Popularização do home office molda novo perfil de trânsito em São Paulo
Muitos motoristas estão antecipando suas saídas para as quintas-feiras ou adiando a volta para as noites de segunda-feira ou até mesmo para terça-feira.
- Data: 05/01/2025 13:01
- Alterado: 05/01/2025 13:01
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: FOLHAPRESS
Crédito:Renato S.Cerqueira/futurapress
A dentista Michele Pinheiro, de 43 anos, reside em Jundiaí, uma cidade situada a aproximadamente 60 km da capital paulista, mas mantém seu consultório na zona sul de São Paulo, em Santo Amaro. Desde 2017, ela realiza o trajeto de carro às terças, quartas e quintas-feiras pela rodovia dos Bandeirantes. Contudo, nos últimos tempos, Michele tem enfrentado um aumento significativo no tempo de deslocamento até seu local de trabalho.
O panorama do trânsito nas estradas que levam à cidade de São Paulo sofreu alterações notáveis após a pandemia de Covid-19, conforme relatado pela gestão das principais rodovias do estado. Os congestionamentos nos trechos finais das rodovias que convergem para a capital, que anteriormente eram mais intensos às segundas e sextas-feiras, agora apresentam uma redução considerável nos dois primeiros dias úteis da semana. Apesar disso, ainda persistem longas filas de veículos e caminhões, com duração média de quatro horas.
Rodovias como a Anhanguera, Bandeirantes e Castelo Branco mostraram mudanças significativas nos horários de pico. Até 2019, a lentidão nas segundas e terças se estendia até o meio-dia. Hoje, segundo dados da CCR Rodovias, que gerencia essas estradas, o tráfego intenso nesses dias geralmente é observado até as 10h.
Nos dias de quarta e quinta-feira, a fluidez que antes começava às 14h agora inicia-se duas horas antes. Nas sextas-feiras, o comportamento do tráfego se assemelha ao observado nas quartas e quintas, embora com um volume ligeiramente menor de veículos, conforme apontou a concessionária.
Ciro Biderman, coordenador do FGVCidades, atribui essa redução na pressão do trânsito às mudanças trazidas pelo trabalho remoto e pelo ensino a distância: “A diminuição dos congestionamentos às segundas e sextas é uma consequência direta dessas novas modalidades de trabalho.”
A dinâmica do tráfego nas rodovias da região metropolitana de São Paulo é caracterizada por deslocamentos típicos casa-trabalho, especialmente no caso dos veículos leves. Essa realidade sofreu profundas transformações nos últimos cinco anos devido à pandemia, que alterou os padrões de deslocamento em decorrência da adoção de jornadas híbridas nas empresas e da migração de pessoas para municípios do interior.
Fernando Ferreira, gerente de operações da Ecovias e Ecopistas, observou que muitos motoristas estão antecipando suas saídas para as quintas-feiras ou adiando a volta para as noites de segunda-feira ou até mesmo para terça-feira. Essas concessionárias administram as rotas que ligam São Paulo à Baixada Santista e ao litoral norte.
De acordo com Ferreira, motoristas que costumavam deixar a cidade na sexta-feira à tarde agora optam por partir na quinta-feira após o almoço. Embora o retorno seja massivo aos domingos, há um número crescente de veículos retornando nas segundas-feiras devido à flexibilidade no trabalho.
O fluxo de veículos pela Raposo Tavares apresenta características urbanas com semáforos e tráfego localizado. O maior movimento na chegada à capital ocorre nas segundas-feiras entre 6h e 10h30, segundo dados do Departamento de Estradas e Rodagens (DER). O órgão ressalta que o elevado número de trabalhadores vindos de cidades vizinhas contribui para um tráfego mais lento devido ao grande número de acessos diretos à rodovia.
Além disso, as obras em andamento na Grande São Paulo até março do próximo ano na rodovia Presidente Dutra dificultam comparações diretas sobre o fluxo viário.
A Necessidade de Paciência
Embora os índices atuais sejam inferiores aos níveis registrados antes da pandemia – como observado na Raposo Tavares com cerca de 1,1 milhão de veículos em circulação em outubro passado contra 1,4 milhão no mesmo mês em 2019 – a sensação da dentista Michele é que os congestionamentos estão aumentando.
“Antes eu saía às 7h e chegava ao consultório às 8h30. Agora chego por volta das 9h40 ou quase às 10h”, relata ela.
Dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) revelam que até novembro deste ano houve um crescimento acumulado de 2,8% no tráfego nas rodovias paulistas. No acumulado em 12 meses, o aumento foi de 2,6%.
Esses indicadores são parte do Monitor de Tráfego de Rodovias divulgado em novembro. As informações são coletadas por meio de tags da empresa Veloe instaladas em veículos que passam por praças de pedágio no estado. A pesquisa não disponibiliza números absolutos.
Bruno Oliva, economista da Fipe, sugere que a recuperação econômica está refletindo esses aumentos percentuais. No segmento dos veículos pesados, como caminhões, o índice cresceu 5,8% até o momento neste ano.
Oliva explica: “São Paulo não apenas é um grande centro consumidor; também integra rotas essenciais para caminhões que se dirigem ao Norte e Sul do país.”
No segmento dos veículos leves, cuja taxa cresceu 2,2% no acumulado dos últimos 12 meses, ele observa que o aumento na renda da população contribuiu para uma maior utilização dos automóveis – em média, cerca de 1.200 veículos novos circulam pelas ruas paulistanas diariamente.
Michele compartilha sua percepção sobre a situação atual: “Pode ser uma impressão minha, mas notei que o trânsito só piora em São Paulo; isso se aplica tanto à cidade quanto ao acesso final pela Bandeirantes.”