Braço forte
A nadadora Joanna Maranhão critica a corrupção e os políticos brasileiros
- Data: 06/07/2015 08:07
- Alterado: 06/07/2015 08:07
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Jogos Cariocas
Aos 28 anos, a nadadora pernambucana Joanna Maranhão é uma das esperanças do Brasil para as Olimpíadas de 2016. Experiência não falta. Em Pan-Americanos, levou uma medalha de bronze em Santo Domingo, em 2003, outra de bronze no Rio de Janeiro, em 2007, e duas de prata e uma de bronze em Guadalajara, em 2011. Participou das Olimpíadas em Atenas, Pequim e Londres, mas não conquistou medalhas. Em 2008, aos 23 anos, virou notícia fora das páginas de Esportes, ao revelar que foi molestada sexualmente por um ex-treinador, aos 9 anos de idade. “É comum que a vítima se cale e guarde aquilo para si, porque a experiência é tão dolorosa que verbalizar se torna reviver”, explica Joanna, que criou em 2014 na cidade de Recife, onde nasceu, uma ONG dedicada ao combate à pedofilia.
No início de 2014, anunciou a aposentadoria, mas voltou a nadar seis meses depois pelo Pinheiros, na capital paulista, onde mora atualmente. “Achava que estava sendo conivente com as coisas erradas no esporte, mas com ajuda da terapia fui vendo que seria injusto abrir mão dos meus sonhos por conta dessas pessoas antiéticas e corruptas”, justifica. Às vésperas de embarcar para o Pan de Toronto, publicou um vídeo em seu perfil no Facebook se posicionando contra a aprovação da redução da maioridade penal – o que lhe rendeu uma série de mensagens hostis nas redes sociais. “Estou muito triste. Não estarei representando no Pan os que batem palmas para Feliciano, Bolsonaro, Eduardo Cunha, Malafaia, Daniel Coelho e o pessoal que votou a favor da redução da maioridade penal”, avisa.
Jogos Cariocas – Seu vídeo sobre a redução da maioridade penal já teve quase dois milhões de visualizações e 46 mil compartilhamentos. Por que resolveu publicá-lo?
Joanna Maranhão – Foi um desabafo. Vejo essas manobras criminosas que Eduardo Cunha tem feito no Congresso e sinto um desgosto muito grande. Não sou a favor da redução da maioridade penal. Não há dados que provem que isso irá reduzir a violência. A torcida de quem votou pela redução da maioridade penal eu não faço questão nenhuma de ter. Vou competir em Toronto pelas outras pessoas, as que saem do próprio interesse para tratar os verdadeiros problemas.
Jogos Cariocas – O Pan de Toronto e o Mundial de Kazan são eventos que garantem vagas para as Olimpíadas. Como vê suas chances de estar nos Jogos do Rio?
Joanna Maranhão – Eu já me vejo lá. Trabalho todos os dias enxergando o que quero fazer no Rio. Competir “em casa” tem dois lados. Depende de como cada um vai encarar. Eu vou achar o máximo. Se curti competir os Jogos Pan-Americanos de 2007 no Rio de Janeiro, imagina nas Olimpíadas? Lógico que vão existir pessoas comentando coisas negativas, subestimando nossos esforços. Mas, particularmente, isso não me atinge.
Jogos Cariocas – Como avalia a organização do evento?
Joanna Maranhão – Prefiro não entrar nesse mérito. Parei de nadar por seis meses porque achei que não teria condições de representar meu país tendo conhecimento dos absurdos. Pensava que, se fosse representar o Brasil, eu seria como os políticos que superfaturam obras, atrasam e fazem do esporte uma coisa suja. Mas na verdade eu não sou. Sou uma atleta esforçada, representando meu país e as pessoas que são honestas.
Jogos Cariocas – Em 2012, inspirada em sua denúncia, foi aprovada uma lei – batizada pelos próprios parlamentares de “Lei Joanna Maranhão” – que estabelece que o prazo de prescrição de abuso sexual de crianças e adolescentes seja contado a partir da data em que a vítima completar dezoito anos. Fale sobre isso.
Joanna Maranhão – O “modus operandi” do pedófilo é sempre o mesmo: conquista a confiança da criança, da família da criança e só depois inicia os abusos. A criança pensa: “quem vai acreditar em mim?”. A gente sente nojo de si mesma, algumas são ameaçadas se contarem… A lei vem para que a vítima não tenha que falar até que se sinta pronta e segura. Mas a lei é apenas o primeiro de muitos passos que precisam ser dados.
Jogos Cariocas – Como funciona a sua ONG Infância Livre?
Joanna Maranhão – Atendemos crianças que sofreram abusos e precisam de psicólogos, advogados e doações. Também fazemos campanhas em datas especiais e palestras para crianças e para quem trabalhe com elas, a fim de prevenir futuros abusos. É muito difícil identificar um pedófilo. Então, buscamos alertar os pais e quem trabalha com crianças, além de ensinar às crianças o que é um carinho permitido e o que é abusivo.