No ano da Copa, Netflix investe no futebol
Faltando três meses para o começo do mundial na Rússia, selecionamos o melhor que o serviço de streaming mais famoso do mundo tem para os fanáticos por futebol.
- Data: 14/03/2018 14:03
- Alterado: 22/08/2023 21:08
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Lilian Trigo
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No embalo da Copa do Mundo, a Netflix resolveu apostar no futebol e lançou sua primeira produção original dedicada ao tema. “First Team: Juventus” é um projeto piloto de série documental dedicada a times de futebol. A escolha do time de Turim não foi aleatória. Desde 2011, a Juve vem passando por uma profunda reestruturação, que inclui a modernização das instalações esportivas e até a radical reformulação do escudo. Tudo para competir com gigantes do marketing esportivo como Real Madrid, Barcelona, Bayern de Munique e Manchester United.
A grande diferença da série é priorizar o lado humano e o impacto que as vitórias e, especialmente, as derrotas têm sobre os jogadores. Recheada de depoimentos de ídolos do passado, como Alessandro Del Piero, e jogadores do time atual que abrem as portas de suas casas e mostram detalhes de sua vida doméstica. Os três primeiros episódios, mostrando a atual temporada ainda em disputa, já estão disponíveis no serviço de streaming. A segunda parte, que mostrará o segundo turno do campeonato italiano e as outras competições em que a Juventus está envolvida, entra no ar depois da Copa do Mundo.
Mas o catálogo da Netflix esconde algumas preciosidades como a incrível história do Nottingham Forest; o futebol de rua na França; a tragédia do único jogador a assumir publicamente sua homossexualidade e o radicalismo do futebol israelense. Imperdível!
Forbidden Games: The Justin Fashanu Story (Forbidden Games: The Justin Fashanu Story, 2017)
Direção: Jon Carey e Adam Darke
(80 minutos) – Veja o trailer
A história de Justin Fashanu possui todos os ingredientes de uma tragédia anunciada. Filho de imigrantes – um estudante de direito nigeriano e uma enfermeira da Guiana – aos cinco anos foi abandonado, junto com o irmão mais novo, em um orfanato. Os irmãos foram adotados por um casal branco, Alfred e Beth Jackson, e levados para viver na bucólica Norwich. Apesar de serem os dois únicos negros, os Fashanu foram aceitos na vida da comunidade e logo Justin começou a se destacar nos esportes, primeiro no boxe, depois no futebol. Aos 17 anos, fez sua estreia na equipe principal do Norwich City. Dois anos mais tarde, ganhou o prêmio de gol mais bonito da temporada, marcado contra o Liverpool.
O talento de Justin não passou despercebido e, a mando de ninguém menos que Brian Clough, ele foi contratado pelo Nottingham Forest. O clube pagou 1 milhão de libras pelo seu passe, tornando-o primeiro jogador negro a atingir essa cifra.
Jogar pelo time sensação da Europa e pela seleção inglesa traz, da noite para o dia, fama, sucesso e notoriedade, e Fashanu passou a chamar mais atenção pelas festas e noitadas que por seu desempenho em campo. Se na capa dos tabloides, ele aparecia cercado de modelos e starlets, na realidade vivia uma vida dupla frequentando clandestinamente bares gays. Quando rumores de sua homossexualidade chegaram aos ouvidos do técnico, ele foi afastado do time. Chantagem, escândalos e pedofilia são apenas alguns dos ingredientes dessa história, que nunca teve a possibilidade de um final feliz.
Bola no Asfalto (Ballon sur Bitume, 2016).
Direção: Jesse Adang e Syrine Boulanouar
(51 minutos) – Veja o trailer
Nos subúrbios de Paris, nas quadras dos conjuntos habitacionais, centenas de jovens compartilham o desejo de se tornarem profissionais. Inspirados pelas façanhas de seus ídolos, que trocaram os campos de cimento pelos mais famosos estádios do mundo, eles batem bola da manhã até à noite.
Mas esse balé urbano tem suas regras, seus códigos e sua disciplina. Os campos são reverenciados como os estádios de quem tomaram o nome emprestado, como San Siro, uma quadra cercada por grades, batizada em homenagem aos times de Milão, na época que o futebol italiano era o melhor do mundo. Dos mesmos arredores saíram as jogadas espetaculares de Mehdi Benatia, Riyad Mahrez, Serge Aurier e Ousmane Dembélé, que hoje jogam nos maiores clubes da Europa e em suas respectivas seleções, e os versos poderosos do rap francês de Niska, Gradur, MHD e Ohplai.
O espírito coletivo da periferia agora faz parte do estilo de vida que está profundamente enraizado na cultura parisiense.
Forever Pure (Forever Pure, 2016).
Direção: Maya Zinshtein
(85 minutos) – Veja o trailer
O Beitar Jerusalém F.C. sempre foi o time mais controverso da Liga Israelense de futebol. Os torcedores que orgulhosamente se autoproclamam “os mais racistas do país”, sempre atraíram políticos e representantes dos movimentos nacionalistas de direita. Benjamin Netanyahu e Ehud Olmert, importantes nomes da política israelense costumam ser vistos nas tribunas do estádio Teddy, às vésperas das eleições, para garantir alguns votos.
Em 2005, o clube foi comprado pelo milionário russo-israelense Arcadi Gaydamak, acusado, entre outras coisas, de lavagem de dinheiro e tráfico de armas. Com a pretensão política de ser prefeito de Israel, Arcadi investiu pesadamente no Beitar, em troca dos votos de “La Família”, a torcida organizada do clube. Com a derrota na eleição, o milionário – que nunca gostou de futebol – passou a usar o time para viabilizar seus acordos comerciais.
Tentando agradar seus novos parceiros da Chechênia, Gaydamak tomou uma decisão da qual se arrependeria profundamente. A chegada dos jogadores muçulmanos, Dzhabrail Kadiyek e Zain Sadayev, trouxe à tona todo o radicalismo e a violência por parte da torcida.
O filme é um retrato do racismo, da xenofobia, da intolerância religiosa e de tudo que o futebol tem de pior.
Les Bleus: Une Autre Histoire de France – 1996-2016 (Les Bleus: Une Autre Histoire de France – 1996-2016, 2016)
Direção: Pascal Blanchard, Sonia Dauger e David Dietz
(103 minutos) – Veja o trailer
Um amplo panorama dos últimos 20 anos da seleção francesa, partindo do surpreendente surgimento da mais vitoriosa geração; o desprezo dos nacionalistas pela seleção branca-negra-árabe; as crises internas, até o renascimento na Euro 2016.
A fábula da seleção ‘mestiça’ odiada por Jean-Marie Le Pen, que virou mania nacional e ajudou a promover a integração entre franceses e imigrantes, é analisada por atletas, políticos, jornalistas e figuras do mundo do espetáculo. O documentário não deixa de lado a diferença entre patriotismo e nacionalismo, e as grandes transformações sociais da França e de toda a Europa.
Grande trabalho de pesquisa, certamente vai agradar não só aos fãs do futebol, mas a todos que tem interesse nas mudanças sociais das últimas duas décadas.
O Campeão Impossível (El Campeón Imposible, 2016)
Direção: Javier Novoa
(50 minutos) – Veja o trailer
A trajetória da seleção argentina campeã em 1986, no México, é muito semelhante à das eliminatórias da Copa da Rússia. Inicialmente desacreditada, com seu maior craque, Diego Maradona, questionado pelo público e pela imprensa, a Argentina chegou ao mundial completamente desacreditada.
“O Campeão Impossível” analisa profundamente a campanha da seleção argentina, com entrevistas exclusivas dos jogadores e de figuras importantes, como Victor Hugo Morales, o mais famoso locutor esportivo do país, e personagens intimamente envolvidos no gol “A Mão de Deus”, o mais polêmico da história do futebol: o Ali Bennaceur e Peter Shilton, goleiro da seleção inglesa. A participação de Maradona se limita às imagens de suas jogadas. Precisa mais?
Boca Júniors 3D: O filme (Boca Juniors 3D: La película, 2015)
Direção: Rodrigo H. Vila
(108 minutos) – Veja o trailer
“Boca Júniors 3D” bateu todos os recordes de bilheteria e tornou-se o documentário mais visto da história do cinema argentino. O narrador é Funes, personagem fictício, guardião das memórias da torcida xeneize.
Da conquista da primeira Copa Libertadores da América, em 1977, até o gol de Carlos Tévez no Superclássico, contra o River Plate, o documentário tenta dar ao expectador a sensação que sente a torcida no mítico estádio de La Bombonera.
Com depoimentos de ídolos do clube, como o capitão histórico Antonio Rattin, Martin Palermo, Rolando Schiavi, Rubén Suñé, Silvio Marzolini, Ángel Clemente Rojas e até do atual presidente argentino, Mauricio Macri, o filme tenta explicar as razões que fazem do Boca Júniors quase uma religião na Argentina.
O Milagre do Nottingham Forest (I Believe in Miracles, 2015)
Direção: Jonny Owen
(105 minutos) – Veja o trailer
Quando Brian Clough foi demitido pelo Leeds, depois de comandar o time por apenas 44 dias, parecia que seus dias como treinador estavam contados. Quando ele aceitou dirigir o modesto Nottingham Forest, time da segunda divisão inglesa, os críticos proclamaram que ele estava condenado ao esquecimento.
Antes de José Mourinho e Pep Guardiola, existiu Brian Clough, um gênio excêntrico, maluco e mediático. Junto com seu fiel escudeiro Peter Taylor, o técnico conseguiu o inimaginável: fazer o time recém-promovido da segundona ganhar o bicampeão europeu em 2 anos. Na época, o maior torneio europeu era disputado apenas pelos campeões das ligas, o que torna as conquistas do Nottingham ainda mais impressionantes.
Nos anos 70, a floresta de Nottingham deixou de ser a terra de Robin Hood para se transformar no reino de Brian Clough e seu bando.