Sem citar nomes, ex-porta-voz Rêgo Barros critica Bolsonaro em artigo

O ex-porta-voz da Presidência Otávio do Rêgo Barros fez uma série de críticas indiretas ao presidente Bolsonaro, em artigo publicado nessa terça-feira, 27, no jornal Correio Braziliense

  • Data: 28/10/2020 11:10
  • Alterado: 28/10/2020 11:10
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo
Sem citar nomes, ex-porta-voz Rêgo Barros critica Bolsonaro em artigo

Rego Barros

Crédito:Valter Campanato/Agência Brasil

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O artigo tem o título  “Memento Mori“, expressão latina que significa algo como “Lembre-se de que você é mortal“.

Sem citar o nome do presidente, Rêgo Barros afirmou que o poder “inebria, corrompe e destrói”. Ele também criticou auxiliares presidenciais que se comportam como “seguidores subservientes”. “Os líderes atuais, após alcançarem suas vitórias nos coliseus eleitorais, são tragados pelos comentários babosos dos que o cercam ou pelas demonstrações alucinadas de seguidores de ocasião”, escreveu Rêgo Barros.

A saída de Rêgo Barros do cargo de porta-voz da Presidência foi anunciada em agosto, depois de meses de isolamento, e oficializada em outubro. Desde o início do ano, ele deixou de fazer os briefings quase diários à imprensa no Palácio do Planalto para responder a questionamentos de jornalistas. Os encontros acabaram substituídos por falas do próprio presidente na entrada e saída do Palácio da Alvorada. Com isso, o porta-voz ficou ainda mais esvaziado e sem função definida internamente.

No ano passado, o porta-voz passou a ser alvo de críticas de um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), por organizar cafés da manhã com jornalistas periodicamente. Na visão de Carlos, os encontros serviam para prejudicar o pai.

As reuniões também viraram foco de conflito com a chegada do secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, em abril de 2019. O secretário apresentava uma série de divergências à estratégia adotada por Rêgo Barros. Com a reformulação da estrutura do Palácio do Planalto, no ano passado Rêgo Barros deixou a Secom e ficou subordinado à Secretaria de Governo.

“O escravo se coloca ao lado do galardoado chefe, o faz recordar-se de sua natureza humana. A ovação de autoridades, de gente crédula e de muitos aduladores, poderá toldar-lhe o senso de realidade. Infelizmente, nos deparamos hoje com posturas que ofendem àqueles costumes romanos”, escreveu o ex-porta-voz do governo, com diversas referências ao Império Romano.

É doloroso perceber que os projetos apresentados nas campanhas eleitorais, com vistas a convencer-nos a depositar nosso voto nas urnas eletrônicas, são meras peças publicitárias, talhadas para aquele momento. Valem tanto quanto uma nota de sete reais. Tão logo o mandato se inicia, aqueles planos são paulatinamente esquecidos diante das dificuldades políticas por implementá-los ou mesmo por outros mesquinhos interesses”, escreveu Rêgo Barros.

Segundo o ex-porta-voz, “os assessores leais – escravos modernos – que sussurram os conselhos de humildade e bom senso aos eleitos chegam a ficar roucos”. Em seguida, ele passou a criticar os auxiliares que concordam com tudo. Alguns deixam de ser respeitados. Outros, abandonados ao longo do caminho, feridos pelas intrigas palacianas. O restante, por sobrevivência assume uma confortável mudez. São esses, seguidores subservientes que não praticam, por interesses pessoais, a discordância leal.” Como mostrou o Estadão, a ala militar do governo optou por se manter em silêncio diante da decisão do chefe do Executivo de se aliar ao velho Centrão.

A população, como árbitro supremo da atividade política, será obrigada a demarcar um rio Rubicão cuja ilegal transposição por um governante piromaníaco será rigorosamente punida pela sociedade. Por fim, assumindo o papel de escravo romano, ela deverá sussurrar aos ouvidos dos políticos que lhes mereceram seu voto: – “Lembra-te da próxima eleição!”, escreve ainda Rêgo Barros, que termina o artigo com a saudação: “Paz e bem!”.

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