Selton Mello: ‘Aprendi cedo que, hoje, você é o cara e, amanhã, não é mais’

Com três filmes para estrear, ator fala sobre a carreira, a vida e o livro em que responde às questões de colegas e aborda depressão e sofrimento de ver a mãe com Alzheimer

  • Data: 05/12/2023 09:12
  • Alterado: 05/12/2023 09:12
  • Autor: Redação
  • Fonte: Estadão Conteúdo
Selton Mello: ‘Aprendi cedo que, hoje, você é o cara e, amanhã, não é mais’

Selton Mello

Crédito:Maurício Nahas

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Trabalho, trabalho, trabalho. Selton Mello confirma que, sim, o trabalho move a sua vida, é o lugar em que deposita tudo, dores, amor, medos e fragilidades. Não sobrou tempo para se dedicar com intensidade a outros territórios da vida. E se são quase 51 anos de idade – ele faz aniversário no dia 30 -, 40 deles foram de suor no rosto.

Tudo começou com a vontade de cantar em programas de auditório, vieram os comerciais, testes para integrar os grupos Balão Mágico e Dominó e, claro, as novelas, os filmes. “Às vezes, me dá vontade de parar, de seguir o exemplo do Daniel Day-Lewis”, diz. “É um cansaço de 40 anos de labuta, se me perguntam o que eu fiz aos 20 e poucos, só me lembro de estar em um set, lembro pouco de praias, viagens, mas é uma coisa que estou mudando”, diz.

Desafio

Para celebrar a vida e as conquistas, o artista propôs uma festa diferente, para ele, seus amigos e seu público, uma autobiografia, Eu me Lembro, já nas livrarias. Só que Mello não se sentou e escreveu um livro. Ele convidou 40 pessoas – “fabulosos terapeutas”, define – para lhe fazer perguntas e desafiá-lo a abrir memórias, vasculhar a intimidade sempre camuflada.

Tem das atrizes Débora Falabella, Marjorie Estiano, Larissa Manoela e Fernanda Montenegro ao cantor Moacyr Franco, passando pelos colegas Fábio Assunção, Wagner Moura, Lázaro Ramos, Johnny Massaro e Rodrigo Santoro, o jornalista Pedro Bial e o ex-jogador de futebol Raí. Fernanda Torres, Tonico Pereira, Matheus Nachtergaele e o irmão, Danton Mello, não perguntaram nada, mas mandaram cartas.

Entre as surpresas aparecem a atriz Alice Wegmann, que arranca confissões sobre a dependência do ator em relação aos inibidores de apetite e os efeitos depressivos gerados pelos remédios que o acompanharam desde jovem. Um dia, no começo da adolescência, ele ouviu de alguém nos bastidores: “Você é um baita ator, mas não vai engordar, hein?”. O comentário ficou na cabeça e o abuso da medicação fugiu do controle nas filmagens de Jean Charles (2008) quando atingiu 120 quilos.

Mas Eu me Lembro, o livro, tem uma motivação pessoal que vai além da celebração. Desde o começo da carreira, dona Selva, sua mãe, de 81 anos, foi a sua memória viva, sabendo de cor as histórias de cada trabalho, guardando reportagens sobre o filho prodígio. Há uma década, ela convive com o Alzheimer e perdeu fala, movimentos e visão.

“Não admito colocá-la em um lar de repouso, quero que minha mãe tenha essa passagem da vida na casa dela, onde tem as plantinhas dela”, afirma. “Esse livro é uma experiência ligada à falta de memória da minha mãe, que me fez pegar o bastão do guardião das lembranças da família.”

Riso

Mello reforça a importância do pai, o bancário aposentado Dalton homem abençoado pela leveza, de quem herdou tudo o que chamam de “riso”.

Desde os 9 ou 10 anos, Mello contribuía para o orçamento familiar com as participações em publicidade e trabalhos artísticos, como as novelas Dona Santa (1982) e Braço de Ferro (1983), na Band. Um telefonema de um produtor da Globo fez a família deixar São Paulo. “Todo mundo se foi para o Rio investir na minha carreira.”

Entre 1984 e 1985, o garoto conheceu a fama nacional em uma novela das oito, Corpo a Corpo, e, depois disso, amargou sete anos fora da TV. “Foi o momento mais duro da minha vida, porque tinha sido amputado na minha capacidade de atuar”, revela.

Escalado para a novela Pedra Sobre Pedra (1992), Mello achou que não conseguiria trabalhar, tinha medo e chorava. “Aprendi cedo que, hoje, você é o cara e, amanhã, não é mais, então, fui para a vida adulta sabendo o que ia encontrar”, confessa.

Nesta altura do campeonato, Mello celebra o privilégio de só aceitar os projetos que deseja muito fazer. “Médio prazer nem cabe mais, agora é só altíssimo prazer para me levar de novo a algum lugar”, avisa. Nas páginas do livro, fica claro que o Selton menino era muito parecido com o Selton maduro, artista consagrado, realizador de belos longas, como Feliz Natal (2008), O Palhaço (2011) e O Filme da Minha Vida (2017), que aprendeu a administrar as angústias e topou agora desvendar um pouco de sua intimidade.

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  • Data: 05/12/2023 09:12
  • Alterado:05/12/2023 09:12
  • Autor: Redação
  • Fonte: Estadão Conteúdo









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