Poluição do ar em São Paulo esteve acima dos limites ideais mesmo no auge da pandemia
Grupo da USP analisou indicadores de poluição do ar na Região Metropolitana de São Paulo entre os invernos de 2019 e de 2020
- Data: 27/11/2023 13:11
- Alterado: 27/11/2023 15:11
- Autor: Rodilei Morais
- Fonte: Agência FAPESP
Crédito:Arquivo/Agência Brasil
Um estudo publicado por pesquisadores da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP) revelou que, mesmo nos dias de maior isolamento social durante a pandemia de COVID-19, a qualidade do ar na região metropolitana da capital paulista esteve abaixo do padrão estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com os resultados obtidos pelo grupo coordenado pela pesquisadora Regina Maura de Miranda, em 75 dias entres os invernos de 2019 e 2020, as médias diárias dos indicadores de poluição atmosférica excederam os limites desejáveis — superando os padrões exigidos pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e ficando ainda mais distantes dos que a OMS indica.
“Em relação ao material particulado, foco do nosso estudo, verificamos que a situação tende a se agravar nos meses de inverno, quando ocorrem queimadas no interior do estado, em outras regiões do país e até em outros países, como Bolívia e Paraguai,” afirma a professora da USP. Segundo ela, a forma com que o ar circula na atmosfera sobre a América do Sul cria condições para que essa poluição chegue próxima à superfície da cidade de São Paulo. “Nesses períodos, há maior contribuição de partículas com diâmetros menores, que interagem mais eficientemente com a radiação solar, intensificando o seu efeito climático e impactando a saúde humana”, explica.
Poluição do ar faz o dia virar noite
Este é o motivo pelo qual o céu ficou escuro no dia 19 de agosto de 2019, dia que ficou marcado na memória de cidadãos paulistanos — quando nuvens deste material fizeram com que o meio da tarde já parecesse noite. Mas, se em eventos extremos como este, a poluição atmosférica é visível aos olhos, os pesquisadores se surpreenderam ao encontrar que, mesmo quando a circulação de veículos pela Região Metropolitana de São Paulo era mínima em decorrência da pandemia, a qualidade do ar ainda esteve abaixo do ideal.
“O período estudado foi, de certa forma, atípico, porque, no auge da pandemia, houve uma redução drástica na emissão de poluentes. Mesmo assim, as recomendações da OMS foram ultrapassadas,” comenta Regina. O estudo focou na presença do material particulado fino, conhecido MP2,5 — por englobar partículas com diâmetro inferior a 2,5 micrômetros. A concentração destas partículas foi obtida a partir de medições realizadas a cada 60 segundos, possibilitando o cálculo da média em cada dia. Em 75 ocasiões, o valor diário superou os padrões da OMS.
Para entender o que compõe esse material, os cientistas utilizaram um modelo de análise de dados ambientais, identificando quatro fontes principais. Os veículos pesados aparecem em primeiro, respondendo por 42% das partículas; ele é seguido pela poeira do solo (38,7%), veículos leves (9,9%) e fontes locais (8,6%). Nesta última categoria, os pesquisadores englobam emissões industriais e material proveniente de queimadas.
“Durante o período seco, principalmente entre julho e outubro, a queima de biomassa no Brasil Central e interior paulista libera grandes quantidades de gases e partículas. Levados por processos turbulentos gerados pelas queimadas a camadas relativamente elevadas da atmosfera, esses gases e partículas são conduzidos pelos ventos, podendo alcançar a Região Metropolitana de São Paulo, como se deu de forma explícita em agosto de 2019”, explica a pesquisadora.
Os resultados do estudo foram publicados na revista científica Atmosphere.