Trabalho – A Guerra entre Dois Mundos
É preciso saber trabalhar. É preciso saber render. O trabalho enobrece o homem. O trabalho enriquece o homem. Mas não no Brasil. E por quê? Pelas Barbas do Profeta!
- Data: 29/11/2016 20:11
- Alterado: 29/11/2016 20:11
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Paulo Porto é roqueiro do ABC. Músico, Compositor, Pesquisador Cultural e Advogado
Sou advogado e atuo, direta e indiretamente, na área trabalhista desde os 14 anos de idade. Já gerenciei o RH de empresas com mais de 3.000 mil funcionários. Já negociei direitos e conquistas trabalhistas, greves e tal. Sou do ABC, e atuei no maior polo industrial que o Brasil já viu. Em PIB, já vi São Caetano em 1ª, São Bernardo em 14ª e Santo André em 25ª maiores cidades do País concomitantemente.
Eu gosto de história. E conheci o poder da indústria com meu pai, um peão, líder sindical dos anos 70, que contribuiu para a máxima de que o trabalho enobrece o homem e a verdade de que o justo trabalho produz dignidade humana, apesar da vida capitalista. Bons tempos… Históricos tempos… A história do Brasil passou nele. Ele tem uma página lá. O reflexo dessa história produziu até um Presidente em nossa República, como sabemos.
Mas quem gosta de história, como eu, tem o devido distanciamento do homem em si, para o que parece ser mais importante: suas conquistas, como coletividade. Para a história! Afinal, a vida humana é muito curta, diferente da vida do homem inteligente, que se arrasta por essas terras há, pelo menos, 12.000 anos.
É preciso saber trabalhar… Porque assim nos fazemos dignos. O capital, por outro lado, desde o fim da escravidão no Brasil, segue em sua luta em busca produzir novos meios de manter o povo escravizado, para melhor consecução de seus objetivos. Mesmo depois da Lei Áurea, que em 1.888 cavou o fim da Monarquia, culminando com a República. Fomos o último País independente das Américas a abolir a escravatura.
E, um ano e meio depois, o Brasil era república. E nossa Princesa Isabel, mesmo sabendo do iminente risco da perda de seu reinado, a fez…
Junto com ela, nasceu a saga da fúria capitalista para o conceito de que uma empresa deve perseguir seu lucro. Mas não apenas o seu lucro, mas o máximo deles…
Pretos sem sapatos e imigrantes europeus e do mundo eram os subviventes da vez. Denegados explorados após a abolição. Mas uma constante luta pela correição e pela dignidade dessas pessoas humanas fez destes homens – dignos de si mesmos – os algozes da vida fácil de seus exploradores, inconformados em partilhar igualdades…
E a saída para a manutenção exploratória foi o sufrágio feminino que, em 1932, deu às mulheres o direito de votar e de se integrar à vida econômica, no entanto, a um preço: substituir o trabalho do homem em várias funções, com rendimentos iguais ou menores ao de um escravo. E elas foram! Tudo pela conquista da igualdade.
As lutas se seguiram e as mulheres, com rasas conquistas – essas mais voltadas à dignidade e nem de longe em igualdade de direitos – já fez suficiente o torcer de nariz dos senhores do capital que contra-atacaram novamente, com os patrões passando a explorar o trabalho infantil em muitas áreas, principalmente no campo – onde famílias inteiras eram recrutadas para o trabalho na terra conforme o número de enxadas que possuíam, significando que todos deviam trabalhar em troca de sobrevivência…
A sociedade civil seguiu atrapalhando o “máximo lucro” de seus patrões e, nos anos 70, movimentos grevistas e tal, segurança no trabalho e tal, participações em lucros, o Pacto de San José (direitos humanos), etc., afastaram um pouco a exploração infantil e aproximavam os direitos entre homens e mulheres, ocasião em que surgiu, então o conceito “terceirização”, onde as atividades “meio” de uma empresa reduziram novamente o ganho da mão de obra, dando ao patrão, a conservação dos devidos ganhos dentro do “máximo lucro”.
Mas a força trabalhadora seguiu sua luta, buscando igualar os salários de estrangeiros, brancos e negros e das mulheres (crianças na escola), ao passo que os dominadores das muitas seções cotidianas, arroxados pela força do homem, inovassem novamente na contenção dessa disputa pela igualdade, pela dignidade humana: Veio a Globalização, onde escravos do mundo produziam nossas inventadas necessidades…
E a fim de minimizar os riscos de uma nova superação da massa, outra novidade conjunta: robôs! Eu, propriamente, ouvi de um Diretor de RH de uma multinacional americana à época que, em uma ala de 800 funcionários, 04 restariam, apenas para controlar robôs e que isso era essencial para a existência da própria empresa.
Os homens, brancos ou negros, as mulheres, brancas ou negras, todos àqueles que buscam os espaços tomados para a sua própria vida, novamente estão em xeque… Como condição para a qual não há outra. Mas mesmo assim, a luta segue… É o que há de se fazer…
E, de mesmo modo, tenho que essa luta do capital pelo capital sempre me deixou indignado… Desde lá, do longínquo período escravocrata… No entanto, no meio desse ardoroso caminho, vi outras piores inovações – novos abutres – que me fazem não culpar exclusivamente os senhores do poder do dinheiro, sem, no entanto, fazê-los de vítima.
E veja só: em 2013, o IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação), trouxe-nos a notícia de que, esses senhores do capital, ao distribuir um lucro de 322 bilhões, tiveram que entregar aos governantes de nosso País um total de 1,46 trilhões. Sabem o que é isso? Para cada R$ 1,00 ao bolso de um empreendedor “capitalista e explorador”, R$ 4,54 ficam ao Estado. A fonte é do jornal Correio Braziliense, de 04/09.
E esse é o tributo que o País cobra pelo seu trabalho. Pela luta de mais de 120 anos que brancos, negros, amarelos, sejam homens ou mulheres, dessa terra ou de outra, travam por dignidade humana. Por igualdade. Por felicidade… Por vida…
Eu sei que a busca pelo máximo lucro tira do homem mais do que o homem pode dar… Sei que tira da terra, mais do que a terra pode dar… Eu sei que eles são como vírus, que degradam e, assim, buscam outras terras… E sei que seu impacto é 20% maior do que a capacidade dessa própria terra se regenerar… Eu sei…
Mas destruímos uma monarquia (certa ou errada) de um Rei que falava 23 idiomas, dos quais, 17 fluentes; que apoiou projetos como a invenção do telefone; que nos trouxe a fotografia; que financiou artistas brasileiros pelo mundo; que trouxe à luz de nossas vidas pessoas como Sigmund Freud e Allan Kardec; esse cara, ainda, nos deu a filha que aboliu a escravatura, mesmo sabendo que seus dias estavam contados… Para sermos uma República…
Mas para debatermos o sim e o não da hipocrisia? Se nossa luta é para a liberdade e igualdade, precisamos saber olhar para o outro lado do mundo e enxergar melhor quem são todos aqueles que ainda conseguem subverter-nos para seus próprios interesses. Com mais consciência, entender quem exatamente está do outro lado travando e alimentando essa batalha que se faz em dois mundos.
Certa vez, ouvi de um atrevido candidato à Presidência da República, o falecido Enéas (meu nome é Enéas!), sobre dignidade e o sentido da vida, em especial no trato da coisa pública: “Quando eu não me sentir mais útil, quando eu sentir que estou pensando só em mim mesmo, eu não tenho mais o direito de estar vivo”… Me fez pensar que devemos, pois, ser úteis e que devemos aprender a ver nossas vidas de forma mais ampla, pelo menos por 03 gerações… Não apenas como quem gosta de história… Mas como quem quer delas, também um final feliz…