7 personalidades negras sepultadas nos cemitérios de São Paulo
Alguns dos jazigos possuem visitas mediadas.
- Data: 19/11/2024 18:11
- Alterado: 19/11/2024 18:11
- Autor: redação
- Fonte: Assessoria
Crédito:Divulgação
Na semana em que é celebrado o Dia da Consciência Negra, é essencial lembrar e honrar a memória de personalidades negras que marcaram a história do Brasil. Os cemitérios de São Paulo guardam parte dessa herança, preservando o legado de advogados, artistas, atletas e líderes políticos que enfrentaram desafios e romperam barreiras em busca de igualdade, justiça e reconhecimento.
Para a historiadora Viviane Comunale, esta é uma data importante para refletir e dar voz a essas histórias. “O Dia da Consciência Negra deve ser um momento de reflexão. Cada uma dessas personalidades, em seu tempo, rompeu preconceitos e se destacou por suas qualidades e pela luta por um Brasil melhor. Vivemos em um país onde 56% da população se identifica como negra ou parda, segundo o último censo do IBGE. Precisamos refletir sobre o impacto dessas figuras em nossa sociedade.”
Os jazigos de algumas delas, como de Luís Gama, Mário de Andrade, Emanoel Araújo e Paulo Lauro, podem ser visitados de forma monitorada no cemitério da Consolação, todas as segundas, a partir das 14h. O passeio é realizado com a mediação de Francivaldo Gomes, mais conhecido como Popó, que faz este trabalho no local há mais de 20 anos. Os ingressos são gratuitos e podem ser retirados no site da Sympla.
Confira sete dessas personalidades:
Luís Gama (1830 – 1882)
Advogado, jornalista e escritor, Luís Gama é considerado o maior abolicionista do Brasil. Nascido de mãe negra e pai branco, foi vendido como escravo aos 10 anos e só conquistou sua liberdade aos 17, após alfabetizar-se por conta própria. Dedicou sua vida à causa abolicionista e ao combate da monarquia, libertando centenas de escravizados por meios legais. Em 2018, foi inscrito no Livro de Aço dos Heróis e Heroínas Nacionais. Luís Gama está sepultado no Cemitério da Consolação
Foto divulgação Luís Gama
Mário de Andrade (1893 – 1945)
Foto divulgação Mario de Andrade |
Escritor modernista, folclorista e crítico literário, Mário de Andrade é uma das figuras centrais da Semana de Arte Moderna de 1922 e autor de obras como Pauliceia Desvairada e Macunaíma. Seu legado cultural vai além da literatura, abrangendo estudos sobre a cultura popular brasileira e a preservação do patrimônio histórico. Mário de Andrade também está sepultado no Cemitério da Consolação.
Theodosina Ribeiro (1930 – 2020)
Foto divulgação Theodosina
Primeira mulher negra a ocupar uma vaga de deputada estadual na Assembleia Legislativa de São Paulo e primeira vereadora negra da capital, Theodosina Ribeiro teve uma trajetória marcada pela luta por igualdade racial e direitos das mulheres. Professora, advogada e diretora de escola, destacou-se ao longo de três mandatos legislativos. Theodosina está sepultada no Cemitério Santana (Chora Menino).
Adhemar Ferreira da Silva (1927 – 2001)
Foto divulgação Adhemar
Primeiro bicampeão olímpico do Brasil e recordista mundial do salto triplo, Adhemar Ferreira da Silva foi um dos maiores atletas da história do país. Além do esporte, teve uma carreira acadêmica destacada, atuando como professor e adido cultural. É homenageado com estrelas douradas no escudo do São Paulo Futebol Clube, que representam seus recordes. Adhemar está sepultado no Cemitério Santana (Chora Menino)
Almerinda Farias (1899 – 1999)
Foto divulgação Acervo Arquivo Nacional – Almerinda
Advogada, sindicalista e política, Almerinda Farias Gama foi uma das primeiras mulheres negras a atuar na política brasileira. Nascida em Maceió, mudou-se ainda criança para Belém, onde começou sua trajetória como datilógrafa e cronista. Foi presidente do Sindicato dos Datilógrafos e Taquígrafos e apoiou a campanha de Bertha Lutz na Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Em 1933, foi uma das únicas mulheres na Assembleia Constituinte, representando o Sindicato dos Datilógrafos e Taquígrafos e a Federação do Trabalho. Em sua homenagem, a prefeitura de São Paulo instituiu o Prêmio Almerinda Farias Gama, destinado a iniciativas de comunicação ligadas à defesa da população negra. Almerinda foi sepultada no cemitério Vila Formosa I.
Emanoel Araújo (1940 – 2022)
Artista e curador, Emanoel Araújo destacou-se como escultor, desenhista e diretor de instituições culturais. Fundador e diretor do Museu Afro Brasil, consolidou um espaço dedicado à preservação da herança africana no Brasil. Entre suas conquistas, recebeu uma medalha de ouro na 3ª Bienal Gráfica de Florença e dirigiu a Pinacoteca do Estado de São Paulo (1992-2002). Ele está sepultado no Cemitério da Consolação
Foto Silvia Zamboni
Paulo Lauro (1907 – 1983)
Foto divulgação Folhapress – Paulo Lauro
Primeiro prefeito negro da cidade de São Paulo, Paulo Lauro foi advogado, professor e político. Durante sua gestão (1947-1948), realizou obras importantes como viadutos, mercados e restaurantes populares. Também exerceu mandatos como deputado federal e publicou obras sobre legislação eleitoral. Reconhecido por sua eloquência, destacou-se na advocacia ao defender casos célebres, como o “Crime do Restaurante Chinês”. Até seus últimos dias, trabalhou em seu escritório de advocacia, demonstrando paixão pela profissão. Está sepultado no Cemitério da Consolação.
Essas personalidades exemplificam a força, a criatividade e a resiliência da população negra no Brasil. “São histórias que não apenas inspiram, mas também reforçam a importância da continuidade de lutar por um país mais justo e igualitário. Honrar essas memórias, especialmente na semana da Consciência Negra, é reconhecer a riqueza e o impacto de suas contribuições na construção de nossa história e identidade” ressalta a historiadora Viviane Comunale.