Confusão entre governo e direção da Caixa provoca novas filas em agências
Conflito de informações e problemas de gestão acabam novamente levando beneficiários de auxílios a unidades do banco em diversos locais do país, aumentando o risco de contágio
- Data: 31/07/2020 14:07
- Alterado: 31/07/2020 14:07
- Autor: Redação
- Fonte: Gerência Comunicação - Fenae
Confusão entre governo e direção da Caixa provoca novas filas e aumenta risco de contágio em agências
Crédito:Divulgação/Fenae
“Governo e direção da Caixa não sabem o que fazer. Tomam decisões erradas, batem cabeça. Enquanto isso, a população e os empregados pagam o preço, se expondo ao risco de contaminação pela covid-19”, destaca presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae)
Mais uma vez, os empregados da Caixa Econômica Federal e a população estão pagando o preço pela confusão entre o governo e a direção do banco. O conflito de informações e a falta de planejamento dos órgãos federais novamente têm resultado em aglomerações e filas em frente a unidades da Caixa. Esta semana, por exemplo, a Dataprev — a Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência, vinculada ao Ministério da Economia — informou que o cadastro de mais 800 mil beneficiários do auxílio emergencial foi aprovado. No entanto, o presidente do banco, Pedro Guimarães, declarou que dados sobre este novo lote ainda não foram repassados à Caixa pelo Ministério da Cidadania.
“Temos que receber o calendário efetivo [do ministério] e o dinheiro para realizar o pagamento. Não temos nenhum dos dois. No meio da semana que vem, nós realizaremos o pagamento”, declarou Pedro Guimarães. “Depois, vamos realizar o pagamento no mesmo calendário dos ciclos que anunciamos para que não tenha confusão. Ou seja, vamos adequar esses 800 mil ao mesmo calendário dos demais”, emendou o presidente do banco.
Questões como essa e um conjunto de outros problemas de gestão resultaram no retorno de filas em agências da Caixa de diversas cidades do país, expondo ainda mais ao risco de contaminação pelo coronavírus tanto os trabalhadores do banco quanto a população. Além do acúmulo de pagamentos atualmente realizados ao mesmo tempo pela Caixa — como o auxílio de R$ 600, o FGTS Emergencial, o Bolsa Família e o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e Renda, entre outros — falhas em aplicativos dos benefícios e o recente bloqueio de mais de três milhões de contas digitais contribuem para os transtornos à sociedade e aos bancários.
“O próprio Pedro Guimarães anunciou que, para desbloquear a conta, é preciso ir à agência. É claro que realizar este bloqueio de milhões de contas, de forma repentina, causaria filas nas unidades”, destaca o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Sérgio Takemoto. “Sabendo disso, deveriam ter sido feitos uma ampla divulgação à população e um planejamento para receber essas pessoas. Apenas o calendário não resolve”, afirma. “Governo e direção da Caixa não sabem o que fazer. Tomam decisões erradas, batem cabeça. Enquanto isso, a população e os empregados pagam o preço, se expondo ao risco de contaminação pela covid-19”, acrescenta Takemoto.
CENTRALIZAÇÃO DE PAGAMENTOS — A Caixa Econômica também é o banco que mais tem feito empréstimos às micro e pequenas empresas por meio do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). De acordo com o Emprestômetro — ferramenta do Ministério da Economia com dados sobre empréstimos na pandemia — entre as instituições públicas e privadas que ofereceram a linha de crédito, 37,6% dos contratos foram realizados pela Caixa. O banco também anunciou nova linha de crédito com garantia pelo saque-aniversário do FGTS.
A pausa no financiamento habitacional por meios eletrônicos também tem apresentado erros, o que faz com que as pessoas procurem as agências. Conforme analisa o presidente da Fenae, todos estes pagamentos centralizados na Caixa sobrecarregam os bancários e penaliza a população, que acaba precisando ir às agências para resolver problemas.
PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR — “A pergunta que não quer calar é: qual é o interesse do governo e da direção do Caixa em manter todos esses pagamentos apenas na Caixa? Por que não dividir com outros bancos?”, questiona Sérgio Takemoto.
“A Fenae tem insistido nessa questão. A Caixa está atendendo, sozinha, mais da metade da população brasileira. Tem expertise, capilaridade e competência para a tarefa, tanto que já pagou mais de três parcelas do auxílio emergencial a mais de 65 milhões de pessoas. Mas, não dá para tratar com normalidade um momento anormal. Se tem culpados nessa história, são o governo e a direção do banco. As vítimas, como sempre, são os empregados e a população”, ressalta o presidente da Fenae.
SOLUÇÃO TRANSFERIDA AOS BANCÁRIOS — Para resolver os problemas causados pela falta de planejamento e o conflito de informações do governo e da direção da Caixa, os bancários foram novamente convocados. Neste sábado (1º), o banco volta a abrir mais de 700 agências, das 8h às 12h, para atender aos beneficiários do auxílio emergencial.
“Abrir aos sábados tem sido prática constante. Enquanto a administração do banco não acerta, são os trabalhadores que são sobrecarregados e expostos aos riscos. É uma covardia”, ressalta Sérgio Takemoto, que destaca a situação dos empregados durante a pandemia. Ele afirma que, além do comprometimento dos bancários para o pagamento do auxílio emergencial a milhões de pessoas, há uma forte pressão para os trabalhadores baterem metas abusivas.
Para a representante dos empregados no Conselho de Administração da Caixa, Rita Serrano, o retorno das filas é uma consequência da falta de administração. Ela explica que cerca de 121 milhões de brasileiros estão passando pelo banco, nesta conjuntura.
“Já havia uma aglomeração causada pelo pagamento do auxílio emergencial. Além das mais de 65 milhões de pessoas que recebem o benefício, agora tem mais 60 milhões para retirar o FGTS. Os empregados da Caixa estão exaustos, há uma pressão muito forte desde o início do pagamento do auxílio”, pontua Serrano, ao observar que empregados têm relatado jornada de trabalho até quatro vezes maior e que a abertura das agências aos sábados “sacrifica” ainda mais os bancários e prestadores de serviço, também expostos ao contágio pelo coronavírus.