Setembro amarelo: como apoiar quem fica
Anualmente, mais pessoas morrem por suicídio do que por HIV, malária, câncer de mama, guerra e homicídio
- Data: 14/09/2024 18:09
- Alterado: 14/09/2024 18:09
- Autor: Redação
- Fonte: Assessoria
Crédito:Divulgação
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é uma das principais causas de morte no mundo, sendo responsável por um a cada 100 óbitos. Anualmente, mais pessoas morrem por suicídio do que por HIV, malária, câncer de mama, guerra e homicídio. Ele também é a quarta causa de morte no mundo entre jovens de 15 a 29 anos, depois de acidentes de trânsito, tuberculose e violência interpessoal.
Os números são alarmantes e é cada vez mais necessário falar com responsabilidade sobre os cuidados com quem fica, como amigos, parceiros, familiares e colegas de trabalho ou escolas, por exemplo. “O luto por suicídio tem uma complexidade emocional diferente por conta do estigma social e da maior carga de culpa. Além da dor, pode trazer sentimentos de raiva e confusão”, explica a psicóloga e psicanalista Ana Volpe, membro-filiada da Sociedade Brasileira de Psicanálise de SP.
Segundo a profissional, quem fica pode se sentir furioso com a pessoa que cometeu suicídio, se perguntando os motivos que levaram a isso. “A confusão em torno dos motivos e a falta de respostas podem prolongar o processo de luto e dificultar a aceitação”, diz.
O suporte adequado para os enlutados por suicídio é fundamental, assim como um ambiente onde possam expressar livremente sua dor sem julgamento. Para a psicóloga e psicanalista, redes de apoio emocional e cuidados especializados em saúde mental são cruciais para ajudar no processo de cura.
“É muito importante reconhecer que o suicídio de uma pessoa querida muitas vezes está além do controle de qualquer um. Quem comete suicídio geralmente está passando por um profundo sofrimento psicológico e as motivações costumam ser complexas e difíceis de entender. Reconhecer que você fez o que podia com as informações e recursos que tinha no momento é um passo importante para aliviar o peso da culpa”, afirma a profissional.
Tratar o assunto com jovens e crianças requer sensibilidade e clareza
O suicídio é um importante problema de saúde pública, com impactos na sociedade como um todo e o fenômeno pode afetar indivíduos de diferentes origens, sexos, culturas, classes sociais e idades. Segundo dados de 2022 da Secretaria de Vigilância em Saúde, entre 2016 e 2021 houve um aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade de adolescentes de 15 a 19 anos, chegando a 6,6 por 100 mil, e de 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, chegando a 1,33 por 100 mil.
“Sensibilidade, clareza e adaptação à idade são fundamentais para falar sobre suicídio com crianças e adolescentes. Validar os sentimentos, responder a perguntas e garantir que eles não se sintam culpados são passos essenciais. A presença contínua e o apoio profissional podem ajudar esses jovens a processar a perda e encontrar um caminho saudável para lidar com o luto”, exemplifica Ana.
Outro ponto importante no apoio para quem convive com este tipo de perda é ajudar a desmistificar falsas ideias que quem morre por suicídio é egoísta ou fraco. Nestes casos, o estigma social costuma ser um grande fator de isolamento e vergonha, dificultando o processo do luto e busca por ajuda.
“O suicídio é, na maior parte dos casos, resultado de sofrimento mental intenso e não de uma escolha deliberada ou falta de força de vontade. Uma estratégia eficaz em muitas situações como esta é valorizar os momentos positivos e as lembranças da vida da pessoa querida. Isso pode ajudar a suavizar a dor e honrar a memória da pessoa redirecionando a energia emocional da culpa para a celebração do vínculo compartilhado”, finaliza a especialista.
Três orientações importantes para o suporte de quem fica
Incentivar a participação em grupos de apoio
Falar sobre os sentimentos pode ajudar a normalizar a experiência e evitar o isolamento emocional. Muitas pessoas que perderam entes queridos por suicídio enfrentam as mesmas emoções e os grupos de apoio podem ser uma boa opção.
Conversas sem julgamento
O silêncio em torno do suicídio aumenta o estigma. Falar abertamente, com compaixão e sem culpar os envolvidos, ajuda a humanizar a experiência e a mostrar que outras pessoas podem estar passando por situações semelhantes.
Atenção à hipervigilância
O medo de que outras pessoas próximas possam tomar a mesma decisão pode gerar uma hipervigilância em quem está passando pelo luto. Se a preocupação em relação a familiares ou amigos está excessiva, hora de buscar ajuda para enfrentar a situação.