Confraria do Ônibus: Histórias humanas por meio das máquinas

Encontro de colecionadores e de ônibus antigos, em Pará de Minas, em Minas Gerais, proporcionou um dia inesquecível e uniu o passado com o presente, mas com vistas para o futuro

  • Data: 31/07/2017 10:07
  • Alterado: 15/08/2023 19:08
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Diário do Transporte
Confraria do Ônibus: Histórias humanas por meio das máquinas

Ônibus históricos ajudaram o país a trilhar as rotas do desenvolvimento

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O Grupo Confraria do Ônibus realizou neste sábado, 29 de julho de 2017, o 3º encontro de ônibus antigos e de colecionadores. A edição deste ano ocorreu na cidade de Pará de Minas, em Minas Gerais.

O design dos ônibus antigos, alguns dos anos 1950, demonstra beleza e requinte, mesmo nos veículos mais simples e rústicos: Frisos metálicos, relevos nas latarias, poltronas que se harmonizam com os demais elementos dentro de cada ônibus. Faróis, a maioria arredondados, grades e luminárias …. Tudo em mais perfeito acordo, como se tocassem uma suave sinfonia, que se contrasta com a robustez e, por que não dizer, uma certa brutalidade de veículos projetados para um Brasil que crescia, cortado por vias de terra e atoleiros, transponíveis apenas pela garra e coragem.

Por trás de cada veículo, uma história, diversas lembranças, amigos, famílias e anônimos que escreveram as páginas de um país que deve buscar constantemente o progresso.

A história dos modelos deu lugar às memórias dos personagens que os preservaram. Foi aí que podemos entender: saber quem fabricou o ônibus, as empresas, as marcas, é ótimo, mas o grande barato de eventos como este são os “causos”.
Assim, o ônibus é importante, mas o que vale mais são as histórias de pessoas, de vidas, que esse veículo ajuda a contar.
Não foi possível pelo tempo ouvir todos os expositores, mas por alguns deles, o Diário do Transporte homenageia a todos que, por esse imenso Brasil afora, ajudam a preservar estas memórias.

Um dos destaques do evento foi a empresa Rouxinol, de Contagem e Belo Horizonte: a companhia apresentou três modelos: um Ciferal Papo Amarelo, Ciferal “Rodonave” e um Monobloco Mercedes-Benz 0-355.
A história de como cada um desses ônibus foi comprado revela a paixão do proprietário Júlio César Diniz e dos funcionários pelos transportes.
O Ciferal Papo Amarelo lembra o empresário de um dos primeiros modelos que viajou, bem antes de entrar no ramo dos transportes. A paixão pelo ir e vir das pessoas começa cedo na maioria dos profissionais que atuam neste ramo. Diante disso, Júlio Cézar Diniz fez questão de recuperar esse modelo.
“Eu já me preparava, comprando a passagem bem antes para sentar no banco que fica bem em frente, ao lado do motorista, quando andava neste modelo de ônibus na cidade de Belo Vale (MG). O balanço dianteiro é curto, ou seja, é pequena a distância entre a roda e o parachoque. A roda fica atrás da porta dianteira e o primeiro banco do passageiro colocado ao parabrisa. Para mim era um sonho pensar que estava dirigindo o ônibus. O duro é que às vezes que chegava o padre da cidade, eu tinha de levantar e dar meu lugar. Era costume este respeito aos religiosos, mas eu não gostava” – diverte-se ao relembrar.
O empresário conta que conseguiu o veículo, fabricado em 1966, em um leilão da prefeitura de São Sebastião do Oeste, Minas Gerais, por volta de 2007.
 “O ônibus estava bem prejudicado, com situação bastante precária. Foram necessários quase três anos para reconstruir o veículo. Detalhe: nós na Rouxinol não recuperamos ou restauramos ônibus. Nós os reconstruímos. Em diversos casos, a construção tem de começar a partir do chassi” – revela Júlio Cézar.
Um dos grandes artistas que deixou o ônibus histórico com cara de novo, é o restaurador Geraldo Matoso Januário, experiente no setor de transportes.
Geraldo atuou no sistema da capital paulista a partir de 1965. Trabalhou em empresas como Transamérica, Paratodos, Viação Canaã e Viação Campo Belo. Ele era responsável pela área de funilaria e reparo dos ônibus. Uma de suas lembranças é de ter ido constantemente à sede da encarroçadora Caio, que ficava ainda na Penha, Zona Leste de São Paulo, para comprar peças e discutir técnicas de restauro.
Sobre o Ciferal Papo Amarelo e os demais do acervo da empresa Rouxinol, Geraldo disse que a dificuldade foi grande para tornar os veículos novos de novo.
“Tivemos nós mesmos de fabricar algumas peças os ônibus. Também buscamos pelo país inteiro componentes originais que estavam faltando nos veículos comprados” contou.
O ônibus Ciferal Rodonave, ano 1972, adquirido pelo empresário Júlio Cézar Diniz é o único que se tem conhecimento que foi feito em chassi Mercedes-Benz O-362, customizado com a configuração leito. A história do ônibus guarda também um pouco da memória dos esportes. O veículo foi preparado para transportar a delegação da qual fazia parte a jogadora de basquete Hortênsia na época que atuava em Catanduva, no interior de São Paulo.
Posteriormente, o ônibus foi para empresa RTT – Ramazini Transportadora Turística, de Sertãozinho e Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
O veículo foi adquirido pelo proprietário da Rouxinol por volta de 2010.
Foram necessários em torno de 2,5 anos para reconstrução do Ciferal, que ganhou alguns elementos modernos, como um banheiro completamente novo e ar-condicionado. O motor é OM-366, do OH1620.
O imponente Monobloco O-355 adquirido por Júlio César Diniz é do ano de 1976 e mostra um pouco do tino empresarial do dono da Rouxinol. A compra ocorreu por volta de 2013.
O veículo era de uma pequena empresa de Minas Gerais, que só tinha dois ônibus. O proprietário, apelidado de Totinho, iria vendê-lo para uma banda de música em São Paulo. Mas Júlio Cézar acabou se apaixonando pelo ônibus e negociou bem para comprá-lo.
“O ‘355’ já estava pronto para ir para esta banda. Eu cheguei então para o dono da empresa e falei que pagaria à vista neste ônibus. Argumentei que banda de música hoje está junta, amanhã se separa e estraga o ônibus. Também disse que ele venderia o veículo à prestação e poderia acabar não recebendo caso a banda se separasse. O dono estava pedindo R$ 26 mil pelo ônibus, à prestação. Eu sugeri que o dono fizesse um abatimento para eu pagar à vista. Ele foi falar com a mulher e me surpreendeu a proposta de volta. Eu pensava que ele ia me oferecer por R$ 22 mil ou R$ 23 mil, mas ele disse que à vista poderia repassar este ônibus para mim por R$ 15 mil. Mas na hora não pareci ficar entusiasmado para não passar a ideia para o dono do ônibus que ele estava fazendo um negócio muito vantajoso para mim. Dei mais uma pechinchada e acabei levando o ônibus que antes era de R$ 26 mil por R$ 14 mil.  Mas o ganho mesmo foi pela memória dos transportes porque é caro reconstruir um veículo como esse” – relembra.
O empresário disse que uma reconstrução de ônibus envolve várias pessoas que, além de extremamente profissionais, devem ser apaixonadas pelo setor de transportes. Júlio destaca a equipe que ajudou a reconstruir os veículos: Geraldo Matoso, Vitor Oliveira, Geraldo Jorge, José Carlos dos Santos, Rildo Antônio Fernandes Andrade, Júlio Pereira dos Santos e Leonardo Costa dos Santos.
Em breve mais um modelo histórico deve ser colocado “de volta à vida”. Bastante deteriorado, chegou a um dos pátios da Rouxinol, um Ciferal ano 1957 de Natal, no Rio Grande do Norte. Como nos outros, o trabalho também será longo e bem detalhista.

Somente o acervo do empresário Dejair Goretti já seria suficiente para fazer um evento de resgate à memória dos transportes. Atualmente, o responsável pela empresa de linhas urbanas chamada Goretti Irmãos, de Juiz de Fora, em Minas Gerais, e dono da reformadora de ônibus Degil, possui 12 modelos de diferentes épocas, restaurados. Alguns, verdadeiras raridades.
A paixão de Dejair vem de berço. O pai dele atuava desde 1953, na Viação Vera Cruz, de Juiz de Fora. A companhia começou a operar também em Belo Horizonte, onde já existia outra empresa de ônibus com o nome de Vera Cruz. Assim a razão social mudou para Goretti Irmãos.
Desde muito novinho, Dejair já frequentava garagens de ônibus e se apaixonava com o porte dos veículos.
Um dos veículos mais raros é um ônibus da encarroçadora Gevasco – Geraldo Vasconcelos Carrocerias, que ficava na Rua Santa Maria, 61 em Belo Horizonte/MG – uma produtora de carrocerias de ônibus local. O veículo é de 1960 e estava abandonado.
Atualmente, o empresário Dejair Goretti tem em seu acervo:
– Chevrolet Bela Vista (1972)
– Cirb (1964)
– Caio Gabriela I (1975)
– Caio Bela Vista (1971)
– Monobloco Mercedes-Benz O-321 (1966)
– Cermava (1970)
– Ciferal Cisne (1961)
– Ciferal Flecha de Prata (1964)
– Gevasco (1960)
– Chevrolet Carroceria GM (1951)
– Carbrasa (1970)
– Ciferal Papo Amarelo (1967)
Dejair Goretti contou que inicialmente, quando começou a reformar os ônibus antigos, com primeiro modelo Chevrolet Bela Vista, o objetivo era movimentar a reformadora para não desempregar os funcionários em anos de baixa procura e que tinha intenção de vender os ônibus. Mas a paixão ficou falou mais alto e hoje os veículos fazem parte de um dos mais interessantes acervos de ônibus antigos de Minas Gerais.

Os irmãos Antônio Carlos Morais Teixeira e Alfeu Morais Teixeira sempre foram apaixonados por empresas de transporte. Proprietários da empresa Irmãos Teixeira, que atende a partir de Divinópolis, em Minas Gerais, eles também são de berço dos transportes.
A Irmãos Teixeira tem origem em 1951 ajudando a desenvolver as regiões de Venda Nova, Dom Silvério e João Monlevade, em Mina Gerais.
O primeiro veículo do acervo foi o Ciferal Flecha de Prata ano 1974, mas ainda com grades no estilo da década de 1960. Sobre chassi Mercedes-Benz LP 321, o veículo foi comprado em 2010
O ônibus ia ser desmanchado em um ferro-velho de João Monlevade. O restauro foi criterioso, mas valeu a pena. O modelo marcou a infância dos irmãos.
Já o segundo veículo foi um verdadeiro achado. O Monobloco Mercedes-Benz O-355, ano de 1978, foi adquirido em 2011 pelos irmãos em perfeito estado. Para se ter uma ideia, o ônibus de 33 anos quando foi comprado pelos Teixeira tinha pouco mais 50 mil km rodados.
É que este ônibus pertencia ao Sesc e não era muito usado. Apenas para levar estudantes e esportistas em trajetos curtos. O ex-lanterneiro da empresa, apelidado de Zequinha, foi chamado pelo Sesc para fazer um reparo no ônibus. Quando viu o estado do veículo logo telefonou para Antônio Carlos Morais. O empresário por sua vez tentou comprar diretamente do SESC, mas por se tratar de uma entidade, o veículo foi a leilão, sendo arrematado pelo empresário.
“O veículo ficava guardado num galpão, bem protegido, só precisei pintar nas cores da Irmãos Teixeira e colocar a banda branca nos pneus. Praticamente foi um ônibus novo de mais de 30 anos que compramos” – relata Antônio Carlos Teixeira.

Os veículos antigos, se preservados, têm alma, têm história e servem também para prestar tributos. É o caso de um Ciferal Papo Amarelo, ano 1964, sobre chassi Mercedes-Benz LP 321, que pertence ao comerciante Silvestre Fialho.
O ônibus operou pela empresa Auto Viação 1001, uma das maiores do país, entre 1964 e 1976.
Em 1976, foi comprado por Homero Fialho, pai de Silvestre, que tinha a empresa HF Transportes. A companhia fazia serviços de fretamento nas regiões de Contagem e Belo Horizonte.
Como estava em boas condições, seu Homero fez pouquíssimas modificações no veículo, que operou até 1992, mas sem sair da propriedade da família.
Silvestre preferiu não alterar o veículo, mantendo as mesmas configurações. O ônibus tinha número de ordem 144 na 1001. Igual a este veículo, só existe outro exemplar hoje que se tenha conhecimento, o 139 que faz parte do acervo da companhia que tem sede no Rio de Janeiro.
Entre os clientes de Homero, estava a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, um dos mais arrojados projetos de desenvolvimento de Minas Gerais, que contribuiu para o crescimento do País, concretizado após a visita do rei Alberto I, da Bélgica ao Brasil, em 1920.
Homero também fazia viagens esporádicas, como para serviços de buffet. Nesse caso, ele aproveitava a saída de emergência, que fica na lateral esquerda do ônibus, retirava os últimos bancos e utilizava essa saída como porta para colocar os produtos do buffet, como bebidas e comida. Os garçons iam do meio para frente do ônibus.
Silvestre lembra que o pai dizia que na época, a 1001 vendeu dez ônibus desse lote. O pai comprou o último, ou seja, o veículo que não foi escolhido pelos primeiros interessados. Mesmo assim destaca o bom estado de conservação durante a aquisição e o bom rendimento do motor para o peso da carroceria.
Silvestre não atua no ramo de transportes, mas nem por isso deixa de gostar de ônibus e faz questão de manter o veículo, que está com a família desde 1976, em homenagem ao pai um dos batalhadores do setor na região.
Outro colecionador que tem motivos de sobra para restaurar um veículo é o empresário Roberto Santana, do Grupo CSC Transportes, que atua no estado nos segmentos urbano, fretamento e intermunicipais. Santana comprou um monobloco da Mercedes Benz O-321, o primeiro ônibus do gênero da marca do Brasil. O pai trabalhou no setor de transportes, chegou a deixar o ramo, mas com a participação da família acabou retornando para o segmento.
O Monobloco O-321 ainda está em processo de restauração. O veículo estava no interior de São Paulo, bastante surrado e era ainda usado para trabalhos. Um dos objetivos de Roberto é mesclar uma pintura atual com uma antiga para dar uma impressão de evolução da história pela arte na carroceria.
Anderson Torquato é o típico profissional apaixonado pelo que faz. Tanto é que decidiu transformar sua paixão numa coleção. Desde criança, a exemplo de muitas pessoas, inclusive as que nem se ligavam tanto em ônibus, admirava os imponentes veículos da Viação Cometa, inspirados no GM-PD 4104 norte-americanos, inicialmente chamados Dinossauros, quando eram produzidos pela Ciferal até 1982, e depois Flechas Azuis, quando já eram fabricados pela própria Viação Cometa.
Entre os anos de 2007 e 2008, Anderson trabalhou na Cometa como motorista, mas a paixão foi além.
No ano em que a Cometa comemorou 65 anos de fundação, em 2013, comprou de um amigo que utilizava o ônibus para serviços de fretamento, o Flecha Azul VIB, que vinha já de fábrica com ar-condicionado e configuração leito. O ônibus é ano 1997 e encerrava a histórica série dos Flechas.
O Flecha Azul seria o primeiro da realização de um sonho. Em julho de 2015, Anderson Torquato comprou de uma empresa o Estrelão prefixo 7728 que pertenceu à Cometa. Segundo Torquato, foi o último veículo produzido integralmente dentro da Viação Cometa. Os dois últimos modelos de prefixos 7729 e 7730 começaram a ser feitos nos galpões da empresa de ônibus, mas foram finalizados na encarroçadora Marcopolo, em Caxias do Sul.

Assim o veículo que Andersom tem, guarda a história de ser o último exemplar com DNA 100% da Cometa. Nos galpões da empresa eram desenvolvidos estilos e soluções que se inspiraram no mercado internacional e, muitas delas, foram seguidas pela indústria dentro do País.

Wanderlei Roberto Braz sabe como é o dia a dia no setor de transportes, por já atuar há bastante tempo e também por exercer diversas funções. Ele começou nos anos de 1980 como motorista de ônibus. Por 15 anos atuou também no segmento de vendas de ônibus. No seu currículo, constam nomes como Viação Cometa, Itapemirim, Gontijo e PossaTur.
No entanto, nada como sentir o gosto de ter um veículo. Foi assim que adquiriu um Marcopolo Veneza I sobre chassis Mercedes-Benz OF-1113, ano 1976. O veículo sempre pertenceu a Transete, da cidade de Sete Lagoas, do grupo Turi. O ônibus estava oito anos parado e precisou de restauro. Hoje o ônibus é mantido pelo grupo da empresa Pássaro Verde.
Outra raridade que também estava sob os cuidados de Wanderlei e Wanderson Filomeno na exposição era o Veneza II, uma geração posterior, pertencente à Viação Oliveira.  O ônibus é ano 1978 e também está sobre chassi Mercedes-Benz OF-1113. O veículo pertenceu a Apae  e estava relativamente em boas condições, quando foi comprado, mesmo assim, teve de passar por algumas intervenções.
No que depender dos colecionadores, outros modelos urbanos, que são raros de ser preservados, devem passar por restauração e perpetuar o desenvolvimento dos transportes nas cidades.

Os anos de 1990 começaram a representar novos paradigmas que surgiram nos transportes urbanos. Os ônibus tinham de ser ainda mais espaçosos, confortáveis e seguros. Neste contexto, foi um marco o Volvo B58, com motor no meio, que esquentava menos o salão dos passageiros e diminuía o ruído interno, já que ficava em posição sob o assoalho. O modelo, com carroceria Busscar, ano de 1994, foi outro destaque na mostra. O veículo foi comprado 0 km pela empresa Viação São Gonçalo, que atua em Contagem e Belo Horizonte. Ficou operando por mais de dez anos até entrar para o acervo da empresa. Além da qualidade do acabamento, o corredor largo, as janelas que ampliam a visibilidade e deixam o interior mais claro, chamam a atenção no veículo.
O responsável pelo veículo na exposição era o motorista Walmir da Silva Pereira, que atua no setor de transportes desde 1978. Trabalhou em empresas como Expresso Radar, começando com 14 anos de idade, ainda como cobrador e indo para empresa Veneza. Saiu do ramo por um período, mas retornou em 1993 na São Gonçalo. Walmir contou que viu de perto a evolução dos transportes, mas também acredita que em alguns aspectos houve retrocesso.
“Hoje os ônibus estão muito mais modernos, as linhas mais organizadas, mas o que sinto é que o nível de educação das pessoas tem caído. Tem passageiros muito educados, mas o número de gente estressada, sem educação, cresceu bastante e isso é uma pena” – conta.

Sabe aqueles momentos que aparece a pessoa certa na hora certa? É o que ocorreu com um exemplar raríssimo de um Chevrolet C68, ano 1973, que recebeu uma carroceria Caio modelo Jaraguá.
Para ter uma ideia da preciosidade do veículo o modelo é movido à gasolina e foi feito para transportar estudantes, tanto é que do lado esquerdo, o banco é mais largo cabendo três crianças e do lado direito, a fileira de banco de duas crianças. A capacidade era para 41 estudantes, no tamanho hoje muito parecido aos micro-ônibus que levam, no máximo, 29. O ônibus pertenceu ao colégio São Judas Tadeu, da Mooca, na capital paulista e ficou abandonado por 25 anos ao relento. O segundo dono queria recentemente transformá-lo em posto móvel de apoio para um grupo de viajantes de motos Harley-Davidson.
O atual proprietário, que pediu para não ter o nome divulgado, entendeu que seria um desperdício desconfigurar para mais tarde destruir um ônibus. Diante disso, ele adquiriu o veículo há cinco anos.  O proprietário destacou que o ônibus nunca foi restaurado. Está todo original, só houve limpeza e pequenos reparos. Mas não eram apenas os expositores que tinham muita história para contar. A cada bate-papo, lembranças e novos conhecimentos.

O empresário Edward Moreira atua no ramo desde 1972. Seu primeiro veículo foi um ônibus Ciferal com motor dianteiro, fazendo transportes em Minas Gerais. Edward foi aproveitando e criando oportunidades e cresceu junto com os transportes. Foi dele um dos primeiros Monoblocos O-355, da Mercedes-Benz, ônibus de alto padrão para os anos 1970, no Estado de Minas Gerais.
Dono da Transmoreira, Rio Negro e Boa Viagem, chegou a ter 650 ônibus.
“Depois de 1992, quando o presidente Fernando Collor chamou o carro brasileiro de carroça, comecei a perceber que até mesmo os veículos mais simples começaram a evoluir. Antes, para ter um ônibus bom, tinha de comprar o mais caro e luxuoso. Essa foi a evolução. O aspecto negativo da história, sinto que ocorre hoje. O transporte coletivo está perdendo passageiros. As passagens são caras e não cobrem custos. O coletivo precisa de prioridade de verdade.”

Augusto Antônio dos Santos, hoje com 71 anos, pode ser considerado uma história viva dos transportes. Ele atuou em diversas empresas de ônibus, dos mais variados portes, e trabalhou no projeto Tribus, da Itapemirim, que criou nos anos de 1970 o primeiro ônibus de três eixos original brasileiro.
 “Logo depois de me formar, em 1973, fui trabalhar na Itapemirim. Eu era responsável pelo desenho para confecção das peças da lateral dos ônibus Tribus, especificando as prensas, medidas e encaixes. Trabalhei com Camilo Cola [fundador da Itapemirim], um verdadeiro visionário. Muitos o criticaram pelo projeto Tribus. Hoje é possível ver o ônibus de três eixos em qualquer parte do Brasil, inclusive nos modelos urbanos” – destaca.
A paixão de Augusto é antiga. Ele lembra que em Niterói estudava num colégio interno e, na tarde, quando tinha as horas livres, em vez de ficar brincando com as outras crianças, ia para o ponto de ônibus ver as jardineiras Grassi, em Niterói. A Grassi foi a primeira empresa encarroçadora industrial de ônibus no Brasil e tinha sede na cidade de São Paulo.
Da contemplação nos pontos de ônibus, o passo seguinte foi aos 7 anos de idade começar a desenhar os veículos. Havia muitas lotações na época – ônibus com frente de caminhão e menores que os veículos de transporte coletivo convencionais. Com esta idade, já identificava as cores e os nomes. Depois de desenhar, recortava e montava espécies de miniaturas de papel para brincar. Também passou a anotar linhas, horários e nomes de empresas.
Quando tinha 12 anos de idade pegou emprestada do primo uma máquina fotográfica. Hoje seu acervo é um dos maiores do Brasil. Augusto está digitalizando o material e, com ajuda do jornalista Bruno Freitas, relatando as especificações para não deixar esta parte da história dos transportes ser perder.

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Crédito: Ônibus históricos ajudaram o país a trilhar as rotas do desenvolvimento
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  • Data: 31/07/2017 10:07
  • Alterado:15/08/2023 19:08
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Diário do Transporte









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