Vida em jogo

A bocha adaptada deu nova dimensão à existência do bicampeão paralímpico Dirceu Pinto

  • Data: 18/05/2015 10:05
  • Alterado: 18/05/2015 10:05
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Jogos Cariocas
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O caminho não foi fácil. Aos 12 anos, o paulista Dirceu Pinto notou que a caminhada de uma hora que fazia entre a o sítio onde morava e a escola, em Mogi das Cruzes, causava dores nas pernas e nas costas. Foi diagnosticado como portador de distrofia muscular de cintura. “No início, meus pais só me disseram que eu tinha que fazer fisioterapia, natação e hidroterapia, e tomar alguns remédios para aliviar as dores”, relembra Dirceu. Nos dez anos seguintes, sua vida se resumiu a estudar e fazer tratamentos para retardar o enfraquecimento da musculatura. Até que um professor o convidou para uma partida de bocha adaptada. Foi paixão à primeira vista. “Antes, não tinha vida social, só fazia terapias. A bocha veio para mudar minha vida”, avalia o atual bicampeão paralímpico, vencedor nas provas individuais e em dupla de Pequim-2008 e Londres-2012.

Aos 34 anos, Dirceu coordena o Centro Municipal de Paradesporto de Mogi das Cruzes. “Em 2008, quando voltei de Pequim com as medalhas de ouro, a Prefeitura me chamou para montar um projeto para tirar as pessoas com algum tipo de deficiência de suas casas e reintegrá-las à sociedade através do esporte”, explica. Atualmente, o Centro reúne cerca de 350 paratletas, de 13 modalidades esportivas diferentes. “Muitos com resultados expressivos e vários se preparando para as Paralimpíadas do Rio”, ressalta Dirceu, que também vive a imensa expectativa de disputar os Jogos de 2016 em seu próprio país.

Jogos Cariocas – Como se joga a bocha adaptada?
Dirceu Pinto – Minha classe é a BC4, onde os competidores têm comprometimento nos quatro membros, mas conseguem lançar a bolinha na quadra e movimentar a cadeira sem ajuda. São 6 bolas vermelhas, 6 bolas azuis e 1 bola alvo, que é branca. Quem ganha no “cara ou coroa” lança a bola branca na quadra e depois lança a vermelha o mais próximo possível da branca, de preferência encostando nela. Então o árbitro autoriza o competidor com as bolas azuis a jogar, e ele tenta afastar a bola vermelha e encostar a azul mais perto da branca. Enquanto uma bola azul ou vermelha estiver pontuando, quem está mais distante da branca joga até sua bola ficar mais próxima da branca ou acabarem as bolas. É um jogo de estratégia. Ganha quem fizer mais pontos durante os quatro sets. Se empatar, disputa-se um “tie break”. 

Jogos Cariocas – Quais foram seus momentos mais emocionantes, dentro do esporte?
Dirceu Pinto – Nas Paralimpíadas de Pequim, em 2008, eu fui apenas para participar, talvez tentar um bronze nas duplas. Mas acabei com duas medalhas de ouro. Foi arrepiante subir no pódio e ouvir o hino do Brasil tocar. Não consegui segurar a emoção. É um momento que não tem como explicar com palavras. Também foram marcantes os dois ouros no Mundial de 2010, em Lisboa, e os dois ouros nas Paralimpíadas de Londres, em 2012, que me renderam o título de bicampeão paralímpico.

Jogos Cariocas – Como está a trajetória desse ano até as Paralimpíadas de 2016?
Dirceu Pinto – Faço parte de um projeto do Comité Paralímpico Brasileiro e da Associação Nacional de Desporto para Deficientes, visando os Jogos Rio 2016. Também estou no Time Nissan e no Time São Paulo Paralímpico, que ajudam atletas com potencial para as Olimpíadas do Rio. Este ano, temos em julho os World Open Games, em Seul, e em agosto os Parapanamericanos de Toronto. As duas competições servem como preparação para 2016.

Jogos Cariocas – Qual a sua expectativa para as Paralimpíadas do Rio?
Dirceu Pinto – Vejo as mudanças acontecendo, as construções sendo feitas, os ginásios, estádios, a Vila Olímpica e Paralímpica, os centros de treinamentos… A expectativa só aumenta. Sei que não vai ser fácil. Mas, se Deus quiser, vou trazer mais dois ouros para o Brasil. Todo os dias me pego com minha imaginação voando, como se já estivesse nos Jogos de 2016…

Jogos Cariocas – O que pode ser feito para dar melhores condições aos paratletas brasileiros?
Dirceu Pinto – Falta um projeto para que os paratletas possam se dedicar integralmente ao esporte e, quando pararem de competir, tenham a segurança de uma aposentadoria. Assim, poderiam se preocupar só com os estudos e os treinos. Enquanto estão conquistando medalhas, tudo bem. Mas, quando não conseguem mais bons resultados, perdem todo o apoio. Conheço gente que dedicou sua vida ao esporte paralímpico e hoje não tem condições de sobreviver.

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Crédito:Arquivo pessoal Entrevista com Dirceu Pinto
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  • Data: 18/05/2015 10:05
  • Alterado:18/05/2015 10:05
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  • Fonte: Jogos Cariocas









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