Se fazem isso comigo, podem fazer com todo mundo, diz Trump após condenação
Trump se tornar o primeiro ex-presidente americano condenado em ação criminal na história dos Estados Unidos
- Data: 31/05/2024 13:05
- Alterado: 31/05/2024 17:05
- Autor: Redação
- Fonte: FOLHAPRESS
Crédito:Reprodução
Um dia depois de se tornar o primeiro ex-presidente americano condenado em uma ação criminal na história dos Estados Unidos, Donald Trump afirmou ser alvo de perseguição no momento em que tenta voltar à Casa Branca. Ele disse que vai recorrer da decisão.
“Se eles podem fazer isso comigo, podem fazer isso com qualquer um”, afirmou o republicano em um pronunciamento de 33 minutos à imprensa na Trump Tower, em Nova York, antes de falar sobre temas que são caros ao seu eleitorado, como migração, impostos e violência.
Como esperado, Trump, 77, negou ter cometido qualquer crime e afirmou que o processo foi politicamente motivado. “São pessoas ruins. Em muitos casos, eu acredito, são pessoas doentes”, disse ele sobre os responsáveis pelo caso.
Nesta quinta-feira (30), um júri formado por 12 pessoas na Corte Criminal de Manhattan, em Nova York, considerou o empresário culpado das 34 acusações de falsificação de registros empresariais para encobrir pagamentos à atriz pornô Stormy Daniels e, assim, evitar que ela divulgasse as supostas relações sexuais que teve com Trump às vésperas da eleição de 2016.
A sentença será anunciada pelo juiz Juan Merchan no dia 11 de julho.
“Isso tudo foi feito por [Joe] Biden e seu grupo”, afirmou Trump, citando o atual presidente americano, ao criticar a decisão, sem apresentar provas para tal acusação. “Eu sou o presidenciável líder [nas pesquisas] e estou sob uma ordem de silêncio dada por um homem que não consegue juntar duas frases.”
O republicano se referia a uma decisão de Merchan que impôs multas ao ex-presidente por violar uma ordem de silêncio que o impedia de criticar envolvidos no julgamento criminal. Durante o processo, Trump chamou seu ex-advogado Michael Cohen de “mentiroso em série” e endossou, sem provas, acusações de que o tribunal estava selecionando, para o júri, “ativistas progressistas infiltrados que mentem”.
Cohen foi a principal testemunha da acusação. No depoimento que deu à corte no caso, o advogado disse que seguiu ordens diretas de Trump ao pagar pelo silêncio de Daniels.
Ao falar sobre o que considerou injustiças durante o processo, Trump afirmou que algumas testemunhas que estavam do seu lado foram “literalmente crucificadas” por “esse homem”, provavelmente referindo-se a Merchan, “que parece um anjo, mas é um demônio”.
A testemunha que, segundo o republicano, “atravessou o inferno” é possivelmente o advogado Robert Costello, que foi repreendido por Merchan ao reclamar de objeções dos promotores e discussões entre os advogados e o juiz no tribunal.
Trump afirmou ainda que queria testemunhar em sua própria defesa, mas que acabou optando por não fazê-lo depois de concluir que teria enfrentado muitas perguntas para pegá-lo em uma mentira. “Eu gostaria de ter testemunhado, mas diria algo como, ‘era um dia bonito e ensolarado,’ quando, na verdade, estava chovendo”, afirmou.
Trump alegou também que as despesas pagas por ele eram legais. “Esse foi o crime que eu cometi”, afirmou ele. “Quando há crimes violentos em toda a cidade em níveis nunca vistos antes”, afirmou, em uma das várias declarações falsas que deu ao longo do pronunciamento.
Em seu depoimento, Cohen afirmou que Trump autorizou pessoalmente o pagamento de US$ 130 mil a Daniels e foi reembolsado posteriormente. Falsificar documentos comerciais é considerado um delito leve em Nova York, mas os promotores de Manhattan elevaram o caso para um crime grave sob a alegação de que Trump estava ocultando uma contribuição ilegal de campanha.
“Não podemos deixar isso acontecer com outro presidente, isso nunca pode voltar a acontecer no futuro. Isso é maior do que eu, Trump, maior do que a minha Presidência”, afirmou o republicano pouco depois de agradecer aos apoiadores que estavam do lado de fora da Trump Tower, onde também se concentravam críticos para comemorar a decisão de quinta.
Biden criticou o pronunciamento nesta sexta. “É imprudente, perigoso e irresponsável alguém dizer que um caso foi manipulado só porque não gostou do veredicto”, disse ele. “Donald Trump teve todas as oportunidades para se defender”, continuou, ao afirmar que o veredicto foi entregue por “um júri de 12 cidadãos, 12 americanos, 12 pessoas como você”.
No discurso de Trump, as críticas ao julgamento foram intercaladas com sua conhecida retórica anti-imigração e com afirmações sem comprovação.
“Milhões e milhões de pessoas estão vindo de todas as partes do mundo, não apenas da América do Sul. Da África, da Ásia, do Oriente Médio. E elas estão vindo de prisões, hospitais psiquiátricos e manicômios”, afirmou o republicano contrariando as próprias autoridades de imigração dos EUA, que afirmam que a maioria dos migrantes integra famílias em situação de vulnerabilidade escapando da pobreza e da violência.
“Nós temos um presidente e um grupo de fascistas que não querem fazer nada a esse respeito. Eles poderiam interromper isso agora, mas não o fazem. Estão destruindo o nosso país”, afirmou Trump sobre o governo Biden.
Também sem apresentar qualquer evidência, o ex-presidente afirmou que as crianças americanas não podem mais jogar beisebol porque há acampamentos de migrantes nos campos. “Isso é o de menos. Os migrantes estão tomando conta dos nossos hotéis de luxo, e os nossos grandes veteranos vivem nas ruas como cães”, disse ele.
Várias emissoras interromperam a transmissão do discurso quando Trump começou a dar declarações enganosas. A CNN transmitiu Trump por 18 minutos antes de passar para um segmento de checagem de fatos. Já a NBC interrompeu a transmissão com 20 minutos. “Nos disseram que isso seria uma entrevista coletica”, disse o apresentador Lester Holat antes de chamar dois analistas jurídicos para checar os comentários. A Fox News transmitiu a aparição de Trump na íntegra.
Embora tenha anunciado uma entrevista coletiva, Trump fez um pronunciamento, sem dar espaço para perguntas dos jornalistas presentes. Ele concluiu seus comentários sugerindo que o único julgamento que importava para ele era o nas urnas.
“Vamos continuar a luta. Vamos fazer a América grande de novo”, disse o republicano. “Lembre-se, 5 de novembro é o dia mais importante na história de nosso país.”