8/1: Cerimônia alusiva aos ataques a esplanada não terá Bolsonaro em Brasília, mas deveria?
Governo prepara evento para autoridades em Brasília para 1º ano alusivo ao 8/1, mas em outro multiverso existe uma clara distorção de imagem do que se entende como patriota, esse de se vestir como um brasileiro que ama verdadeiramente a sua nação
- Data: 05/01/2024 07:01
- Alterado: 05/01/2024 16:01
- Autor: João Pedro Mello
- Fonte: ABCdoABC
Manifestantes invadiram o Congresso, STF e Palácio do Planalto
Crédito:Marcelo Camargo/Agência Brasil
Para marcar a data em alusão aos atos depredatórios do 8 de janeiro de 2023, — quando grupos de radicais insatisfeitos com o resultado das eleições, invadiram as sedes dos Três Poderes, causando danos irreparáveis ao patrimônio histórico nacional —, o governo vem se preparando para relembrar os acontecimentos do dia 08 de janeiro, com a realização de uma cerimônia simbólica, em Brasília.
O que certamente não causa surpresa a ninguém, é a ausência do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), que muito embora tenha residência (alugada) em Brasília — bancada pelo dinheiro do Partido Liberal (PL), uma das benesses que Valdemar da Costa Neto (PL) prometidas ao ex-presidente, — já fez questão de afirmar a pessoas próximas que seguirá em Angra do Reis (RJ).
A solenidade, deve trazer aproximadamente 500 presentes, entre autoridades, além é claro, da presença do presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva (PT), sua base aliada e representantes da sociedade civil, entretanto, em um primeiro momento, não se espera a presença de governantes da oposição ao presidente petista, o que traria uma saia justa desnecessária de explicar aos seus respectivos partidos e correligionários.
Quando o patriotismo encontra asilo na miopia de um desesperado
Com a proximidade da data que marcou os atentados do 8 de janeiro, começam a pipocar falas dos protagonistas daquele dia fatídico, como a recente fala do Ministro do Supremo, Alexandre de Moraes que revelou séria preocupação em meio aos desdobramentos dos episódios ocorridos minuto a minuto, frente as possibilidades de planos que atentavam contra a sua vida.
Havia três planos como destaques, sendo que, no primeiro se planejava um encarceramento, tendo como objetivo sua remoção e escolta para Goiânia. Logo, em um plano subsequente, a ideia era de retirar sua vida e deixar seu cadáver no caminho da capital de Goiás. E finalmente, o terceiro e mais macabro dos planos, funcionaria da seguinte maneira: enforcar o ministro e expor seu corpo no meio da Praça dos Três Poderes. É triste e pesado para que não se diga o mínimo, e mais: nunca a expressão “enforcamento em praça pública” fez tanto sentido, ou ao menos, quase.
Pois é esse tipo de atrocidade, que definitivamente causa a pior de todas as dissonâncias quando alocamos na mesma sentença, pessoas vestidas de verdade-amarelo, somado a palavra “patriota”. Não parece fazer o menor sentido. E não faz mesmo. E pensar que, recentemente no estado do Rio Grande do Sul, teve parlamentar que tentou emplacar uma medida que buscava tornar nesta mesma data uma espécie de celebração, chamando-a de “Dia do Patriota”.
A proposição teve a autoria do então vereador Alexandre Bobadra (PL), que já estava quase cassado — por abuso de poder econômico, relativo à concentração de recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha de sua legenda —, e como último movimento, dia 08 de agosto, o parlamentar resolveu parir uma lei que instituiu um “aborto da natureza”, ato que felizmente foi revogado três dias após, pela Câmara de Vereadores de Porto Alegre.
Quanto mais se aproxima a data, mais recordamos de cenas que nem sempre gostaríamos lembrar. Ontem, também tivemos a fala da deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP), afirmando que pretende ignorar a solenidade simbólica que marca um ano dos ataques a esplanada, mas faz pouco mais de um ano, — e jamais esqueceremos —, (d)aquela cena quase “edificante”, vista numa figura pitoresca correndo de verde-amarelo com uma pistola na mão em plena (rua), em meio aos pedestres, sem porte de arma, na véspera do pleito eleitoral. É o famoso, se não fosse cômico seria trágico, pois, por “muitíssimo” pouco, não foi. Ela corria atrás de um homem (negro, é bom que se diga), depois tentou registrar queixa alegando que o rapaz tentou intimidá-la com um empurrão, fato após desmentido através de câmeras de segurança das ruas.
Evidentemente, não poderia faltar duas figuras mais que pitorescas do dito “patriotismo divino”, eu diria. Primeiramente, um falso podre, digo, “padre”, acompanhado por outro correligionário de Bolsonaro, (este já visto na trupe de Lula em outros carnavais, pego no escândalo do Mensalão, nunca se deve esquecer, políticos trocam de partido e nome, mas o cacique ou cacife, a gente sempre sabe onde moram), trata-se do ex-deputado Roberto Jefferson (Partido Renovação Democrática). Mas é claro que depois o moço “virou cristão”, o curioso é que portava junto, uma porção de metralhadoras, usadas para atacar a Polícia Federal (PF), enquanto junto dele, estava justamente a um dos apoiadores do bolsonarismo, aquele que se dizia “mensageiro de cristo”, o tal Padre Kelmon (PTB), que recentemente se soube, o ex-candidato à presidência, fez uma visita secreta a Bolsonaro, logo após sua derrota para o petista.
Manifestar ou DEMOcratizar ?
Vale esclarecer, um ponto. (Quase) toda a forma de manifestação é mais do que válida, e justa, parte-se desta afirmativa. Entretanto, jamais se pode esquecer, que os mesmo que bradavam o surrado bordão sobre “os meus direitos terminam quando começam o do outro”, ao vislumbrarem os movimentos por vezes completamente justos ou não, perdem o mérito da razão, ao parar universidades, fabricas ou escolas. Pois bem, nessa hora, estes todos, movimentaram um silencio ensurdecedor. Em uma fala bastante sóbria, o Ministro da Justiça e Segurança Pública em exercício, Ricardo Cappelli, definiu o sentimento de algumas pessoas, que parecem ainda confundir, o que classificou como “inaceitável”, e de maneira interessante trouxe uma reflexão contundente:
“Não se confunde manifestação democrática com ataque aos Poderes. Não se confunde manifestação democrática com depredação do patrimônio público, histórico, material e imaterial do Brasil. Passadas as eleições, não interessa em quem você votou”, analisou Cappelli.
Existe a biógrafa Evelyn Beatrice Hall, que ao destrinchar a mente do filósofo francês Voltaire, destila de maneira brilhante a frase, (repetida mil vezes erroneamente) que ele jamais dissera, mas que está tudo bem, a gente aceita e readapta para algo mais cru(el), algo como: mesmo na discordância, há que se defender até a morte o sujeito em sua razão no direito de dizer, seja a merda que for. De qualquer maneira, a referência diz respeito aos ataques recorrentes da igreja católica e liberdade de fala das pessoas na época. Entretanto, em algum momento, isso se transformou em uma coisa tão perigosa, quanto, insidiosa. É como se essa frase tivesse dado as pessoas um condão para que elas pudessem fazer o que bem entendessem, e que tudo se justificasse em nome da dita “liberdade de expressão”, termo totalmente importado de fora, assim também como esse doentio comportamento de manada, visto igualmente, no Capitólio em Washington, nos EUA.
Mas nada disso pôde superar o maior de todos os fiascos que que só poderia culminar no que vimos naquele fatídico dia 8 de janeiro: a choradeira dos quartéis. O cenário trazia pessoas que arriscavam a própria vida, fazendo pernoite em frente a postos militares com seus filhos de colo, e tudo isso em nome do que, de quem, pra quem – pelo que? Enquanto aguardavam ávidos pelas tais “72 horas”, o resto do país assistia tudo atônito pela televisão, esperavam seu líder se recuperar do “baque” de ter sido derrotado nas urnas.
Vale lembrar, até aquele momento o ex-presidente não havia feito sequer uma fala de reconhecimento de sua derrota para Lula nas urnas, ou algo próximo neste sentido. Enquanto isso, o silencio que instaurava, só aumentava ainda mais o clima de insegurança e receio de medo de um possível golpe. Tanto que, posteriormente, a PF encontrou na casa do ex-ministro de Bolsonaro, Anderson Torres, uma minuta — que possivelmente servirá de prova ainda a ser investigada —, para tentar reverter o resultado das urnas.
O cenário daquele momento só serviu para entranhar o perigo de golpe por todos os grupos e redes obscuras da internet de quem estava mais alinhado a bolha bolsonarista. Enquanto isso o país seguia quase que literalmente em chamas, aguardando que para Jair Bolsonaro pudesse ao menos dizer algumas palavras que pudesse acalmar o ânimo dos manifestantes, que naquela altura já nem se podia se chamar dessa maneira. Havia pessoas urinando e defecando, realizando todo o tipo de depredação da maneira mais baixa vil possível. Mais tarde, bem mais tarde, o ex-presidente até tentou, disse algumas palavras quase cifradas quando os caminhões trancaram as estradas do país, mas durante todo o triste 8/1 parece ter assistido de camarote enquanto nossa monarquia estava nua, cuspida e humilhada, e tudo em nome Deus, ou será que foi em nome da pátria?