Protesto em Copacabana cobra elucidação de crimes contra crianças durante operações
Quatorze caixões brancos cobertos com bandeiras do Brasil foram colocados na areia e no calçadão da praia de Copacabana, em frente ao hotel Copacabana Palace
- Data: 19/08/2023 17:08
- Alterado: 19/08/2023 17:08
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Divulgação/Rio de Paz
A família de Thiago Flausino, de 13 anos, morto a tiros durante uma ação policial na Cidade de Deus, na zona oeste, no último dia 7, se uniu a moradores da comunidade e integrantes da ONG Rio da Paz para pedir justiça pelo jovem e por outras 13 crianças e adolescentes mortas em operações policiais em favelas do Rio desde o ano passado.
A atriz Malu Mader e o músico Tony Belloto participaram da caminhada pela Avenida Atlântica até a Avenida Princesa Isabel. A manifestação ocorreu 12 dias depois de o menino ter sido morto. Quatro policiais que participaram da operação foram afastados e o caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital.
“Ele não vai voltar mais, ninguém vai trazer o meu filho de volta”, afirmou Priscila Mendes, mãe de Thiago. “Mas a gente vai continuar lutando para que isso não fique impune.”
“Não tem dor maior do que essa, você ter um filho morto, um filho assassinado, eventualmente assassinado pela polícia, que existe para nos proteger”, afirmou a atriz Malu Mader. “É uma tragédia que passa de todos os limites, não é um caso isolado, são muitos casos. Então acredito que possa haver, sim, uma iniciativa, uma ação qualquer da sociedade, para chamar atenção para isso para que as autoridades tomem alguma atitude concreta em relação a isso.”
O presidente da Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, lembrou que os crimes nas comunidades costumam ficar impunes.
“Eles vieram para Copacabana na esperança de serem ouvidos aqui. Porque eles não acreditam que seriam ouvidos dentro da comunidade pobre. É mais uma injustiça acrescentada a essa sucessão de injustiças que se abateu sobre essa comunidade. É gente ignorada pelo poder público, que não foi capaz de proteger o bem mais precioso dessa família, um filho”, afirmou Costa.
“Essas mortes ocorrem predominantemente em favelas, mais de 90% dos casos. A autoria dos homicídios nunca é elucidada, a justiça nunca é feita. Como pode a polícia entrar numa comunidade e, de tão obcecada pela prisão ou morte do bandido, se esquecer de que está mandando tiro para dentro de áreas densamente povoadas, nas quais, em moradias precárias, moram seres humanos, entre os quais crianças?”
Uma faixa de dez metros com a frase “Rio 2022/2023: 14 crianças pobres mortas por bala perdida” foi levada por parentes e amigos de Thiago até a Lagoa Rodrigo de Freitas, também na zona sul. Uma placa com o nome de Thiago foi acrescentada ao mural em homenagem às vítimas da violência no Rio.
Na última quinta-feira, cerca de 16 famílias de crianças e adolescentes mortos em operação policiais fizeram uma outra manifestação em frente ao Palácio Guanabara, em Laranjeiras, na zona sul, sede oficial do Governo do Estado. Organizada por parentes de vítimas da violência do Estado, a manifestação teve como objetivo chamar atenção do governador Cláudio Castro e de outros gestores para a segurança pública da cidade.