Exposição fotográfica ‘Dorminhocos’ no Sesc Santo André
Em parceiria com Fundação Pierre Verger, unidade expõe 98 fotografias que retratam pessoas dormindo em locais públicos pelo mundo
- Data: 13/03/2019 11:03
- Alterado: 13/03/2019 11:03
- Autor: Redação
- Fonte: Sesc Santo André
Crédito:Pierre Verger
Pierre Verger (1902-1996) foi um etnólogo, antropólogo, pesquisador e acima de tudo, fotógrafo, que viveu grande parte da sua vida em Salvador, capital da Bahia. Aficcionado pelas culturas populares, Verger produziu registros fotográficos de grande relevância e obras escritas sobre as culturas afro-baianas e da diáspora africana, consolidando seu olhar antropológico para traços da arte e religiosidade brasileiras, seu principal foco de interesse.
Durante suas múltiplas viagens pelo mundo, o francês também direcionou seu olhar para o cotidiano urbano e suas relações com o trabalho e o corpo humano. Essa relação é matéria-prima das fotos que compõem a exposição Dorminhocos, com abertura na próxima terça-feira, dia 12 de março, no Sesc Santo André.
Com curadoria de Raphael Fonseca, a exposição reúne 98 fotografias – muitas delas inéditas – que exibem o ponto de vista característico de Verger a partir de fotografias produzidas entre as décadas de 1930 e 1950, em países como Argentina, Peru, Congo, China, Polinésia Francesa, Guatemala e México. No Brasil, Verger fotografou os dorminhocos na Bahia, Pernambuco e Maranhão.
As fotos escolhidas para exposição integram o acervo da Fundação Pierre Veger, em Salvador, localizada na casa em que o fotógrafo viveu durante anos. As imagens, de origens singulares, mostram os caminhos percorridos por Verger em seu estúdio público: ruas, vielas, praças. Seu olhar se debruça para a relação de corpos fatigados que descansam em locais públicos devido à intensa modernização e consolidação de uma rotina de trabalho extenuante.
Constantes nas obras de Verger, os tons de preto e branco contextualizam o trabalho como uma atividade melancólica, que afasta o corpo dos desejos da mente e se adapta às condições oferecidas e disponíveis para expurgar o cansaço. Um homem que dorme sobre o lombo de um burro, no México; outro que se apoia em uma tenda de frutas em Salvador. Árvores, bancos, balcões, escadas e calçadas se tornam camas. Braços, colunas, paredes e degraus como travesseiros. Pierre Verger convida o espectador a olhar atentamente flagrantes preciosos de simplicidade impactante, onde a ausência de gestos os torna silenciosamente elegantes e originais.
Dorminhocos é uma oportunidade para o público conhecer outro aspecto da obra de Verger, que é marcada pelo tema das religiões afro-brasileiras. Além disso, a mostra provoca questões como a relação entre classe, raça e contrastes sociais; o lugar da mulher no mercado de trabalho e no espaço público (são poucas as fotos com presença feminina na exposição) e a relação das pessoas com o meio urbano.
Pierre Edouard Léopold Verger nasceu em Paris, no dia 4 de novembro de 1902. Desfrutou de boa situação financeira e levou uma vida convencional até 1932, ano em que aprendeu um ofício e descobriu uma paixão: fotografia e viagens. De dezembro daquele ano até agosto de 1946, foram quase 14 anos consecutivos de viagens ao redor do mundo. Verger negociava suas fotos com jornais, agências, empresas e centros de pesquisa. Mas tudo mudou quando desembarcou na Bahia ainda naquele ano. Enquanto a Europa vivia o pós-guerra, Verger encontrou em Salvador a hospitalidade e riqueza cultural que o seduziram logo de cara.
Apesar de ter se fixado na Bahia, o francês nunca perdeu seu espírito nômade. A história, os costumes e, principalmente, a religião praticada pelos povos iorubás e seus descendentes, na África Ocidental e na Bahia, passaram a ser os temas centrais de suas pesquisas e sua obra. Como colaborador e pesquisador visitante de várias universidades, publicou suas pesquisas em artigos acadêmicos, comunicações e livros.
Em 1988, Verger criou a Fundação Pierre Verger (FPV), da qual era doador, mantenedor e presidente, assumindo assim a transformação da sua própria casa na sede da Fundação e num centro de pesquisa. Verger faleceu em fevereiro de 1996, deixando à Fundação Pierre Verger a tarefa de prosseguir com o seu trabalho.
A abertura é na próxima terça-feira, 12 de março, às 20h, na Galeria do Sesc Santo André.
Exposição Dorminhocos – Sesc Santo André
Visitação
13 de março a 16 de junho de 2019.
Terça a sexta, das 10h às 22h.
Sábados, domingos e feriados, das 10h às 19h.