Avanço do garimpo ilegal traz doenças e violência para reserva Yanomami
Contato com os homens brancos também resulta na transmissão de doenças que podem ser fatais para os indígenas, como a gripe e a covid-19
- Data: 24/01/2023 11:01
- Alterado: 24/01/2023 11:01
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Brasília - Indígenas de todo o Brasil chegam à Brasília para o Acampamento Terra Livre.
Crédito:Reprodução
Por trás do quadro de desnutrição e dos problemas de saúde que assolam a população Yanomami, na Amazônia, estão as omissões no combate ao garimpo, que teve avanço desenfreado na região nos últimos anos. Entre os efeitos da invasão pela mineração irregular, estão a contaminação dos rios com mercúrio, a destruição das roças das comunidades e a fuga dos animais que servem de alimentos. Além disso, o contato com os homens brancos também resulta na transmissão de doenças que podem ser fatais para os indígenas, como a gripe e a covid-19.
Na semana passada, o governo federal declarou emergên cia em saúde na reserva Yanomami, que tem 30,4 mil habitantes. No total são 9,6 milhões de hectares, entre o Brasil (Amazonas e Roraima) e a Venezuela. “É um processo que não pode ser dissociado do garimpo, que levou violência, mudanças culturais, contaminação por mercúrio dos rios e insegurança alimentar”, diz Vinícius Zanatto, do Grupo de Pesquisas em Territorialidade e Segurança Socioambiental na Amazônia, do Instituto Mamirauá, entidade que tem fomento e supervisão do Ministério da Ciência e Tecnologia.
“As crianças estão desnutridas de malária, diarreia e verme, porque o governo federal abandonou a população Yanomami”, diz Dário Kopenawa, liderança Yanomami e filho do xamã Davi Kopenawa um dos principais defensores da demarcação da terra indígena há três décadas. “Não tem medicamentos nem profissionais para dar assistência”, disse. Segundo o governo federal, foram sete mortes de crianças neste mês e 11,5 mil casos de malária no ano passado.
Trata-se da reedição do cenário que marcou a região no início da década de 1990, quando era estimada a presença de até 45 mil garimpeiros ilegais nas terras então não demarcadas dos Yanomami. As projeções indicam hoje cerca de 20 mil garimpeiros.
A presença dos mineradores ilegais tem sido uma constante desde a demarcação do território, em 1992, mas nos últimos quatro anos a irregularidade encontrou espaço para crescer ainda mais, com o enfraquecimento dos órgãos de apoio indígena e do combate aos crimes ambientais na gestão Jair Bolsonaro (PL).
Segundo dados da plataforma MapBiomas, de 2010 a 2020, a área ocupada pelo garimpo dentro de terras indígenas, no Brasil, cresceu 495%. As maiores áreas de garimpo em terras indígenas estão em território Kayapó (7.602 ha) e Munduruku (1.592 ha), no Pará, e Yanomami (414 ha), no Amazonas e Roraima.