Telegram recomenda conteúdo extremista, aponta estudo

Pesquisa do SPLC revela que algoritmo do Telegram direciona usuários para canais radicais, mesmo em buscas inocentes

  • Data: 17/12/2024 15:12
  • Alterado: 17/12/2024 15:12
  • Autor: Redação
  • Fonte: Folha
Telegram recomenda conteúdo extremista, aponta estudo

Crédito:Marcello Casal Jr/Agência Brasil

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Um estudo recente realizado pelo Southern Poverty Law Center (SPLC), entidade americana voltada à defesa dos direitos civis, trouxe à luz preocupações sobre a plataforma de mensagens Telegram. De acordo com a pesquisa, o algoritmo da rede social tende a recomendar canais de conteúdo extremista, mesmo para usuários que estão navegando em tópicos aparentemente inofensivos, como celebridades e tecnologia.

O impacto do recurso “canais similares”

O relatório, intitulado “As Recomendações Tóxicas do Telegram”, analisou cerca de 28 mil canais e revelou que o recurso “canais similares”, introduzido no ano passado, frequentemente direciona usuários a conteúdos radicais. Um professor demonstrou à BBC como, em questão de minutos, conseguiu acessar uma oferta para a venda de uma submetralhadora, disponível por 850 libras esterlinas (aproximadamente R$ 6.600).

Em resposta às alegações, o Telegram afirmou que os usuários apenas recebem conteúdo que decidiram seguir e que realiza a remoção de milhões de itens prejudiciais diariamente. Contudo, o fundador da plataforma, Pavel Durov, um bilionário russo, está sob investigação na França por supostamente não conseguir conter o uso da aplicação para atividades criminosas. Ele nega todas as acusações.

Plataforma alimenta teorias da conspiração e grupos radicais

Com uma base de um bilhão de usuários e grupos que podem conter até 200 mil membros, o Telegram se destaca por seu foco em privacidade e sigilo. Entretanto, a pesquisa do SPLC sugere que mesmo usuários que buscam por conteúdos triviais são levados a recomendações extremistas. Aqueles já interessados em teorias da conspiração antigovernamentais são frequentemente expostos a grupos ainda mais radicais, incluindo conteúdos antissemitas e nacionalistas brancos.

Megan Squire, pesquisadora-chefe da SPLC, realizou uma demonstração onde buscou por “Donald Trump” em uma conta nova no Telegram. As recomendações logo incluíram canais relacionados à teoria da conspiração Q-Anon, que afirma falsamente que Trump está envolvido em uma guerra secreta contra pedófilos na elite política e midiática.

Telegram como um “refúgio” para extremistas

Outro exemplo notável ocorreu quando Squire pesquisou “revoltas no Reino Unido”, resultando em um meme de Adolf Hitler como primeira sugestão e subsequentemente levando a canais operados por grupos radicais de direita. Segundo Squire, muitos desses grupos são ativos na plataforma e incentivam seus membros a participar de eventos presenciais.

Após um ataque com faca em Southport em agosto, que provocou agitações no Reino Unido, usuários do Telegram foram alguns dos primeiros a convocar protestos através da disseminação de informações falsas sobre o agressor.

Squire caracterizou o Telegram como uma “ameaça digital”, afirmando que seu impacto é significativo: “Em uma escala de um a dez, eu diria que é um 11. A plataforma distribui grandes quantidades de conteúdo criminoso e extremista”.

Investigações contra Pavel Durov e a moderação de conteúdo

Elies Campo, ex-funcionário do Telegram que esteve no círculo decisório por seis anos, relatou à BBC que abordou Durov sobre questões relacionadas ao conteúdo extremista em 2021. Segundo Campo, Durov demonstrou resistência em alocar recursos para moderar esse tipo de conteúdo.

David Maimon, professor da Georgia State University e especialista em conteúdo ilegal no Telegram, também comentou sobre a prevalência do uso da plataforma por criminosos para diversas atividades ilegais. Ele ilustrou como rapidamente encontrou vendedores oferecendo armas após postar um pedido na plataforma.

As autoridades francesas acusam Durov de envolvimento em tráfico de drogas e outras atividades ilícitas associadas ao uso do Telegram. Atualmente ele está sob fiança na França e não pode deixar o país.

Desafios para a moderação e combate a crimes

Embora o Telegram afirme levar a sério a moderação de conteúdo extremista e ilegal, enfatizando sua política de não injetar ou promover conteúdos indesejados, as descobertas do SPLC levantam sérias questões sobre a eficácia das medidas implementadas pela plataforma.

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  • Data: 17/12/2024 03:12
  • Alterado:17/12/2024 15:12
  • Autor: Redação
  • Fonte: Folha









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