Violência racial é a mais comum contra jovens do sistema socioeducativo, aponta pesquisa
Pesquisa da ONG Visão Mundial entrevistou juízes, promotores, defensores públicos e profissionais da assistência social para mapear os principais obstáculos
- Data: 19/01/2022 11:01
- Alterado: 19/01/2022 11:01
- Autor: Redação
- Fonte: ONG Visão Mundial
Crédito:Divulgação / Visão Mundial Brasil
Pesquisa da ONG Visão Mundial sobre a Política de Atendimento Socioeducativo em Meio Aberto no Brasil, realizada com base em mais de 3,5 mil entrevistas, aponta que a principal forma de violência sofrida por adolescentes que possuem vínculo com o Sistema Socioeducativo é de motivação racial, seguida pela de gênero e a de classe.
Quando questionados sobre as três principais motivações de violências relatadas pelos adolescentes, 13% dos juízes, 12% dos promotores de justiça e 34% dos defensores públicos entrevistados ressaltaram, em primeiro lugar, a violência racial.
Em seguida, a violência de gênero foi citada por 13% dos juízes, 13% dos promotores de justiça e 15% dos defensores públicos, logo à frente da violência de classe, com 8%, 4% e 6% das respostas, respectivamente.
“Entender essas motivações é importante para podermos compreender de que maneira algumas violências que estruturam a nossa sociedade, que estão arraigadas, são expressas em atos contra estes sujeitos, e, também, de que maneira os e as profissionais percebem essa questão”, explica Cibelle Bueno, gerente de projetos da ONG Visão Mundial e coordenadora da pesquisa.
De acordo com a pesquisa, a violência pode ser entendida como a condição de risco a que está exposta esta parcela dos adolescentes e jovens brasileiros, sobretudo, os que estão nas Medidas Socioeducativas em Meio Aberto, cuja potencialização de riscos associada à fragilização da proteção predispõe a estes adolescentes uma condição de vulnerabilidade por vezes implacável e que os expõe, inclusive, à violência letal.
Segundo o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), mais de 42 mil adolescentes foram vítimas de assassinato nos municípios com mais de 100.000 habitantes entre 2013 e 2019. Já de acordo com o levantamento da organização mexicana Segurança, Justiça e Paz, o Brasil e o México estão entre os países mais violentos do mundo. Em ranking produzido pela entidade, em 2019, das 50 cidades mais violentas, dez eram brasileiras. “A juventude vem matando e morrendo em números alarmantes em nosso país”, alerta Cibelle.
Já de acordo com o Atlas da Violência, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os homicídios de jovens entre 15 e 29 anos vem aumentando no Brasil, havendo, em 2017, 35.783 mil mortes – uma taxa de 31,6 por mil habitantes, o maior número da história. Isto representa um aumento de 6,7% dos homicídios de jovens em relação a 2006 e ainda um aumento de 37,5% dos homicídios de jovens em relação a 2007. Além disso, cabe destacar que 75,5% das vítimas de homicídios no Brasil, em 2017, eram pessoas negras.
A partir dos dados do Levantamento Anual do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), 59,08% dos adolescentes são negros (pretos/pardos) e 22,49% brancos, assim como a população carcerária, na qual 61,67% são pessoas negras e 37,22% brancas, segundo dados do Infopen (2019).