a vereador: Silvão Leite, seu chefe de gabinete que pegou o sobrenome “emprestado”, e Silvinho Ricardo, chefe de gabinete na Subprefeitura de M’Boi Mirim, um dos redutos de Milton Leite.
Ao Estadão, Antônio Carlos Rodrigues diz que a pretensão do “amigo” e “parceiro” é mesmo se tornar articulador na política nacional. “Ele tem um filho federal e um filho estadual. Para ele, só caberia o Senado”, afirmou. “Mas muita água ainda vai rolar neste período”.
O deputado defende que Leite seja vice tanto de Nunes quanto do que chama de “outro lado”, em referência a uma sinalização de alas do PL e do União Brasil que levantaram a possibilidade de romper com o atual prefeito e lançar ou apoiar outro candidato, como Pablo Marçal (PRTB). Questionado, Leite é taxativo: “Tenho compromisso com o prefeito Ricardo Nunes”.
Ele, porém, desconversa ao falar sobre o Senado. “A eleição atual ainda é algo distante, muito mais distante está 2026 para falar sobre qualquer tipo de candidatura”, diz.
Segundo aliados de Bolsonaro, o movimento para romper com Nunes não conta com o endosso do ex-presidente. “Vejo notícias plantadas por negociantes de plantão que querem, com elas, praticamente chantagear/extorquir cargos, espaços e verbas do prefeito”, escreveu Ricardo Salles na rede social X. Ele teve que abrir mão da própria pré-candidatura para o PL apoiar a reeleição do prefeito.
Além do peso do PL e dos bolsonaristas, a Operação Fim da Linha também teria enfraquecido o pleito de Milton Leite para ser vice de Nunes. A operação mirou empresas de ônibus que atuam no transporte público de São Paulo e teriam ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Leite foi listado como testemunha pelo Ministério Público na investigação contra os dirigentes da Transwolff, que teria recebido R$ 54 milhões da organização criminosa. A Promotoria não detalhou as razões pelas quais quer ouvir o presidente da Câmara.
“Não comento ilações. Tenho 30 anos de vida pública sem nenhum tipo de processo. O fato é que, até agora, não recebi nenhum contato do Ministério Público para depor como testemunha”, afirmou Milton Leite.