Noite feliz e tudo
Era uma simples apresentação natalina, mas terminou em crônica. Texto de autoria de Nelson Albuquerque Jr.
- Data: 20/12/2019 10:12
- Alterado: 20/12/2019 10:12
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Nelson Albuquerque Jr.
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Engraçado, todo mundo tem cabeça. Já reparou? Pode ser que falte ou sobre qualquer coisa em alguém. Mas cabeça, todo mundo tem.
Entrei nessa ideia quando, sentado na plateia, acompanhava uma dessas infindáveis apresentações natalinas. Tenho certeza que a maioria ali bocejava por dentro e desejava que o Papai Noel despencasse logo pela bendita chaminé.
Foi nesse cenário que abstraí feito criança desatada das mãos da mãe e, súbito, reparei na plantação de cabeças que se apresentava à minha frente. Um cabelo preto curtinho, outro arrepiado, três ou quatro carecas, um castanho natural, uma loira lisa, cachos em cachoeira, mechas obsoletas, tufos e ondulações. Algumas balançantes, outras inclinadas ou desinclinadas.
De nada adiantava eu evitar. Todas aquelas caixas cranianas brilhavam como enfeites luminosos. Piscavam hipnotizantes. Uma divertida distração. Até me despertarem para a conclusão fatal: todo mundo tem cabeça.
Mas aí a coisa ficou séria. Pensei: cada coco desse tem dentro uma massa encefálica em funcionamento. Com certeza pensam (espero!). Em que estariam maquinando? Na novela perdida, no especial do Roberto, no acordo vantajoso, na gata, no crush, numa feijoada, no peru, no Fortnite? Por milagre, alguém estaria pensando no próximo?
Era tanto micromundo à minha frente que me senti uma poeira no universo. E cada micromundo daquele era outra poeira. Tudo tão pequeno, ínfimo, desimportante. E pareciam uns desconectados dos outros. Soltos a boiarem no espaço.
Se todos se conectassem, que mágico seria! Que força teriam! Quem sabe se nos clicássemos. Acho que aconteceria até um Natal mesmo! De noite feliz e tudo!