O que é Transtorno de Personalidade Borderline?
1 em cada 100 pessoas apresentam esse transtorno mental
- Data: 15/02/2024 14:02
- Alterado: 15/02/2024 14:02
- Autor: Redação
- Fonte: Hospial Santa Mônica
Transtorno de Personalidade Borderline
Crédito:Divulgação
Você sabe o que é a síndrome de Borderline? Esse transtorno ainda pode ser desconhecido por muitos, mas talvez esteja presente na sua vida também. Afinal, muitas pessoas não têm o diagnóstico, mas apresentam os sintomas.
Tanto é que estudos indicam que 1 em cada 100 pessoas apresentam esse transtorno mental. Desse total, 75% são mulheres. Porém, o que caracteriza esse problema? Como identificá-lo e de que forma tratar o paciente?
Neste artigo, você vai conferir as respostas para essas perguntas. A psiquiatra do Hospital Santa Mônica, Dra. Ana Luiza Molina, irá explicar melhor o que é o transtorno de personalidade Borderline e outros detalhes sobre essa condição. Continue lendo e saiba mais.
O que é transtorno de personalidade Borderline?
A síndrome de Borderline é um transtorno mental grave, condição que faz o indivíduo viver em situação limítrofe, como a tradução do seu nome define. Com isso, há mudanças de atitudes repentinas e alterações de humor, levando aos extremos e à impulsividade.
A pessoa com esse transtorno tem dificuldade nas relações sociais e um lado emocional inconstante. Muitas vezes, esse distúrbio é gerado por algum trauma ocorrido na infância. Por exemplo:
relação difícil entre pai/mãe e filhos ou inexistente;
abuso sexual;
negligência;
trauma emocional de outros tipos;
chantagem emocional;
bullying físico.
Qualquer situação que leve a pessoa a desenvolver um comportamento excessivamente defensivo pode gerar Borderline no futuro. Isso aumenta a chance de serem adotadas atitudes autodestrutivas. Inclusive, a taxa de suicídio entre pessoas com essa síndrome chega a 10%, de acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Como funciona a mente de um Borderline?
A síndrome de Borderline também é chamada de transtorno de personalidade limítrofe. Isso porque, como explicamos, geralmente o indivíduo vive no limite das suas emoções. É por esse motivo que acontecem as mudanças repentinas de humor.
Basicamente, é como se a pessoa com síndrome de Borderline vivesse constantemente “com os nervos à flor da pele”. Em sua mente, há uma visão distorcida de si, assim como dos indivíduos ao redor.
Ocorre uma sensibilidade muito grande, que faz a pessoa sentir tudo de uma maneira muito intensa e, ao mesmo tempo, instável. Assim, tanto os sentimentos positivos quanto os negativos se manifestam de forma tempestuosa.
É por isso que o transtorno de Borderline faz com que a pessoa esteja no limite da neurose, com sentimentos relacionados à obsessão e à ansiedade. Também no limite da psicose, que envolve a distorção da realidade.
A visão distorcida de si leva a pessoa com síndrome de Borderline a ter dificuldade de enxergar suas qualidades. Portanto, ela não se sente merecedora e, ao mesmo tempo, acontece um medo muito grande de ser rejeitada.
Sendo assim, em um momento ela demonstra um amor exagerado por alguém, mas quando existe a sensação de que pode ser rejeitada, tudo isso se transforma em brigas muito intensas e uma verdadeira tragédia.
Essa intensidade na percepção das emoções e dos sentimentos faz com que um grande amor e uma intensa alegria se transformem em uma tristeza profunda e dê espaço para o ódio e a raiva. Além disso, pode fazer a pessoa sentir uma grande necessidade de extravasar essa dor, que parece insuportável.
Por isso, é bastante comum a automutilação e até mesmo a tentativa ou concretização do ato suicida. Na mente de uma pessoa com síndrome de Borderline, as relações e as situações são sempre baseadas no tudo ou nada.
Quais são as características do Transtorno de Personalidade Borderline?
Existem algumas características bastante comuns nos pacientes com esse transtorno de personalidade. Entre elas, estão
insegurança em relação a si e aos outros;
solidão e sensação de vazio;
mudanças significativas de humor, que duram dias ou horas;
flutuação entre ansiedade, depressão e raiva;
irritabilidade, inclusive com comportamentos agressivos;
impulsividade, que pode levar a comportamentos desregrados, como dependência química, padrão alimentar exagerado ou gasto de dinheiro descontrolado;
pensamentos e ameaças suicidas;
medo irreal ou excessivo de abandono por parceiros, familiares e amigos;
tendência a relações instáveis e ao distanciamento;
dificuldade em aceitar críticas;
comportamentos irracionais em casos de muito estresse;
receio de que as emoções fujam do controle;
dependência de outras pessoas para ter estabilidade.
Contudo, essas características podem variar de um indivíduo para o outro, uma vez que existem tipos diferentes de Borderline, conforme explicamos a seguir.
Quais são os tipos de Borderline?
Uma vez que a síndrome de Borderline é um transtorno de personalidade, ela também apresenta tipos diferentes. Isso porque a manifestação dos sintomas depende da maneira como o indivíduo lida com suas próprias emoções.
Nesse transtorno, o estado emocional é o que predomina. Existe pouca influência da razão. De toda forma, como dito, pode haver diferenças no modo como cada um lida com aquilo que sente. Diante disso, existem duas grandes categorias de Borderline: o tipo explosivo e o tipo implosivo.
Borderline do tipo explosivo
Nessa categoria, a pessoa manifesta sintomas muito intensos. Geralmente, acontecem ataques de raiva e de fúria de maneira explosiva. O indivíduo com esse tipo de Borderline, quando se sente decepcionado ou frustrado, tende a reagir com xingamentos e ofensas, agindo de forma agressiva com as pessoas ao seu redor e consigo.
Borderline do tipo implosivo
Nesse caso, o indivíduo lida de uma forma diferente com os sintomas da síndrome de Borderline. Em vez de extravasar a raiva e o desconforto que sente, volta tudo isso para dentro de si.
Seu sofrimento é convertido em comportamentos autodestrutivos. Então, quando há uma situação de abandono ou de rejeição, o indivíduo tende a práticas nocivas, como uso de substâncias químicas, autoflagelação e automutilação.
Além desses comportamentos mais impulsivos, existem outras variações da síndrome de Borderline. Há, por exemplo, o Borderline petulante, caracterizado por comportamentos desafiadores, desrespeitosos e hostis.
O Borderline vazio, por sua vez, sente uma grande dificuldade para se conectar emocionalmente com outras pessoas. Assim, ele pode buscar emoções fortes para preencher esse vazio emocional que sente.
Existe também o Borderline inseguro, que é aquele que tem um sentimento intenso de baixa autoestima, muito medo da rejeição e insegurança. Tudo isso resulta na dependência dos demais e em dificuldades para tomar as próprias decisões.
Vale ressaltar que a síndrome de Borderline é uma só. Esses diferentes tipos ou categorias apenas ilustram a maneira como o transtorno se expressa em cada indivíduo. Isto é, o diagnóstico é único, mas as manifestações dos sintomas variam.
Quais são os sintomas desse transtorno?
A pessoa que vive com transtorno de personalidade Borderline tem alterações no cérebro. Basicamente, as modificações são as seguintes:
amígdala menor ou atrofiada: essa parte é responsável por regular o medo e a agressão. No entanto, ela é hiperativa nesses pacientes. Portanto, quando a pessoa sente uma emoção, o sentimento é mais intenso do que o vivenciado pela população em geral. Ela também demora mais tempo para se acalmar;
hipocampo em estado de hiperexcitação contínua: essa estrutura está relacionada às memórias de curto e longo prazos, à orientação espacial e às reações emocionais. No indivíduo com Borderline, ele é descoordenado e disfuncional, interpretando mal as possíveis ameaças. Assim, tudo parece perigoso, o que leva a reações exageradas;
cortisol em excesso na corrente sanguínea: o hormônio do estresse é produzido pelo eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. Essas três glândulas interagem entre si de forma desequilibrada e geram um nível maior de produção de cortisol. O resultado é dificuldade com resiliência e habilidades de enfrentamento, além de um corpo sobrecarregado;
córtex pré-frontal inativo e/ou ineficiente: isso faz com que os pacientes sejam envolvidos por emoções até perderem o controle.
Diante dessas modificações cerebrais, vários sintomas aparecem. A seguir, listamos os principais.
Medo de abandono
O paciente com Borderline tem um receio constante de ser deixado sozinho, de não ser atendido ou ser abandonado. Essa característica está presente até nos estágios iniciais da síndrome. No entanto, em casos mais graves, pode levar ao isolamento voluntário, acabando com as relações devido a esse medo.
Raiva intermitente
O passado traumático da pessoa faz com que ela interprete as ações e as reações dos outros como um sinal de rejeição ou negligência. Portanto, a raiva surge de maneira repentina e sem motivo aparente. De toda forma, ela alimenta o medo e gera uma expressão de intensidade desproporcional.
Hábitos ruins
As pessoas com esse transtorno tendem a ter dependências comuns, como em drogas ou álcool, relações extraconjugais, jogos etc. Essas ações têm o objetivo de suprir o sentimento de tristeza e o vazio emocional existente.
Interior vazio
A maioria dos pacientes com Borderline relata ter um sentimento de vazio intenso. Em alguns casos, chega a uma intensidade tão alta que exige outra pessoa para que esse “buraco emocional” seja preenchido. Ou seja, a dependência afetiva se torna maior e causa mais sofrimento.
Como é a crise de um Borderline?
Normalmente, a crise se manifesta durante períodos de conflito emocional difícil. Por exemplo, separações, mortes, brigas, abuso sexual etc. Isso costuma ocorrer na infância, com o auge sendo na adolescência e na juventude. Na idade adulta, as crises tendem a diminuir.
Nas crises, a pessoa tem um comportamento imprevisível. Pode acontecer de no mesmo dia estar em um estado de euforia e, logo em seguida, de depressão. Quando ocorre uma manifestação intensa de paranoia, o indivíduo com Borderline pode cometer violência física, mesmo contra pessoas queridas.
Também acontece de adotar ações autodestrutivas durante um surto de depressão, como se cortar. No entanto, isso pode vir seguido de arrependimento quando a pessoa percebe que se machucou. Ao mesmo tempo, as crises podem vir acompanhadas de tentativas de suicídio, além de psicose de curta duração — apenas alguns minutos ou horas.
Como é a pessoa com Borderline?
Conforme explicamos, o indivíduo com essa síndrome sofre alterações rápidas de humor e tem um comportamento e estado mental flutuantes. Ou seja, os aspectos negativos surgem com frequência, como a depreciação à autoimagem, autossabotagem e agressividade.
É comum que a pessoa apresente sensação de inutilidade, instabilidade emocional, impulsividade e insegurança. Além disso, suas relações sociais são prejudicadas por causa dessa instabilidade.
Mas é importante ressaltar que tudo isso acontece porque na síndrome de Borderline as emoções se sobressaem à razão. Como você viu, existem alterações no funcionamento do cérebro dos pacientes. Sendo assim, eles não conseguem se controlar e, mesmo diante de situações simples, suas reações tendem a ser intensas e tempestuosas.
Também não há a intenção de agir de tal maneira. Ou seja, a pessoa não se torna agressiva por opção, mas porque tem uma grande dificuldade para lidar com as próprias emoções, e tudo aquilo que acontece com ela gera reações e comportamentos explosivos e prejudiciais.
Não são tentativas de chamar a atenção para si, mas uma forma de se proteger de ameaças, aliviar o sofrimento e a dor que está sentindo. Por isso, é tão importante o tratamento, para que os indivíduos com Borderline mantenham suas emoções sob controle e lidem da melhor forma com os demais para terem relações saudáveis.
Como fazer o tratamento para o Transtorno de Personalidade Borderline?
O tratamento depende de um diagnóstico preciso, que deve ser feito pela análise de um psiquiatra. Então, segue o acompanhamento com esse profissional e um psicólogo. Assim, é adotado um processo de psicoterapia que ajuda a ressignificar as experiências vividas e que foram traumáticas.
Isso permite controlar os impulsos, entender melhor os comportamentos e sofrer menos com as situações rotineiras. Portanto, o foco são a terapia e as orientações psicológicas. Contudo, também podem ser prescritos alguns remédios, dependendo do caso.
O tratamento precisa ser individualizado. Isso porque esse transtorno não tem cura, mas pode ser controlado. Nesse sentido, o profissional da saúde pode utilizar diferentes tipos de remédios. Tudo varia de acordo com cada uma das crises.
Os medicamentos mais utilizados são os estabilizadores de humor, os antidepressivos, os antipsicóticos e os ansiolíticos. Sem contar que a psicoterapia é fundamental.
Quando a internação é indicada?
A internação psiquiátrica é recomendada quando há risco de vida. Por isso, a indicação costuma existir para proteger o paciente da automutilação e dos pensamentos ou comportamentos suicidas.
De toda forma, essa alternativa deve ser bem pensada. A diretriz para o tratamento dessas pessoas indica que a medida seja adotada somente em circunstâncias específicas. Por exemplo, abuso de substâncias ou tendência a suicídio grave e persistente.
O Hospital Santa Mônica oferece uma equipe multidisciplinar para atender pessoas que enfrentam a síndrome de Borderline. Assim, realiza um diagnóstico preciso, identificando o nível de gravidade do problema para definir o tratamento mais adequado.
O paciente encontra suporte psiquiátrico e psicológico para promover o equilíbrio da saúde mental e saber como lidar com suas emoções. Também existem diferentes atividades e terapias que auxiliam na socialização e na ressignificação das situações que podem ser as causadoras do transtorno.
Ao mesmo tempo, se necessário, o Hospital Santa Mônica dispõe de estrutura para internação de pacientes que enfrentam casos mais graves do problema. Dessa forma, é possível preservar a vida desses indivíduos e auxiliar na retomada do equilíbrio, para voltar ao convívio social e realizar um tratamento que ajude a evitar novas crises.
Agora você já sabe o que é a síndrome de Borderline e pode procurar ajuda para si ou para alguém que conheça. O mais importante é entender que as ações não são propositais, mas sim resultado de um trauma que afetou todo o funcionamento do cérebro.